Por que os exames médicos precisam ter nomes assustadores?

A medicina bem que podia se beneficiar um pouco do universo do entretenimento.
Por que os exames médicos precisam ter nomes assustadores? Por que os exames médicos precisam ter nomes assustadores?

Por que os exames médicos têm esses nomes científicos e complicados?
Precisa assustar tanto? Não dava para ser um pouquinho mais amigável?

Sim, eu sei, já existem ótimas iniciativas nesse sentido para crianças, máquinas com decorações infantis, etc. Mas o post é sobre nós, os marmanjos mesmo.

A medicina bem que podia se beneficiar um pouco do universo do consumo.
Pelo menos naquela parte da medicina que temos contato, aqueles momentos em que precisamos emprestar nosso corpo para alguém dar uma espiada, geralmente usando uma máquina.

Por que os exames médicos precisam ter nomes assustadores?
Em 1911 você tinha que colocar pés e mãos em água fria para fazer um eletro. Era pior que o nome.

Como um eletrocardiógrafo, que faz eletrocardiogramas.
Ou um eletroencefalógrafo, que faz um eletroencefalograma.

Mas por que usar os nomes que fazem sentido para os médicos se a maioria dos usuários, e maiores interessados, são os pacientes? Será que não podiam ter um nome de fantasia, uma marca?

Ninguém ia gostar de beber uma “água gaseificada com extrato de noz de cola”.
Nem iam querer um “dispositivo eletrônico móvel de computação e telefonia celular”.
É Coca.
É iPhone.

Nenhum produto de consumo usa os nomes genéricos e universais criados pelos engenheiros e cientistas.

Pode ter certeza. Se você falar uma palavra que tenha “eletro” e ainda mostrar aqueles fios todos, cheio de eletrodos, é óbvio que qualquer criança (e muitos adultos também) vai achar que vai tomar algum tipo de choque. Os aparelhos medem, na verdade, a eletricidade produzida pelo próprio paciente e não pela máquina. Mas com esses nomes, é muito mais fácil imaginar o contrário.

Se um eletroencefalograma chamasse “Bob Marley”, pra justificar aqueles fios todos na cabeça, não tinha criança chorando no exame.

Por que os exames médicos precisam ter nomes assustadores?
Fazendo um Bob Marley

– “Dona Maria, vou pedir para senhora levar seu filho para fazer um Bob Marley, para investigar melhor a situação”.

Quando meu filho fez um Bob Marley, o pessoal do laboratório falou que era o “exame do astronauta”, porque sabem o efeito disso. Sabem o valor de um paciente calmo e colaborativo no procedimento e na qualidade final do exame. Uma endoscopia podia ser um “Moby Dick”, porque vai lá dentro do estômago. Para a ressonância magnética, “You Tube” seria perfeito, afinal, é você no tubo. Mas já pegaram.

O “Ultra som” acho que tá legal, não mexeria. Mas se tivesse uma música épica durante o exame, ficava melhor.

Sei lá, uns nomes melhores…

Brincadeiras a parte, a humanização da medicina como um todo, não apenas na parte de enfermagem em hospitais, é fundamental para essa mudança em direção a medicina preventiva.

Se a prevenção é nossa melhor aposta, e não resta dúvida que é, então está mais do que na hora de entregar essa conta para quem entende de consumo e deixar essa relação menos tensa. Menos tensa não, tem que transformar essa relação em um caso de amor, de amor próprio, sem suspense, sem medos, sem excesso de protocolos. Tem que virar um ride da Disney.

É preciso criar uma medicina de consumo, transformar paciente em cliente, nossos corpos no nosso produto preferido e nossos exames em video-games.

Lembrando que é sempre importante manter o respeito e a seriedade quando se trata de saúde, mas uma dose de humor pode ajudar a aliviar a ansiedade em torno de exames médicos.

10 comments
    1. Resposta: ok, entendo esta reflexão e acho que tornar os termos menos assustadores poderia ser uma coisa boa. O problema é que por ser uma ciência baseada em evidencia, há necessidade de universalidade. Um médico deve entender um exame ou uma situação em todos os locais do mundo. Padronizar termos é a saída pra isso. Se Bob Marley fosse eletroencefalograma aqui, poderia dar problema na Jamaica. Sacou?

  1. No Hegarty on Advertising, o autor meio que aborda essa questão de outro ponto de vista, que também é interessante.

    O Hegarty fala que esse negócio de querer dar slogans e "conceitos publicitários" pra tudo, na opinião dele, é uma baita perda de tempo. Pra ele, branding deve ser aplicado onde faz sentido. Por exemplo, diz ele, imagine que você tem um ataque cardíaco enquanto anda em um táxi. Aí o taxista vira pra você e fala "Você prefere ir para o Pronto-Socorro X – Onde a saúde realmente importa ou para a Santa Casa Y – Tecnologia de ponta para a sua saúde?".

    Claro que o assunto não está falando nada parecido com criar slogans pra hospitais, mas achei que podia ser legal mencionar uma outra forma de ver um tema semelhante.

    Acho que o lance é mesmo usar o melhor que a comunicação tem a oferecer para a medicina, não as partes malas.

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