Imagine um futuro em que perder um dente não signifique implantes caros, dentaduras desconfortáveis ou próteses artificiais. Em vez disso, um simples medicamento poderia estimular o crescimento de um dente natural, restaurando o sorriso de forma biológica e permanente. Essa visão, que parece saída de um filme de ficção científica, está se tornando realidade graças a avanços científicos no Japão.

Pesquisadores da Universidade de Kyoto e do Hospital Kitano, em Osaka, iniciaram em setembro de 2024 os primeiros ensaios clínicos em humanos para um medicamento que inibe a proteína USAG-1, responsável por bloquear o crescimento de dentes adicionais. Se tudo correr como planejado, o remédio pode estar disponível no mercado até 2030. Neste artigo, exploramos essa notícia promissora, com base em fontes confiáveis e atualizações recentes, para entender como essa inovação pode transformar a odontologia global.
O Que é a Proteína USAG-1?
Para compreender o potencial dessa descoberta, é essencial voltar às bases da biologia dentária. Os humanos, ao contrário de tubarões ou répteis que regeneram dentes continuamente, desenvolvem apenas dois conjuntos: os dentes de leite e os permanentes. No entanto, evidências genéticas sugerem que possuímos “brotos dentários” latentes para um terceiro conjunto, que fica inibido ao longo da evolução.

A proteína USAG-1 (Uterine Sensitization-Associated Gene-1) atua como um “freio” natural nesse processo. Ela interage com moléculas como a proteína morfogenética óssea (BMP) e o sinal Wnt, suprimindo o desenvolvimento de dentes extras. Em cerca de 1% da população, mutações genéticas causam agenesia dentária congênita (ausência de dentes desde o nascimento), afetando mastigação, fala e desenvolvimento ósseo, especialmente em crianças. Para adultos, a perda de dentes por cáries, traumas ou doenças periodontais afeta mais de 90% das pessoas acima de 75 anos no Japão, segundo dados do Ministério da Saúde japonês.

O medicamento em desenvolvimento, conhecido como TRG-035 e produzido pela startup Toregem Biopharma (fundada em 2020 como spin-off da Universidade de Kyoto), usa anticorpos monoclonais para neutralizar a USAG-1. Essa inibição seletiva ativa os sinais BMP, permitindo que os brotos dentários dormentes se desenvolvam em dentes funcionais, com raiz, esmalte e dentina natural. Estudos pré-clínicos em camundongos e furões (animais com padrões dentários semelhantes aos humanos) mostraram sucesso: uma única dose intravenosa gerou dentes novos sem efeitos colaterais graves.
Os Ensaios Clínicos: Do Laboratório para a Realidade Humana
A notícia inicial confirma que os ensaios de fase 1 começaram em setembro de 2024 no Hospital da Universidade de Kyoto. Essa etapa envolve 30 homens saudáveis, com idades entre 30 e 64 anos, que já perderam pelo menos um molar (dente posterior, para evitar complicações estéticas se um dente novo surgir). O foco é avaliar a segurança do medicamento, dosagem ideal e possíveis efeitos adversos, com duração de 11 meses (até agosto de 2025). Os participantes recebem injeções intravenosas, e os resultados serão monitorados por exames de imagem e análises clínicas.
Atualizações de 2025 indicam que os testes estão progredindo bem. Em dezembro de 2024, o Medical Xpress relatou que o medicamento já foi administrado a adultos, com potencial para ativar dentes em casos de perda adquirida (não congênita). A Toregem Biopharma, liderada pelo Dr. Katsu Takahashi (chefe de odontologia no Hospital Kitano e cofundador da empresa), planeja expandir para a fase 2 em 2025, testando em crianças de 2 a 7 anos com oligodontia (ausência de pelo menos quatro dentes congênitos). Essa condição afeta 0,1% da população e causa problemas nutricionais e de crescimento.
O Dr. Takahashi, que pesquisa regeneração dentária há quase 30 anos, enfatiza: “Queremos ajudar quem sofre com a ausência de dentes. Não há cura permanente hoje, mas as expectativas para o crescimento dentário são altas.” A empresa, com mais de 100 colaboradores de universidades como Kyoto e Fukui, recebeu financiamento da Agência Japonesa de Pesquisa e Desenvolvimento Médico (AMED) e parcerias como a WuXi Biologics para produção. Em 2023, captaram 380 milhões de ienes para acelerar o desenvolvimento.
Atualizações Recentes e Desafios pela Frente
Em 2025, o progresso é animador. Artigos da Popular Mechanics (março de 2025) e do Luminance Dentaire (junho de 2025) destacam que os testes iniciais confirmaram a ausência de efeitos colaterais significativos, semelhantes aos observados em animais. A Toregem Biopharma apresentou resultados em conferências como o BIO International Convention 2025 e o Expo Osaka-Kansai 2025, onde o Dr. Takahashi discutiu aplicações para idosos, visando estender a expectativa de vida saudável.
No entanto, desafios persistem. Especialistas como Chengfei Zhang, da Universidade de Hong Kong, alertam que resultados em animais nem sempre se traduzem para humanos: “É inovador, mas controverso afirmar que temos brotos para um terceiro conjunto de dentes.” Questões incluem o posicionamento exato do novo dente (para evitar desalinhamentos) e a funcionalidade a longo prazo. Além disso, o custo inicial pode ser alto, similar a implantes (US$ 3-5 mil por dente nos EUA), embora planos de saúde possam cobrir no futuro.
Ética e acessibilidade também são pontos: o foco inicial é em casos raros (1% da população), mas a expansão para perdas comuns (como cáries) é o objetivo final. No Brasil, onde a perda dentária afeta milhões (segundo o IBGE, 15% dos adultos perdem dentes), essa tecnologia poderia revolucionar o SUS, reduzindo custos com próteses.
Implicações para o Futuro da Odontologia
Se aprovado, o TRG-035 poderia ser a “terceira opção” ao lado de dentaduras e implantes, como sonha o Dr. Takahashi. Para crianças com agenesia, evitaria dentaduras que precisam ser trocadas conforme o crescimento. Para adultos e idosos, restauraria a mastigação natural, melhorando a digestão e a qualidade de vida. Globalmente, isso poderia impactar 5% da população com edentulismo parcial.
Outras pesquisas complementam: no Reino Unido, o King’s College estuda Tideglusib para regenerar dentina em cáries, usando esponjas biodegradáveis. Combinadas, essas inovações apontam para uma odontologia regenerativa, onde a prevenção e a biologia substituem o sintético.
Um Sorriso Mais Natural à Vista?
A promessa inicial é precisa e confirmada por fontes como The Mainichi, New Atlas e PubMed. Com ensaios em andamento e meta de 2030, o medicamento inibidor de USAG-1 representa um marco. No entanto, paciência é chave: a ciência avança com rigor para garantir segurança. Enquanto isso, mantenha a higiene bucal e consulte um dentista – a prevenção ainda é o melhor remédio. Fique de olho: o futuro da odontologia pode estar mais próximo do que imaginamos, com dentes regenerados como norma, não exceção.