Construir uma boa reputação é uma tarefa dificílima, mas nem se compara à responsabilidade de recuperar uma reputação destruída pelos mais diferentes motivos. Há quem adore fazer pelo desafio, mas gerenciamento de crise para empresas e pessoas costuma ser o terror dos RPs e especialistas. Principalmente por ser esse um dos casos mais claros no mundo da comunicação em que, mais importante do que ter uma ótima agência, é fundamental ser um ótimo cliente.
Na publicidade, uma excelente campanha não sustenta por muito tempo um produto ou serviço ruim, mas certamente atrai o consumidor a um primeiro contato ou mascara algo mediano. Na maioria dos casos, esse discurso é roteirizado, bem elaborado, cuidadosamente aprovado e muitas vezes testado antes de chegar aos seus olhos e ouvidos, evitando riscos e exibindo só o que há de melhor. O mesmo acontece em estratégias de conteúdo, especialmente nas redes sociais. Nesses casos, ter controle é tudo.
Mas quando falamos de relações públicas, quem está na frente do discurso é a pessoa ou porta-voz da empresa, muitas vezes sem chance de edição, controle ou escolha do que será visto pela audiência. E aí, apesar de fundamental o trabalho de uma boa agência ou assessor, tudo pode ir por água abaixo quando o cliente não é bom de verdade – em vários sentidos da expressão.
Quer um exemplo? Imagine ser o roteirista dos discursos de Dilma ou Bolsonaro. Em diferentes doses, falhas graves em técnicas de oratória, a autoconfiança jogando contra, o improviso na hora errada e o total despreparo sobre assuntos abordados faz com que qualquer estratégia perfeita de comunicação seja totalmente comprometida em uma fala, uma expressão, um meme. Em muitos casos, meses de trabalho podem ser destruídos em um ou dois stories de Instagram, mesmo “fora do expediente”.
Depois da participação desastrosa no Big Brother Brasil 21, o caso da Karol Conká tinha tudo para ser mais um desses desafios que não vale a pena pegar. Na casa, ela não só mostrou situações que dão argumentos suficientes para questionamentos sobre seu profissionalismo e até caráter, como deu exemplos de uma das combinações mais complexas para qualquer cliente de RP: zero autocontrole, ego nas alturas e temperamento explosivo.
Aqui fora, porém, Karol tem mostrado que talvez nem tudo esteja perdido. Muito do que eu mesmo desacreditei ser possível tem aparecido já nos primeiros dias pós-confinamento: uma pessoa mais calma, centrada e, acima de tudo, que entende seus erros, assume e declara querer melhorar. E mais importante de tudo: até o momento, sendo ou não, tudo parece verdadeiro, o que pode ser até eticamente questionável – como tanta coisa no universo da comunicação –, mas é essencial.
No jogo da reputação, atualizando o velho ditado, a mulher de César, ainda mais do que ser honesta, precisa definitivamente parecer honesta. E no caso da Karol (e de tantos outros quando se fala em imagem e percepção), esse jogo costuma valer muito mais do que um milhão e meio de reais.
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Excelente