Em um ano onde grande parte das pessoas se tornou especialista em imunologia curiosa sobre o funcionamento de infecções virais, termos como imunidade de rebanho passaram a fazer parte do repertório popular.
Grosso modo, ela refletiria um índice de imunização em uma população de forma a reduzir a possibilidade de propagação de um contágio (efeito de rebanho – herd effect). Ela não elimina uma infecção, mas fornece um cenário mais difícil para seu crescimento.
Não há um número mágico e único, já que outras variáveis afetam uma disseminação e cada patógeno tem características próprias. Diferenças climáticas, na saúde da população em geral e na eficácia do antígeno também podem fazer com que o índice para se atingir o efeito de rebanho varie de 0% a 100% de imunização (o que não ajuda muito para se determinar um objetivo).
Especificamente para a COVID-19, há estudos que apontam entre 62,5% e 85% como referências válidas para se atingir este efeito, o que pode ocorrer tanto por meio da vacinação ou, na falta de uma expressão melhor, deixar a natureza seguir seu curso e a infecção se espalhar entre a população.
Claro que, em infecções letais, esta segunda opção significa mais vidas perdidas e sobrecarga do sistema de saúde – razão pela qual, para a COVID-19, não deveria ser uma alternativa moralmente válida.
Considerando a amplitude acima (e todos os “poréns”), o índice de 67% pode ser adotado como referência para indicar potencial de estabilização do SARS-CoV-II nos 20 países mais afetados.
Diversos países do mundo já iniciaram a vacinação de sua população, uns em ritmo mais acelerado – em parte graças a populações menores, em outra à eficiência de sua gestão – e outros ainda em passos incertos e inconstantes.
Para entender onde estamos – e para ajudar na pressão contra os governantes -, com base nos índices e ritmo de vacinação fornecidos pelos países, o site TimeToHerd.com calcula a quantidade de dias necessários para se imunizar a população de diversos países do mundo.
Considerando as projeções hoje (02/abr/21), é estimado que Israel (país proporcionalmente mais adiantado com relação à vacinação) deva atingir 67% da população vacinada em 88 dias; o Reino Unido em 96 dias; o Chile – que lidera na vacinação proporcional na América Latina – em 75 dias.
O Brasil, caso não evolua em seu ritmo de imunização, alcançará esta marca em 524 dias (mais ou menos 1 ano e meio).
Claro que estes são cálculos projetivos e ilustrativos tendo como base a situação atual; espera-se (muito) que o ritmo da vacinação aumente nas próximas semanas.
Mas, até que seja seguro, máscara na cara, álcool em gel nas mãos e festa só pelo Zoom.
818 dias na Austrália
Eu não entendi o que você quis dizer com o comentário, mas, aproveitando, me intriguei com os números de Austrália (0,62% da população em dados de 13/março) e, em particular, com Nova Zelândia (1,08% da população em 31/março), dois países que indicam controle da pandemia.
Quando você olha o número de casos confirmados nestes países (https://covid19.who.int/region/wpro/country/au e https://covid19.who.int/region/wpro/country/nz), há uma estabilização em ambos por volta de set/20.
Ambos países adotaram políticas sociais (em particular distanciamento social) de forma mais séria (https://saude.ig.com.br/2021-02-17/sem-registrar-novos-casos-cidades-da-australia-e-nova-zelandia-saem-de-lockdown.html) e, coloco aqui como hipótese, isto deve ter reduzido o número de vetores (pessoas infectadas que infectam outras), o que permite com que estes países corram atrás da imunização por vacinas sem o desespero de perder mais vidas ao longo do processo. Sem desespero, melhor negociação e planejamento.
Lembrando que os números são proporcionais à população, o fato de serem ilhas (reduzindo fluxo de viajantes) é algo que facilita; mas este cenário mais positivo vem com o ônus de maior controle nas fronteiras para reduzir o risco de infecções por estrangeiros vindos de países cujos governos não conseguiram ou não quiseram obter o mesmo sucesso.