Bora arrumar a casa?

O mais importante nesse processo todo é a oportunidade, individual e coletiva, de revisitarmos nossa postura diante do consumo, reforçando a busca por um modo de viver mais leve e sustentável, com mais qualidade de vida e menos impacto no planeta.

Ao provocar mudanças profundas na nossa vida e na sociedade, a pandemia trouxe angústias e aguçou incertezas em relação ao futuro. Talvez por isso ela também sirva como um convite para a reflexão sobre nossas vidas em todos os aspectos: carreira, relacionamentos, saúde física e mental consumo, entre outras coisas. E uma das áreas que melhor expressa esse momento de mudanças é a casa. 

A pandemia tem estimulado uma nova relação com o lugar onde vivemos. Afinal, se quase todos nós antes passávamos o dia inteiro fora, saindo de manhã para trabalhar e voltando só à noite, daqui para frente a realidade para um grande número de pessoas será o trabalho híbrido, ou seja, alguns dias em casa, outros na empresa. Ou até mesmo, em muitos casos, o home office em tempo integral. O teletrabalho, que já era uma tendência antes de tudo isso acontecer, foi acelerado e chegou para ficar. 

Assim, a casa se transformou no hub da vida, como aponta este report de tendências produzido pela plataforma A Vida no Centro. A moradia se tornou o lugar de tudo: vida familiar, profissional e social. É o lugar para morar, trabalhar, empreender, se divertir, estudar e até se exercitar. “É a casa como potência”, diz o estudo.  

A consolidação do home office trouxe a necessidade de repensar o espaço doméstico. “Ele demanda uma nova casa, despertando o desejo (mais do que a necessidade) de cuidar do ambiente, adaptar cômodos e tornar os espaços mais acolhedores e também funcionais, de modo que permitam a realização das várias atividades no dia a dia”.   

“Menos é mais” em alta

Nesse contexto, outra tendência acelerada no período, e que tem relação com o morar, é a do “menos é mais”, ou seja, uma nova relação com o consumo. O minimalismo é revigorado, portanto, num momento de revisão de hábitos, crenças e valores, com fortes questionamentos ao estilo de vida consumista que caracterizou o mundo ocidental durante boa parte do século 20 e início do 21. Ter uma vida mais leve e simples, não associada ao acúmulo de coisas, é uma forte tendência para os próximos anos.  

Como o próprio nome sugere, o minimalismo se traduz na ideia de ter menos coisas, ou privilegiar aquilo que é realmente necessário. É adotar um modo de vida em que a felicidade não está associada à posse, mas ao significado que se dá a cada item da sua cesta de consumo. E isso não quer dizer que é preciso ser radical. O foco é o consumo consciente, abandonar os excessos. “Uma palavra também associada ao minimalismo é desapego. Ou seja, abrir mão de bens materiais em nome de uma vida mais focada em experiências e no valor de pequenas coisas”, diz o especialista em finanças pessoais Gustavo Cerbasi neste artigo. “Casas minimalistas, por exemplo, são aquelas com uma decoração mais simples e clean. O mesmo vale para o guarda-roupas, em que poucas peças proporcionam uma série de combinações criativas”, explica.

As lições de Marie Kondo

Quando pensamos em desapego, logo vêm à mente os ensinamentos de Marie Kondo, que ficou famosa no mundo inteiro não apenas por dar dicas de arrumação da casa, mas por difundir a ideia de que a organização doméstica é uma questão existencial, com impactos na saúde física e mental. “Arrumar a casa não tem nada de prosaico: é uma decisão capaz de revolucionar nosso estilo de vida e mudar nosso modo de pensar”, disse Marie nesta entrevista à revista Veja. “Ao organizar seus pertences, a pessoa reencontra seu foco e faz as pazes com ela mesma”, afirma. Segundo o método KonMari, desenvolvido por ela, uma etapa fundamental é o descarte: mantenha em casa apenas as coisas que proporcionam alegria. “O espaço onde você mora afeta seu corpo”, também diz Marie no livro A Mágica da Arrumação, citado pela reportagem da Veja. A ciência comprova o que Marie Kondo diz. Um ambiente leve e organizado contribui, como mostra este artigo de Julia Moraes, com diversos efeitos positivos para nossa vida, como aumento da produtividade, redução de estresse e depressão e melhora do sono, por exemplo. 

A meu ver, o mais importante nesse processo todo é a oportunidade, individual e coletiva, de revisitarmos nossa postura diante do consumo, reforçando a busca por um modo de viver mais leve e sustentável, com mais qualidade de vida e menos impacto no planeta. A jornada é longa, mas o importante é começar. Bora arrumar a casa?

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