Lembra quando a gente conseguia ver um filme inteiro sem pausar pra olhar o celular? Ou terminar um livro sem “dar só uma checadinha” no WhatsApp? Pois é. Já era. Hoje, se não tem estímulo a cada 3 segundos, o cérebro buga.
E não é só papo de tio reclamando do TikTok. Um estudo chinês publicado na NeuroImage mostrou que ficar vidrado em vídeos curtos ativa no cérebro os mesmos circuitos de recompensa de vícios como álcool e jogo de azar. Traduzindo: seu cérebro reage a um Reels de 15 segundos mais ou menos como reagiria a uma caipirinha ou a uma ficha no cassino.
O professor Qiang Wang, que liderou a pesquisa, não economizou no shade: chamou isso de “ameaça global à saúde pública”. Na China já tem gente passando 2h30 por dia nessa rotina de dopamina infinita. E os efeitos vão de atenção detonada a memória falha, sono zoado e ansiedade no talo.
Na prática, a gente virou zumbi do feed. Você passa horas rolando e no fim… não lembra de nada. Não aprendeu nada. Não criou nada. Objetivo do algoritmo cumprido: você distraído.
E o mais cruel: depois disso, tudo que exige calma fica insuportável.
- Livro? Longo demais.
- Filme? Arrastado demais.
- Arte? Só mais um conteúdo pra “passar o dedo”.
Estamos transformando cultura em fast-food digital. É tudo pra ontem, sem profundidade, sem digestão. Vivemos no anseio de “tô sem tempo pra fazer nada”, com ansiedade pra tudo e ficando sem criatividade e memória. Tipo: hobby, arte e até sinônimo de criatividade tá virando Bobbie Goods – tem algo errado, né?
Scroll infinito em cachorrinho, openbox e meme é como virar taça atrás de copo: não dá ressaca no corpo, mas isso destrói seu cérebro em silêncio.
Quem disse a frase acima fui eu mesmo, só coloquei em aspas porque queria muito usar o efeito e sei que isso chama sua atenção.
Agora, sobre o álcool: pesquisas sérias mostram que até 1 ou 2 drinks por dia já estão ligados a redução de massa cinzenta e danos discretos em áreas do cérebro. Mas veja a diferença: beber tem efeito real, sim, só que limitado. Já os vídeos curtos atacam diariamente, sem limite, e ainda com selo social de “divertido” e “inofensivo” – todos nós.
Ou seja: não é exagero colocar na mesma prateleira dos vícios – reels, instagram, vodka, whisky e tiktok. Entretanto, o dealer agora é o algoritmo.
E não para por aí: um estudo da Brigham Young University revelou que a solidão crônica aumenta o risco de morte precoce em 26%, o mesmo efeito de fumar 15 cigarros por dia. A ironia? A Geração Z, a mais “conectada” online, também é a mais solitária de todas. Conexão virtual não substitui conexão real – e a conta, cedo ou tarde, chega.
O ponto crítico do rolê – e me incluo nessa às vezes: não é que estamos escolhendo entre beber ou rolar o feed. Muitas vezes estamos fazendo as duas coisas ao mesmo tempo. Taça numa mão, celular na outra. Dopamina lá em cima com um cérebro derretendo vendo uma realidade plástica brilhar os olhos.
E ironicamente, pode ser que nesse exato momento você esteja rolando reels, bebendo vinho, tragando um cigarro e ainda se sentindo só – que empilhamento de vícios mais moderno, não?
Um brinde ao seu feed de teor alcoólico indeterminado.
