“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade” – Joseph Goebbles (ministro da Propaganda de Adolf Hitler)
No ano passado, o dicionário Oxford escolheu “pós-verdade” como a palavra do ano. Pra quem não sabe, é um adjetivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.
A expressão tem sido muito usada por quem avalia que a verdade está perdendo importância, principalmente no debate político. Por exemplo: o boato amplamente divulgado de que o Papa Francisco apoiava a candidatura de Donald Trump não vale menos do que as fontes confiáveis que negaram esta história. Não é à toa que as vendas do livro “1984” de George Orwell teriam disparado após a declaração de “fatos alternativos” pela Casa Branca de Trump.
Ainda segundo o Oxford, a definição atual foi usada pela primeira vez em 1992 pelo dramaturgo sérvio-americano Steve Tesich. Esse adjetivo tem sido empregado frequentemente, mas houve um boom de uso da palavra, que cresceu 2.000% em 2016.
A “Pós-verdade” deixou de ser um termo jornalístico para se tornar central no comentário político, agora constantemente usado por grandes publicações sem a necessidade de esclarecimento ou definição em suas manchetes. É aí que começamos a falar das fake news.
A última edição da revista SXSW World destaca a preocupação latente e crescente sobre esse assunto, que virou pauta graças às recentes eleições que sofreram a influência negativa pela disseminação de fake news através das redes sociais. Isso também foi um dos destaques do painel do New York Times, “Covering POTUS: A Conversation with the Failing NYT”.
Conscientes desse compartilhamento tão nocivo, plataformas como Google e Facebook criaram mecanismos para dificultar a disseminação de notícias falsas contando com a colaboração dos usuários, criando aí uma nova forma de fazer jornalismo. Organizações como a International Fact-Checking Network (IFCN) ajudam a verificar a autenticidade de notícias publicadas.
A discussão aqui é a questão da motivação financeira destes produtores de conteúdo. A relevância e o impacto geram o negativismo graças ao modelo de remuneração da audiência. As fake news com mortes e escândalos fictícios de celebridades, que servem de clickbait pra gerar grana, realmente existem há muito tempo. Mas elas são insignificantes e não influenciaram de modo algum o pleito americano.
Tem gente realmente lucrando e sentindo-se bastante esperto com isso. Sem julgar quem tenta fazer comédia (na maioria das vezes, de mau gosto). Mas e a falta de filtro de quem compartilha? Quando notícias passam a ser marcadas como potencialmente falsas, isso só aumenta a responsabilidade de quem resolve compartilhá-la.
Como falamos muito por aqui e o New York Times reforça, a honestidade intelectual e a figura de um curador sério e com credibilidade são imprescindíveis. Mas, convenhamos, nos dias de hoje, uma simples pesquisa não é o suficiente para identificarmos uma notícia falsa?
Aí, entra o papel e propósito do jornalismo sério e responsável que, além de pesquisar e ir a fundo na verdade, vai incentivar essa preocupação. É sim mais fácil compartilhar do que checar a veracidade, então, saiba em quem confiar. Que comece a guerra contra a desinformação.
Leia aqui esse ótimo artigo do NYT sobre o assunto.
[signoff]
Goebbels nunca disse isso.
Oi! O link do NYT indicado na última linha do artigo não está abrindo…