Já são mais de 60 dias de isolamento, já perdi a conta.
Também já perdi a conta de quantas vezes tive que recorrer ao velho e bom Super Bonder aqui em casa.
Os brinquedos não têm resistido a tanta tensão – é muito uso.
Não tanto quanto a TV, confesso, mas eles tão indo no extremo – tem horas que parece aquela cena do Toy Story 3 na creche Sunnyside, lembra? Tadinhos.
Mas aí, entra em cena o bom e velho Super Bonder,
super cola, qualquer um desses.
E repito o ritual como meu pai fazia na minha época
(sem quarentena, ainda bem).
Lembro de olhar ele colando meus brinquedos e as coisas em casa.
Colava tudo e de tudo.
E eu sempre ali, meio perto meio longe, tentando ajudar, mas não podia para “não colar os dedos pra sempre”.
Mas o fato é que as super colas funcionam nesses brinquedinhos.
Deixam algumas marcas nos brinquedos – e nos dedos – mas ajudam nas histórias que vão se recriando.
Alguns brinquedos grudam bem.
Alguns acabam ficando um pouco tortinhos.
Outros não colam tão bem, mas vai que vai.
E outros, com o tempo acabam cedendo.
A verdade é que nenhum fica perfeito, como novo – de novo.
E aí, hoje domingo de manhã, no meio desse ‘feriado que não foi bem feriado’, colando mais um brinquedo que sofreu mais um acidente de percurso no 70° dia (sim, parei para contar) dessa jornada, percebi que o que acontece com os brinquedos é bem parecido com o que vem acontecendo na nossa vida durante essa quarentena/isolamento/distanciamento.
As marcas que esse período vem deixando nas pessoas vão fazendo a gente ter que encontrar formas de se “colar” de novo, “grudar” de novo, a cada dia que passa.
E a gente faz isso onde dá: nos momentos com a família que tá junto com a gente em casa, nas pequenas vitórias no trabalho, no Face Time com os amigos, com a família que tá longe, naquele ‘encontrinho’ escondido com os vizinhos do prédio ou em uma live do cantor favorito…em qualquer momento desses…não importa qual, onde, como, como quem ou quanto tempo duram, mas o que importa mesmo é o papel que eles tem.
E eles acabam sendo como os momentos de colar o brinquedinho de novo. No caso, a gente mesmo.
São esses momentos que deixam a gente pronto de novo.
Grudam as partes que estavam meio soltas ou frouxas e as vezes recuperam até aquelas partes que estavam quebradas.
Uma vez ou outra fica meio torto, óbvio e não sai como a gente queria,
mas dá pra seguir.
Outros são tão bons e eficientes que colam logo de cara.
Alguns, com o tempo cedem, mas aí um surge uma nova chance, que logo deixa a gente grudado de novo, prontos para o próximo dia, para a próxima luta, para enfrentar a próxima crise, a próxima má notícia na tv.
Ou simplesmente, nos prepara para o próximo carrinho que vai com certeza,
ter uma parte descolada novamente. E a gente só tem que continuar encontrando cada vez mais momentos que colem a gente de novo.
Enfim, deixa eu ir que meus dedos já estão quase grudando aqui, de tanta cola.
Se cuidem. Vai passar : )
Que texto massa! Espero que a gente consiga usar bastante essa cola pra não quebrar a ponto de não poder colar em meio a tudo isso.
Belo texto, fez muito sentido para mim. Foi um resgate da infância e do amor transferido junto com a cola. Selando a união da família em tentar manter tudo unido.
Valeu pai da Rafa.
Abraços, do pai da Alice
Ótimo texto, ótima reflexão!