Arqueólogos encontraram uma arte rupestre de pelo menos 44 mil anos em uma caverna em Sulawesi, ilha da Indonésia. A cena de caça pintada pode ser a primeira narrativa humana conhecida e ter sido feita milênios antes do homem-pássaro de caverna francesa.
No relatório da descoberta, publicado na revista Nature, os especialistas explicaram que a datação foi feita graças aos depósitos de urânio que ficaram nas figuras. Dados mostram que a substância grudou há cerca 44 mil anos. Com isso, eles indicaram que a arte pode ter sido feita ainda há mais tempo.
“Essa é a arte figurativa mais antiga que existe e pensamos que, além disso, é o exemplo mais antigo de obra narrativa e talvez de espiritualidade”, diz o arqueólogo Adam Brumm, da Universidade Griffith (Austrália) e coautor da descoberta. Há um ano, sua equipe já encontrou na ilha de Bornéu uma imagem de um animal empalado realizada há 40 mil anos, uma antiguidade que empalideceu a das mais importantes obras da arte rupestre europeia localizadas na Espanha e na França.
Até essa descoberta, a cena pictórica mais antiga que se tinha conhecimento era a do homem-pássaro, pintada na caverna de Lascaux, França, diz o estudo da equipe de Brumm.
Nessa narrativa, uma pessoa com cabeça de ave e pênis ereto enfrenta um bisonte destripado. Seja qual for seu significado, essa pintura foi feita mais de 20 mil anos depois da de Sulawesi.
A descoberta polêmica provoca uma mudança de paradigma, como ressalta o historiador do período pré-histórico da Universidade Complutense Marcos García Diez, um dos descobridores das pinturas neandertais da Cantábria:
“Até bem pouco tempo pensávamos que a explosão da arte ocorreu na Europa com a chegada do Homo sapiens, mas essa descoberta nos obriga a apagar essa ideia, a expressão artística ocorre provavelmente no mundo todo ao mesmo tempo e por isso a vamos encontrando cada vez em mais lugares”, reforçou o historiador ao jornal El País.
Se a pintura inteira tiver mais de 44 mil anos, isso pode significar que os primeiros humanos chegaram ao sudeste da Ásia com capacidade de representação simbólica e narrativa, diz o arqueólogo Bruno David, da Universidade Monash de Melbourne, Australia.
Os arqueólogos já encontraram paletas de tinta e objetos como cascas de ovos com gravuras abstratas feitas pelos primeiros seres humanos no sul da África, acrescenta ele. “Provavelmente é apenas uma questão de tempo até que pinturas narrativas sobre isso, e idade muito mais avançada, sejam encontradas na África“.
Contamos histórias e registramos a humanidade há mais tempo do que pensamos. Bom estar aqui para testemunhar isso sendo provado.