O dia em que o mundo acabou

O dia em que o mundo acabou O dia em que o mundo acabou

Em finais de 1993 fiz parte de uma banca de profissionais, que avaliaria os TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso) dos últimos anistas da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Uma equipe de alunos me chamou a atenção pela qualidade do Pensamento, pela inteligência da Estratégia, pela Inovação nas Propostas, pela Riqueza das ideias criativas, pela Simplicidade, Objetividade e Clareza na apresentação. Tudo que a gente sempre espera de uma boa agência, principalmente nos dias de hoje, tão pobre de tudo isso.

Essa equipe tinha a Camila Cardillo (hoje Chef de Cuisine), o Anselmo Ramos (hoje um talentoso diretor de criação no Exterior, fundador da agência DAVID em Miami, Buenos Aires e São Paulo) e o Alexandre Braga (hoje dono de uma produtora no Rio, a Homem de Lata, na qual Alê escreve e dirige filmes e séries, cria conteúdo).

Dei nota máxima ao TCC deles e os convidei pra uma conversa na McCann.

Anselmo e Camila preferiram não trabalhar comigo na agência, tomaram seus rumos com sucesso. O Alexandre Braga veio pra McCann, no Atendimento.

Depois foi para um cliente, aprender como é a vida do outro lado do balcão. Voltou mais tarde pra McCann, onde seguiu carreira brilhante até chegar a ser Diretor de Geral da McCann Rio. Por uma razão muito simples: o Alê sabia e dava valor ao PENSAR CRIATIVAMENTE na sua época de Atendimento.

O Alê tinha ideias, como esta, abaixo, que ele próprio descreve:


O dia em que o mundo acabou“Foi no dia dez de agosto de 1999. O mundo iria acabar no dia seguinte, dia onze, teria dito Nostradamus, no momento do eclipse final e definitivo.

Como sempre eu estava com saudade do meu tempo como redator, mas nessa época eu estava ainda atendendo Chevrolet e começando a assumir outras contas.

Nesse dia estávamos, Gabi Guerra (diretora de arte) e eu, voltando da Unilever, pela Avenida Brasil. MasterCard patrocinava todos os canteiros centrais de plantas da avenida.

O assunto Nostradamus apareceu. E no meio das risadas eu olhei pra uma das plaquinhas “MasterCard preserva essa área”. Parei de rir e comentei com a Gabi: “O logo de MasterCard não lembra um eclipse?”. “É, lembra muito…”

Em menos de um minuto estávamos falando sobre livro de profecias de 20 reais, CD de meditação de 30 reais e chegando à conclusão de que descobrir no dia seguinte que Nostradamus estava errado… isso não tinha preço.

Chegamos na agência na hora do almoço e contamos a ideia para o Perci e para o Rafa Camacho, diretor que atendia a conta de MasterCard.

O Perci usou seu telefone mágico e em meia hora estávamos com todos os “big bosses” de MasterCard aprovando anúncio e filme, já leiautados lindamente pela Gabi. Afinal, era uma oportunidade única e talvez a última no mundo.

A mídia enlouqueceu, mas topou o desafio de montar o plano para entrar no ar no dia seguinte depois do eclipse. Em alguns países da América Latina até. Tudo em menos de 24 horas.

A produção toda era bem simples, no formato da campanha ‘Tem coisas que o dinheiro não compra. Pra todas as outras, existe MasterCard”. Filme e anúncio aprovados.

Os veículos pediram pagamento antecipado, porque Nostradamus poderia estar certo e o mundo acabaria mesmo no dia dez, antes da veiculação.

Mas o dia onze amanheceu tranquilamente e percebemos que o mundo não havia acabado. Nesse dia onze foi publicado o anúncio nos principais jornais e o filme nas TVs. Com direito a eclipse e tudo mais.

A mensagem central era algo como “Livro de profecias, 20 reais. CD com músicas de meditação, 30 reais. Incenso, 12 reais. Descobrir que Nostradamos errou e a vida continua, não tem preço”.


Causou o maior impacto, foi o maior sucesso, recebeu prêmios. Ideia de um profissional que era do Atendimento, em parceria com uma diretora de arte. Ninguém ficou exultante e cantando glórias demais, ninguém da Criação da conta ficou enciumado. Porque a ideia era excelente e dentro da estratégia de MasterCard, viesse de onde tinha vindo.


Texto do Blog do Perci, escrito junto com o convidado Alexandre Braga