Não é exagero dizer que, para boa parte da população, o home office era algo inalcançável há até pouco tempo. Tampouco de que a realidade imposta pela covid-19 rapidamente eliminou essa percepção. No amadurecimento da discussão sobre os benefícios e desafios do trabalho remoto, avançamos anos em apenas alguns meses. E isso é uma ótima notícia.
Para quem pretende planejar um modelo de trabalho remoto, seja uma empresa ou profissional independente, agora há uma enorme quantidade de dados à disposição para se fazer uma análise mais criteriosa sobre os prós e contras do formato. Temas até então pouco debatidos, como a real disposição das empresas em adotar um modelo flexível de jornada de trabalho, as dificuldades de trabalhar em casa, os limites impostos pela distribuição de renda, entre outros, ficaram evidentes na pandemia.
No fim de outubro, o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) divulgou um extenso estudo sobre o futuro do trabalho. Nele, há indicadores que mostram o panorama do trabalho remoto mundo afora e que tangibilizam os desafios para empresas e colaboradores de países em desenvolvimento. Destaco a seguir alguns highlights:
- 84% das empresas pesquisadas pelo WEF disseram que pretendem acelerar a digitalização de seus processos até 2025;
- Neste universo, 44% da força de trabalho das empresas pode migrar para um modelo remoto;
- Um terço dos empregados ouvidos pela pesquisa esperam que sejam adotadas medidas para criar um senso de comunidade e pertencimento ao universo da empresa através de ferramentas digitais como forma de balancear o distanciamento do local físico de trabalho;
- O trabalho remoto tende a ser mais bem resolvido em países ricos do que em nações emergentes. Nos países ricos, 38% da força de trabalho estaria habilitada a migrar para o home office, enquanto nos países em desenvolvimento este percentual varia entre 17% e 25%. Já nos países pobres, 13% da força de trabalho teria esta opção.
No Brasil, ainda segundo o WEF, o cenário é bastante complexo. Na ponta das empresas, 95% das entrevistadas afirmam querer automatizar processos de trabalho já existentes. E outras 55% prevêem a contratação de freelancers com habilidades complexas para complementar o quadro de funcionários. Até aí, tudo certo.
De acordo com o relatório, o problema sério está na outra ponta: apenas 20% da força de trabalho do país está habilitada ao home office. Isso reflete a falta de acesso confiável à internet, condições físicas e emocionais para fazer da casa o escritório, deficiência no planejamento das jornadas, só para citar os principais desafios. Por outro lado, onde há desafio, há oportunidade. Este cenário pode representar uma grande oportunidade para as empresas que tiverem condições de melhorar a infraestrutura e a adequação do trabalho remoto de seus colaboradores.
Outra pesquisa recente, realizada pela consultoria Orbit Data Science, analisou 4.798 comentários de brasileiros em redes sociais com o termo “home office”. No período de janeiro a fevereiro deste ano, 71% dos comentários sobre home office eram positivos, com destaque para opiniões relacionadas à liberdade de escolha do local de trabalho, à dispensa de um dress code e à jornada flexível. Em março, o cenário já indicava uma mudança, com 61% de elogios ao modelo, uma queda de 10 pontos percentuais. Essa tendência se confirma pelos três meses seguintes, quando mais de 50% dos comentários sobre home office foram negativos. Queixas de dores no corpo e falta de apoio das empresas foram frequentes.
De lá para cá, o home office voltou a ser mais elogiado do que criticado, talvez pela atuação das empresas em proporcionar melhor estrutura ou mesmo pelo retorno gradual aos escritórios. O fato é que fizemos a jornada da aspiração à realidade em pouquíssimo tempo. Muitas tendências vão se consolidar, outras não serão viáveis para todos os perfis profissionais. O importante no momento é se debruçar sobre os aprendizados. Há muitos, e utilizá-los como referência é fundamental para qualquer corporação ou profissional que queira se aventurar por um modelo de trabalho remoto.