Há anos eu ensino aos meus seguidores que toda história deve ter conflito. Algo que se coloque contra os objetivos do herói e o atrapalhe em seu caminho.
O conflito pode assumir variadas formas, como um fenômeno da natureza, um ambiente, a sociedade. Porém, o mais comum é que o conflito seja materializado em uma figura própria, um outro personagem – quase sempre um vilão – o qual chamamos de antagonista.
Nós, como criativos, também temos um antagonista. O maior de todos. E ele vive dentro de nós.
A primeira vez que ouvi falar desse antagonista foi quando estudei um pouquinho da Cabala e me deparei com a figura do Satan. Nome pesado, eu sei, mas esqueça a figura de chifres e rabo pontudo. Esse Satan aqui é um aspecto da nossa própria personalidade. Uma voz que fica lá no fundo do nosso ser e conspira para que não criemos nada.
O Satan quer que você viva em estagnação. Sem mudança. Sem evoluir. Ele é guiado pelo medo e o maior medo que existe é o medo do desconhecido. Sendo assim, quando queremos mudar algo na nossa vida, ele fica preocupado e começa a trabalhar para nos impedir.
Nossa, e como ele é malandro.
Ele é tão malandro que ele fala na sua cabeça com a sua própria voz, e aí você acha que é você mesmo. Que é o seu instinto ou consciência te dando um conselho, quando na verdade, não passa do Satan.
Na próxima vez que tiver que tomar uma decisão importante, preste atenção. Procure se acalmar e analisar os seus pensamentos. Com o tempo e prática você irá começar a distinguir a sua verdadeira voz daquela do Satan.
A segunda vez que ouvi falar desse nosso antagonista foi quando li a obra Mais Esperto Que o Diabo, do Napoleon Hill. Aqui o famoso autor não comenta a exata natureza do que chama de Diabo, mas, na minha interpretação, é algo muito parecido com o Satan da Cabala… uma parte nossa que se alimenta do medo e acaba fortalecendo o que temos de pior.
A terceira vez que ouvi falar do antagonista, foi quando me explicaram sobre o nosso ego e sobre como ele pode nos prejudicar. Tem até um livro do Ryan Holiday chamado O Ego é seu Inimigo, pra você ver como a coisa é tensa.
A última vez que ouvi falar do antagonista foi ao ler o excelente livro para artistas The War of Art, no qual o autor, Steven Pressfield, aborda a escrita e o ato criativo em si como um campo de batalha onde precisamos lutar constantemente para avançar.
Mas lutar contra quê? Você deve estar se perguntando.
Contra um inimigo que ele chamou de “Resistência”.
A Resistência existe dentro de todo artista e utiliza diversas estratégias para impedir que você escreva (ou trabalhe): preguiça, orgulho, procrastinação e, é claro, o medo.
A Resistência, assim como o Satan e o Diabo, não quer mudança. Então ela faz tudo que estiver ao seu alcance para te manter na inércia. Assim você não muda a sua vida, não cria nada e, por consequência, não gera mudanças no mundo ao seu redor.
Terrível, não?
Aposto que você já sentiu a Resistência operando dentro de você. Talvez ela tenha agido hoje mesmo. É por causa dela que é tão difícil começar a escrever as suas primeiras palavras do dia, todos os dias. É por causa dela que não abraçamos uma paixão pois nos preocupamos em focar apenas no nosso “trabalho sério”.
Ela é implacável, essa tal de Resistência. Assim como é o Satan, o Diabo e o nosso ego.
Pra mim, na verdade, todas essas coisas são diferentes faces de um mesmo oponente. Um oponente com o qual todos temos que lidar em uma batalha muito pessoal:
O Antagonista.
Cada um de nós possui um antagonista formado pela nossa natureza mais baixa. Uma voz no fundo da nossa alma que quer nos encher de medos, dúvidas, desculpas e choramingos. Um inimigo que faz tudo o que pode para nos impedir de sentar em frente ao computador ou caderno e escrever. Para nos impedir de criar. Afinal, o ato de criar é o que nos aproxima dos deuses.
Mas eu não estou dizendo isso tudo para que você possa culpar o antagonista e continuar acomodado. Eu estou dizendo isso para que você saiba contra o que terá que lutar todos os dias da sua vida se quiser viver como um verdadeiro criativo.
E dá pra lutar.
Agora mesmo, antes de escrever esse texto, eu ouvi o antagonista sussurrando no meu ouvido. Ele disse que eu tinha coisas mais importantes pra fazer e que ninguém daria bola para essas palavras que estou rabiscando. Ele tinha bons argumentos. Mas eram argumentos baseados no medo, então eu os enfrentei.
E lutei.
E escrevi.
E sei que, ao digitar a última palavra no fim da página, terei vencido. Ao menos por hoje.
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Obrigada. Passei por isso hoje. O meu antagonista falou mais alto. :(
Ótimo texto pra todos lutarem contra suas resistências. Parabéns!
Obrigada por esse texto! Um combustível e tanto para vencer, por mais um dia, meu antagonista.
Brilhante. Muito obrigado.