Nossa situação atual parece estar dividida em dois polos. De um lado, há quem defenda que a economia não pode parar e que, em meio à pandemia, a solução é fazer um isolamento vertical, em que apenas pessoas do grupo de risco (idosos, pessoas com doenças anteriores, etc) fiquem restritas dos contatos sociais. Do outro, há quem considere fundamental manter o maior número possível de pessoas em casa para diminuir a curva de contágio da Covid-19, dando tempo aos especialistas que procuram vacinas e medicamentos contra a doença.
Para muitos segmentos da economia, de fato, essa polarização é mais complexa: há vários negócios que dependem da presença física dos seus funcionários. Sem contar o grande volume de trabalhadores informais do país. No entanto, para várias áreas do setor de serviços, essa divisão é incoerente, porque o isolamento é justamente o que está permitindo que essas empresas sobrevivam. E não apenas porque os funcionários estão mais seguros do vírus em home office, mas porque eles seguem na ativa, fazendo os negócios operarem em meio à crie.
No limite, a capacidade de manter uma grande força de trabalho ativa mesmo diante de uma grave pandemia mundial é o que impede que a economia esteja em situação pior.
Organizações que já estavam preparadas para gerenciar essa grande quantidade de funcionários à distância, é claro, estão na dianteira desse processo. Nelas, em que o Recursos Humanos tem um papel estratégico de gerenciamento e tem tempo para inovar – livre das atividades tradicionais, burocráticas -, o trabalho agora tem sido encontrar alternativas para manter seus empregados engajados, produtivos e psicologicamente saudáveis. Tudo com a ajuda de soluções digitais de métricas, análises e plataformas de interação online.
Essa transição aconteceu de forma menos impactante nos Estados Unidos, onde a grande parte das empresas do setor de serviços já havia passado por uma transformação digital – o modo como o mercado chama o processo de usar apenas ferramentas inteligentes para gerir, analisar e decidir.
Lá, ao menos metade da economia segue passando por cima da pandemia por causa do home office. Usando tecnologias eficientes de gestão, os RHs precisaram coordenar uma mudança repentina na forma como as tarefas são delegadas, as decisões são tomadas, a produtividade é mensurada e os feedbacks são dados. No entanto, muitos deles já estavam preparados para isso.
No limite, isso impede – ao menos por ora – que o colapso da economia americana seja maior. Recentemente, a economista-chefe do escritório da consultoria Standard & Poor’s no país, Beth Ann Bovino, elogiou a forma como essa transição foi feita. “É incrível como nós, como país, estamos conseguindo realizar nossos trabalhos, mesmo em condições extremas”, disse ela. “A imensa maioria dessas pessoas iam para o escritório todos os dias – e agora estão fazendo o mesmo trabalho em suas casas”, completou.
Ainda no EUA, a relevância desse assunto tem sido tão grande que muitos especialistas de RH e de outras áreas já afirmam que a pandemia vai levar, inevitavelmente, a revolução 4.0 para o mundo do trabalho. Em outras palavras: a transformação digital das empresas não apenas está ajudando a salvar a principal economia do mundo em momento difícil, como está sendo vista como o futuro da organização das relações entre organizações e funcionários.
O Brasil, por sua vez, ainda encontra dificuldades: recentemente, uma pesquisa feita pela Apdata, uma das grandes especialistas em RH do país, com lideranças de Recurso Humanos de diversas empresas brasileiras mostrou que apenas 3% dos RHs já passaram por uma transformação digital. Uma boa parte dos departamentos (38%) diz estar em uma fase intermediária do processo, quando algumas atividades são automatizadas, mas outras são manuais – como qualquer tipo de análise de informações, por exemplo.
Se números como esse apontam para alguns dos motivos pelos quais nosso desafio econômico será maior depois que tudo passar, por outro lado indicam que há uma direção já estabelecida: a digital.