Um ex-lutador de box fracassado, Terry (Marlon Brandon) trabalha no porto como estivador a mando do presidente do sindicato dos trabalhadores do local, Johnny Camarada (Lee J. Cobb).
“Vagabundo”, como Terry é conhecido, participa de uma emboscada contra Joey, um dos membros do sindicato que delataria as ações mafiosas de Johnny.
A partir daí, Terry deixa a posição de privilégio, já que seu irmão, Charley, é um dos braços direitos da organização, e se afunda numa crise moral imensa. Ele não só se sente culpado pela morte de Joey na armadilha, como está atraído pela sua irmã, Edie.
Dirigido, escrito e interpretado com brilhantismo, o vencedor de 8 Oscar, “Sindicato de Ladrões” (On the Waterfront, 1954) é um marco no cinema americano. Ao importar a estética do neo-realismo italiano para narrar o contexto amargo dos trabalhadores e como eles eram vitimados por todas as esferas de poder – do governo e da máfia – o diretor, Elia Kazan, cria um filme que mescla muitos gêneros sem que isso prejudique o realismo da história.
É uma tarefa dificílima. Há o romance entre Terry e Edie; há todo o contexto imoral do sindicato; há as condições ruins de trabalho; há o passado de fracassos de Terry e sua condição passiva diante de tanta crueldade da máfia; há o papel da igreja – representada na figura do Padre da região que teima em desbaratar a máfia; e há a perseguição de quem denunciava essas mesmas condições. Todos esses pontos são costurados por um roteiro magistral, que explora alguns pontos: a moralidade tem um limite? Ou melhor, comportamentos imorais podem ser aceitos em determinadas circunstâncias? Quem é que dita essas regras?
Muitos dizem que o filme é uma resposta contundente do próprio diretor, que delatou artistas de Hollywood na época do Caça às Bruxas do senador Joseph McCarthy, um político americano que trabalhou para criminalizar a liberdade de expressão no país.
Em uma das melhores cenas de “Sindicato de Ladrões”, quando Terry precisa enfrentar seu próprio passado e emergir desse mar de fracassos e submissão que ele viveu durante tanto tempo, o poderoso monólogo de Marlon Brando leva o histórico pessoal do diretor. Mas, em nenhum momento esse ressentimento atrapalha o ponto central da cena: não é ser moral em situações imorais que faz uma pessoa ser digna até porque o fator humano é maior do que qualquer julgamento coletivo. Sobreviver é o instinto além de qualquer instituição. Mesmo que exista leis sociais, Justiça ou até mesmo o senso comum do que é estar certo ou não, em alguns lugares do submundo a dignidade é um luxo raro e mortal. Ganha quem convive melhor com as consequências dos seus atos.
Onde assistir: Now, Apple TV.