O Conteúdo como companheiro

Eu já fui cineasta e roteirista de séries de TV, mas foi no podcast que eu encontrei a melhor plataforma desse companheirismo.
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Quando você pensa em um momento importante da sua vida o que é que você se lembra?

Eu aposto que nessa memória vem junto uma música, um filme, um livro, uma novela ou algum outro tipo de conteúdo que estava presente transformando essa memória em algo ainda mais especial.

Seja o primeiro beijo no cinema, aquela música que seu filho cantou na apresentação da escola ou a novela que seus pais assistiam durante o jantar, o conteúdo sempre esteve lado a lado com as nossas experiências mais íntimas e importantes.

Quando ele sai de lugares fixos como o teatro, uma sala de cinema e até uma televisão, e acaba nos nossos bolsos e nossas mãos esse companheirismo é ainda maior. É só ver na rua de qualquer cidade o número de pessoas andando com fones de ouvido ou olhando para as telas nas suas mãos.

Eu já fui cineasta e roteirista de séries de TV, mas foi no podcast que eu encontrei a melhor plataforma desse companheirismo.

O podcast traz para as pessoas aquela sensação de estar junto com um amigo que está te contando uma história. É como que se pelo fone de ouvido dos nossos celulares, a gente fosse transportado para um campo onde alguém está nos contando uma história em volta de uma fogueira. Na Ampère, minha produtora de entretenimento sônico, nós gostamos de falar que o diferencial do podcast é que você consome ele no seu primetime próprio. Isso quer dizer que você ouve quando e onde você quiser, e o melhor, você escolhe a dedo quem vai te fazer companhia na hora que você está na academia, indo para o trabalho, lavando a louça ou só relaxando no sofá. Diferente do vídeo, você consegue consumir esse conteúdo fazendo outra coisa e isso acaba reforçando seu laço de conexão com aquele criador de conteúdo que você está ouvindo.

E por que estou falando tudo isso? Porque nesse momento em que (espero) que estejamos todos em casa fazendo nossa parte para não espalhar ainda mais o Coronavírus, o conteúdo virou o maior companheiro das pessoas.

Quem não maratanou uma série, zerou um videogame ou descobriu um podcast obscuro de história da arte russa?

O Conteúdo como companheiro
conteúdos mais leves começaram a tomar o lugar

Todas as plataformas de streaming viram seus números dispararem nesta pandemia. Tivemos recorde de audiência em reality shows. Filmes que estrearam apenas em VOD tiveram mais público do que se tivessem estreado no cinema. Muito achavam que o podcast era um consumo de hábito, ou seja, você consumia fazendo apenas outra coisa. Mas pesquisas americanas mostram que não, que o consumo do podcast aumentou e mudou. Onde as pessoas ouviam mais durante a semana – pois estavam indo e vindo do trabalho ou malhando – hoje elas ouvem de domingo a domingo. Pois quem não quer uma boa companhia enquanto faz seu pão de levain ou faz aquela reforma “faça você mesmo” na cozinha, né?

Vemos também que no começo da pandemia as pessoas estavam buscando mais conteúdo apocalípticos e “pesados”, mas que ao longo dela isso foi mudando e os conteúdos mais leves começaram a tomar o lugar, pois estávamos precisando se alienar.

No fim, você pode ter escolhido só consumir livros de autoajuda, só jogar jogos de tirinho, só ver videos de aulas de mandarim no YouTube, ver os últimos lançamentos da Netflix no dia que eram lançados, uma livezona de um sertanejo ou maratonar aquele podcast de crimes que você tanto gosta. O conteúdo nos fez esquecer um pouco do mundo lá fora de que não estávamos aguentando mais tudo que estava acontecendo dentro e fora da gente. Ele fez o que ele faz de melhor. Em mundo que tínhamos de estar todos sozinhos, o conteúdo estava lá para nos fazer companhia.

Como ele sempre esteve.

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