Talvez você nem saiba, mas Ian McKellen é gay. Sim, o Magneto. O Gandalf. E o que isso importa? No caso dele, bastante. Não exatamente sê-lo, mas entender e aceitar a condição foi fundamental para que ele se tornasse uma pessoa melhor, um profissional melhor. E isso talvez sirva para você também.
“Eu me descobri gay num momento e num lugar em que eu não tinha o direito de ser, de assumir, de falar. Era ruim com esportes, pouco comunicativo, mas encontrei como ator uma válvula de escape para ser mais quem eu era. Com o tempo, descobri que se você não pode ser honesto com si mesmo, não pode ser um bom ator. E não por coincidência, foi após sair do armário que minha carreira decolou: não por ser gay, mas por verdadeiro comigo mesmo”, revelou o ator britânico em seminário aqui no Cannes Lions 2017, a convite da The Brooklyn Brothers – empresa especializada em fazer a ponte entre marcas e entretenimento.
Apesar de participar de bom grado do maior evento de publicidade e criatividade do mundo, McKellen não gosta de conectar sua imagem com propaganda. Revelou que costuma negar contratos milionários por achar que correria o risco de sentir-se “vendendo a alma”. “Existem as grandes estrelas, mas eu não sou assim. Ninguém sabe minha comida preferida, ou em quem eu voto. Eu gosto é de surpreender”.
O painel com participação do ator contou também com a presença de Jackie Stevenson (The Brooklyn Brothers) e Gary Reich (Brown Eyed Girls). Os três estão envolvidos juntos num projeto apresentado hoje: #LGBTheroes, uma espécie de sitcom com vídeos curtos transformando super-heróis conhecidos em ativistas da causa gay em situações divertidas. O projeto ainda está em fase de lançamento, mas os presentes no Lumière, o teatro principal do Festival de Cannes, puderam ver o próprio Ian transformado em Super Homem numa curta história em quadrinhos.
O tema da palestra acabou ficando conectado demais ao universo LGBT, e de como as marcas ainda têm receio a se conectar abertamente ao tema. Um assunto que realmente merece discussão, mas que também trouxe insights bem interessantes nas poucas vezes que foi além. Tentando fugir dos estereótipos, Ian reforçou que já se incomodou muito ao ser chamado de “viado” no início do seu processo. Não ter uma preferência “não-tradicional”, mas por ser classificado por algo que apenas compreendia o que ele era, sem defini-lo. “Ninguém quer ouvir um ‘você é gay!’, mas ninguém gosta de ouvir ‘você é hétero!’, ‘você é isso!’ou ‘você é aquilo!’. Eu não quero ser classificado como algo específico. Eu apenas quero ser quem eu sou. E acho que todos são assim – especialmente essa nova geração”, enfatizou.
Numa era de super segmentação, targeting, retargeting e rótulos para tudo e todos, de “homem 25-30 classe AB com carro e que gosta de rugby e tofu”, a lição pode ser extremamente valiosa. Pense nisso na próxima campanha…
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Talvez tenha uma diferença grande entre a marca se conectar com o tema como uma oportunidade real de mudança de mundo e ser oportunista em relação ao assunto, onde, no fim do dia é só o tal aproveitamento ideológico que o Wagner citou, apenas com fins comerciais. É e sempre será necessário a sinceridade e a coerência com a verdade.
Muito legal!! Só discordo com o ponto levantado na palestra, de que as marcas ainda tem receio de se conectar abertamente com o tema LGBT. Eu diria que é justamente o contrário, muitas marcas têm se aproveitado comercialmente desta movimentação só porque é um assunto em alta, por puro interesse de marketing, muitas vezes sem qualquer afinidade ou relevância com a causa. Nessa graduação entre os extremos do preconceito de um lado e o aproveitamento ideológico com fins comerciais do outro, só posso aplaudir o Ian McKellen quando ele fala em ser sincero e coerente com o que se é de verdade, e não para pegar uma carona e projetar uma imagem (e isso vale para PF e PJ). Ótimo post Karan, parabéns!