Quando você joga alguma coisa para dentro do seu cérebro, o pensamento fica passeando lá dentro e pega um monte de caminhos errados.
Ao contrário do que a gente gostaria de acreditar, o cérebro não é nada racional. Foi feito na base do remendo, durante milhões de anos de evolução.
Pode até ser uma Ferrari, se a gente comparar com o que temos disponível no planeta, mas mesmo assim, é uma Ferrari montada a partir de um chassi de um Chevette 74. E com esse Chevettão nossas descobertas ficam rodando lá dentro da cabeça, como se fosse um motorista de táxi daqueles bem perdidos, mas com muita vontade de achar caminhos alternativos (“vou pegar alí a direita que tá mais livre!”).
Dentro desse trânsito cerebral acontece um número absurdo de barbeiragens: falsas suposições e certezas, distorções de realidade e raciocínios tortos. Somos facilmente enganados por um rosto simétrico, por figuras de autoridade, por experiências prévias, histórias de avós enfiadas por alí na primeira infância e por todo o ritual da aceitação ao cardume humano que nos cerca (ache uma mulher sem bota hoje na rua) e tomamos as mais patéticas e desastrosas decisões possíveis e imagináveis (não necessariamente as botas, vocês ficam bem nelas, mulheres).
E sei que é difícil, mas já está na hora de enfrentarmos a dura realidade: nosso cérebro mente para gente. Pacas.
São as divertidas falhas cognitivas (erros no nosso processamento mental), ou simplesmente, os desvios mentais, que vamos explorar em uma série por aqui e que servem para não nos levarmos tão a sério.
No post de estréia, a AMNÉSIA DE FONTE (Source Amnesia – WKP).
NÓS ESQUECEMOS ONDE APRENDEMOS UM FATO
Os fatos são inicialmente armazenados numa região do cérebro que tem a forma de um dedo mindinho, chamada hipocampo. Depois, ela passa para o cortex cerebral onde é “separada do contexto em que foi originalmente aprendida” (Welcome to your Brain – Sam Wang / Sandra Aamodt). Olha o perigo.
Por exemplo: você sabe que a capital do Rio Grande do Sul é Porto Alegre, mas provavelmente não se lembra onde aprendeu isso.
E depois de algum tempo, um fato lido na Enciclopédia Britânica pode passar a ter a mesma credulidade que outro lido no blog do seu cunhado. Um mal explícito em tempos de redes. E fica pior: mesmo se formos avisados que não há 100% de certeza sobre determinado fato, a tendência é deixar esse pequeno detalhe de lado. Coisas que já foram comprovadas como falsas há tempos, mas que são interessantes demais para gente deixar de acreditar.
Como o cabelo que nasce mais forte depois de cortado ou a história que o açúcar deixa as pessoas hiperativas ou ainda o imortal mito do pé descalço que vira um “resfriado”.
E aí, você resolve acabar com essa enganação e sai andando com o pé descalço no chão frio e… pega mesmo um resfriado daqueles! Somatização da mentira. Afinal, “si non é vero, é bene trovato”.
Em tempos de tanta informação que nos atropela a todo instante, somos obrigados a ser mais céticos do que crédulos. (Perde-se menos assim).
“No creo en brujas, pero que las hay, las hay.”
rs