Se você acompanha com um pouco mais de frequência esse frenético mundo dos games e e-sports deve tropeçar em cifras atrás de cifras. E estamos falando de bilhões para todos os lados. No meio de tanto dinheiro, há euforia, tem os surfadores de onda, aqueles que, de fato, fazem ou tentam fazer algo concreto. Nos últimos cinco anos, a nova fase vivida pela indústria dos games impulsionada pelos e-sports e, principalmente, pelo mobile, despertou todos os tipos possíveis de interesses.
Dinheiro? Vem de todos os lados e, agora, principalmente das marcas. De acordo com o estudo “Into the Metaverse”, realizado pela Wunderman Thompson, a publicidade em games e e-sports pretende movimentar globalmente cerca de US$ 10 bilhões até 2024. A indústria como um todo vai render US$ 175,8 bilhões só neste ano, de acordo com a NewZoo. Mas aí fica a pergunta do título: e agora? Com tanto dinheiro na mesa, o que fazer? Essa resposta é complexa, cheia de camadas, mas está posta. Muitos dirão: que venha mais dinheiro. Mas, de fato, qual o olhar crítico sobre a sustentabilidade desse ecossistema?
Gamer e especialista em mídia programática, Cynthya Rodrigues, diretora na PMP.BID, questiona se, de fato, existe todo esse dinheiro mesmo. Ou seria uma questão de perspectiva? “Eu me pergunto qual o próximo passo? Sim, os números não mentem e estão aí para mostrar o quanto o games business está movimentando dinheiro. Mas tenho a percepção, em muitos casos, que o dinheiro dos games é muito mais aquele separado para inovação ou para fazer um teste do que uma verba efetiva dentro de um plano de mídia”, pontua.
Ainda segundo Cynthya, existem muito mais oportunidades de desenvolver coisas legais para os gamers que vai além da publicidade simplesmente como a conhecemos. “Eu jogo e acharia genial não ter que sair do meu game para pedir um lanche pelo delivery, por exemplo. Claro que isso é só um exemplo, mas ilustra o quanto ainda precisa ser feito”, reforça. Este ponto, inclusive, eu já tratei em outro artigo falando sobre a evolução do gaming commerce.
Lição de casa e compreensão de mundos
Beto Vides, fundador da eBrainz, consultoria especializada em games que já desenvolveu parcerias envolvendo games com marcas como Unilever e Nestlé, entre outras, reforça a necessidade de, literalmente, se fazer a lição de casa. “Entender o target, falar a mesma língua e prestar atenção aos detalhes, mas isso não para os games, é pra tudo, pra qualquer esforço publicitário. É preciso coragem para encarar o novo e desconhecido a cada dia, quebrar os padrões confortáveis dos formatos que você ainda entende, e reconhecer que a talvez as abordagens publicitárias e fórmulas de sucesso convencionais já não são tão verdadeiras pra quem está chegando”, alerta.
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O que falta, de fato, para que os games se tornem e-commerce?
Ainda de acordo com Vides, “mais cedo ou mais tarde o profissional de marketing vai entrar em uma sala de reunião com uma pessoa de 17 anos entregando uma série de informações importantes das quais você não tem ideia e nunca ouviu falar: um tal fulano com milhões de seguidores, uma plataforma nova, um novo tipo de jogo em AR ou um game token NFT que tem o valor de uma casa, mas parece apenas um meme virtual.” Vides alerta para a velocidade deste cenário, mencionando, por exemplo, o Axie Infinity, jogo lançado em 2018 integrado a blockchain que já é o equivalente a 60% do valor de mercado da Nintendo, fundada há cinquenta anos.
Como criar fora do padrão?
Renan Philip, Co-fundador 3C Gaming, parceiro do fenômeno Nobru em vários projetos, lembra que, no caso dos e-sports houve um momento inicial, onde qualquer ação de marca já era inovadora e importante o suficiente por acreditar no valor do cenário de games. Porém, devido ao fluxo recente de novas marcas de uma mesma categoria e concorrentes entre si, entrando no mercado, as empresas precisaram de fato, se tornarem mais criativas e pensar de forma diferente, não apenas colocando o logo no uniforme de um time ou na transmissão de um campeonato.
“Hoje, é necessário criar e comunicar para fazer algo bem diferente do padrão reconhecendo a necessidade de agências especializadas para este mercado. Atualmente, com esta nova visão, passamos a enxergar essa necessidade e realizar movimentos essenciais para ajudar as marcas a ir além do que apenas se conectar aos e-sports, mergulhando neste universo e entendendo quais são os melhores assets, para fazer isso da maneira mais criativa possível”, afirma Renan.