Washington e eu

Washington e eu Washington e eu

1987. Eu, no primeiro semestre da ESPM. 17 anos. Tinha pressa. Queria começar logo um estágio.
Comecei a anotar em um caderninho o nome das melhores agências de propaganda. E também o daquelas que assinavam os anúncios de que eu gostava, afinal, tinha critério.

Decidi que a W/GGK, do Washington Olivetto, seria a primeira tentativa.
Na falta de algum conhecido que me abrisse portas, apelei pras páginas amarelas, uma mistura de Google e Waze da época pra localizar seu endereço.

Em uma bela quarta-feira, disse pro meu pai que iria até ali, visitar uma amiga. Pus minha melhor roupa, peguei um dinheirinho pra condução, anotei o nome da rua e fui, sem a menor ideia de como chegar lá. Era longe pra caramba.

Duas horas em ônibus errados, o dinheiro acabando, e pronto, cheguei na agência.
Pra mim, o futuro começava ali. Estava animadíssima. Em breve seria uma estagiária de sucesso, trabalharia ao lado do Washington.
Fui recebida pela recepcionista e orientada a esperar. Assim fiz. Por 4 horas.
Não desisti. No dia seguinte, eu e os office boys estávamos lá de novo.

A situação já estava constrangedora, até para a recepcionista, quando, de repente, a RP da agência, uma tal de Vânia, resolveu me receber. Não havia estágio, mas pelo menos ela me mostraria a agência.
Foi meu dia de glória! Depois de passear pelas áreas, ela parou em frente a uma porta.

Eu perguntei:
– É a sala DELE?

Junto com um sim, veio o convite. Quer entrar?
Não acreditei, abri a porta e entrei no templo! Sala linda, linda, linda e dele!
Pois não bastava tudo isso, a Vânia ainda me deixou experimentar a cadeira do Washington. Sentei, no início com algum respeito, depois comecei a rodopiar e soltar gritinhos de alegria.

Emoção igual foi difícil depois. Acho que nenhuma promoção teve a mesma magia.
Anos depois, eu, Diretora de Marketing de uma multinacional americana, estava em uma reunião com a W/Brasil, em que agência mostraria suas credenciais para ser ou não escolhida na concorrência.

Eu lá, Washington apresentando as campanhas. Olhando para o meu chefe, pra mim, para o meu chefe, para mim. E eu pensando, Washington, a Vânia já fez seu trabalho! Se depender de mim, a conta é sua!
A propósito, infelizmente não me lembro do sobrenome dela. Se alguém a conhecer, diga meu muito, muito obrigada!

Washington e eu

5 comments
  1. Baita história… Passei algo semelhante com o Walter Longo. Um pouco diferente. Comecei aos 15 anos. Em uma cidade de interior que tinha uma agência apenas. Depois ela fechou e não tinha mais nenhuma. Fiz meu estúdio quando não tinham mais opções. Sem grana, sem ninguém para me indicar, sem possibilidades de estudar. Fui fazendo, do meu jeito, do jeito que dava.

    Depois de 12 anos de profissão, estava em São Paulo, na sala da Y&R, em frente ao Walter. Contando minhas histórias de moleque do interior. Sai da reunião com uma proposta de emprego. Infelizmente, não aconteceu. Um momento particular da vida dele o afastaria dos negócios justamente naquele ano.

    Eu voltei para a cidade de interior. A luta continua, as dificuldades também. Mas ainda tenho esperança, depois de 20 anos de profissão como DA, que um dia terei uma história como a sua para contar. Parabéns pelo seu sucesso.

    1. Jeff, obrigada por contar a sua história. A vida dá voltas….a internet abre mil portas hoje e criar oportunidades para si é uma real possibilidade. Vc já pensou nisso?

Deixe um comentário