Jonathan Larson (Andrew Garfield) é um compositor prestes a completar 30 anos e vivendo todas as nuances de crise da véspera: trabalha há anos em um musical, mas ainda não conseguiu emplacar nada; não quer abandonar seus sonhos, só que não dá pra pagar o aluguel com fantasia. Ama a namorada, embora sua concentração no trabalho seja tanta que ele mal tem tempo de conversar.
tick, tick…BOOM! (2021) é a biografia desse personagem que acreditava muito que poderia viver de música. E Jonathan Larson não só fez sucesso na Broadway, como revolucionou a forma de criar musicais com a sua obra-prima, Rent. O espetáculo ficou 12 anos em cartaz e até hoje é referência para qualquer criação que envolva o gênero.
Os musicais tem seus fãs, mas tick, tick…BOOM! pega na veia justamente quem torce o nariz pra eles.
A trilha sonora é uma delícia. Em vez das músicas complexas, orquestrais, Jonathan Larson carrega a sua história com o que há de melhor no pop. O filme também não usa cenários espalhafatosos. Ao contrário, o bom em tick, tick…BOOM! é justamente aproveitar do que há de mais banal, mais cotidiano – como um café da manhã de domingo em uma lanchonete qualquer – pra extrair a magia da vida através da música.
O filme joga seus os refletores para o momento onde Larson finaliza o primeiro trabalho, Superbia, uma distopia sci-fi que fala de um universo distante da vida do próprio compositor. Deu errado. O conselho que mudou tudo? Escreva o que você conhece.
A estrutura não adapta diretamente a versão teatral, mas faz uso dela como uma espécie de cola para ligar todos os pontos pra tirar aquela sensação de que, do nada, as pessoas começam a cantar. Os números musicais são orgânicos, carismáticos e totalmente conectados à vida de um cara gente boa e cheio de criatividade como Larson era.
Para fazer música sobre açúcar, esse personagem precisa mesmo ter um compromisso muito otimista com a própria trajetória. E aí que a ótima atuação de Andrew Garfield faz diferença. No filme, Larson não é um chato. E o ator realmente está se divertindo muito em cena.
Lin-Manuel Miranda, vencedor do Pulitzer e do Tony, estreia na direção com tick, tick…BOOM!, já é um ícone dos palcos. Hamilton, o recente sucesso da Disney foi feito por ele.
A mão do diretor não pesa, mas também abranda alguns bons momentos dramáticos que Jonathan Larson viveu, como assistir a morte de muitos amigos em plena epidemia da AIDS, no comecinho dos anos 90.
Isso nem de longe atrapalha. tick, tick…BOOM! é uma exaltação a uma figura lendária da cultura norte-americana, e sobre como narrar de uma forma cativante um clichê que ronda uma porção de histórias: não desista.
Aos 30 anos, em plena crise, Larson está cheio de dúvidas se levar a vida como se morasse dentro de um musical parece ridículo.
Aos 31, é provável que a lição seja mais clara: é ridículo.
E daí?
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hahahaha Então eu tô dentro, pque não conheço nenhum musical que não seja ridículo!
:)
Que bacana! Não sou fã de musicais, mas esta resenha me despertou curiosidade!