1. A esquizofrenia é uma das doenças mais mórbidas e caras do mundo. Ou seja, é uma das doenças mais catastróficas que um indivíduo pode ter e uma das que mais custam recursos para manejar no mundo.
2. Geralmente a clínica da esquizofrenia é dividida entre sintomas positivos (alucinações, delírios, pensamento desorganizado etc.) e sintomas negativos (embotamento afetivo, negligência com o autocuidado, isolamento social etc.).
3. A “número mágico” da prevalência da esquizofrenia é 1% (número repetido no debate popular), mas alguns estudos trazem números mais baixos (0,6%, 0,33-0,75% etc.). A incidência da doença é semelhante em diversos países e culturas.
4. Geralmente, a doença se manifesta no final da adolescência e início da idade adulta. É raro que os primeiros sintomas apareçam na infância ou na meia idade.
5. Homens são mais afetados do que mulheres (na proporção 1,4:1). Homens também costumam manifestar sintomas mais cedo (até os 25 anos, enquanto mulheres costumam manifestar até os 35 anos). Homens ainda parecem ter pior prognóstico.
6. As prevalências de ansiedade, depressão e uso de substâncias como álcool, tabaco e maconha são mais altas do que na população geral.
7. Esquizofrênicos cometem mais suicídio do que a população geral.
8. Morar em cidades (pior quanto mais urbanizada for), ser imigrante, complicações obstétricas, nascer no inverno e idade paterna precoce ou avançada na concepção parecem ter alguma relação com o risco de desenvolver esquizofrenia.
9. Quinze a 20% dos doentes apresentam uma síndrome chamada esquizofrenia deficitária. Nesse “tipo” de esquizofrenia, os sintomas negativos são mais duradouros e importantes. Esses pacientes abusam menos de drogas, têm menos depressão, cometem menos suicídios e têm menos delírios. Curiosamente, ao contrário da esquizofrenia “clássica”, a esquizofrenia deficitária parece ter relação com nascimentos no verão.
10. Ninguém sabe a causa da esquizofrenia, apesar das inúmeras teorias criadas ao longo do último século. Hoje em dia, a tendência é considerar que a “esquizofrenia” seja uma síndrome com elementos parecidos clinicamente, mas possivelmente com etiologias e fisiopatologias diversas.
11. A concordância entre gêmeos univitelinos (exatamente mesmo genoma) para esquizofrenia é de 40–50%. A concordância entre gêmeos dizigóticos (compartilham cerca de 50% do genoma) para esquizofrenia é de 10–15%.
12. Podemos concluir que: i. a esquizofrenia realmente tem fatores genéticos em sua etiologia, ii. mas eles não explicam tudo e certamente também há fatores ambientais envolvidos. Este estudo conclui que 87% do risco se deve a fatores genéticos (envolvendo o risco aumentado que alguns genes têm devido a presença de outros genes), enquanto 13% se deve a fatores ambientais. Um dos genes mais estudados em sua relação com a esquizofrenia é aquele que codifica a enzima COMT.
13. Alguns genes ligados ao risco de desenvolver esquizofrenia codificam elementos do sistema de histocompatibilidade humano, cuja função é imunológica. Isto suporta a ideia de que a esquizofrenia tem algo de imunonologia em sua etiologia.
14. Gripe durante a gestação (gripe mesmo, com o vírus Influenza) pode aumentar o risco do concepto de desenvolver esquizofrenia.
15. Cannabis pode aumentar o risco de um indivíduo suscetível desenvolver esquizofrenia. De fato, fumar maconha pode causar paranoia e outros sintomas psicóticos mesmo em sujeitos saudáveis.
16. Antipsicóticos, que são as drogas usadas para tratar a esquizofrenia, são antagonistas do receptor D2 de dopamina. É o mesmo sistema ativado pela cocaína e por todas as drogas recreativas. Entre suas outras funções estão controlar o movimento e a amamentação.
17. Mais de 80% dos doentes apresentam delírios. Delírios são crenças fixas, resistentes à mudança, que não cedem nem a um grande volume de evidências em contrário.
18. Muitas vezes, delírios são uma forma de “explicar” ou de fazer sentido das alucinações do paciente. Alucinações são percepções errôneas dos sentidos, que não correspondem a estímulos reais no ambiente.
19. Não temos realmente uma cura para a esquizofrenia. Uma minoria dos pacientes consegue viver vidas quase normais, mas a grande maioria dos pacientes fica incapacitada para o trabalho e vive entre internações de urgência e períodos de remissão.
20. Existe um ganhador do Nobel de economia que tinha esquizofrenia: John Forbes Nash, Jr. Ele fez sua pesquisa na terceira década de vida e adoeceu na quarta década (um pouco mais tarde do que é comum para homens, mas isso é esperado para pacientes mais inteligentes e bem educados). Sua história é retratada no filme A beautiful mind, estrelando Russel Crowe.