O movimento Volta Pinheiros aferiu a qualidade da água do Rio Pinheiros através de uma rede independente de monitoramento em parceria com o Índice de Poluentes Hídricos (IPH), núcleo de pesquisa da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), sob a coordenação da bióloga e pesquisadora Profª Drª Marta Marcondes.
Estudo realizado pelo Volta Pinheiros e IPH (índice de Poluentes Hídricos) da Universidade de São Caetano, aponta que a DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) está, em média, entre 70 mg/l e 90 mg/l; Resolução Conama aponta 10 mg/l como máximo para considerar um rio saudável.
Seguindo a determinação de 2019 da Agência Nacional de Águas e Saneamento, que prevê a divulgação dos resultados obtidos em uma rede de monitoramento independente que possibilite a transparência das informações, o relatório da primeira medição está disponível no site do movimento para consultas e análises e mostra, entre outros dados, o nível da DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) em oito pontos ao longo dos 25 km do Rio Pinheiros.
O monitoramento segue a mesma metodologia utilizada pela Cetesb/Sabesp para o monitoramento do curso d’água. Com o início das coletas entre maio e junho e análises laboratoriais em julho, esse é o primeiro relatório (de outros 11) que a parceria pretende publicar nos próximos 12 meses.
O processo para a aferição da DBO depende da coleta de uma amostra da água (da profundidade e da superfície) e da análise laboratorial com supersaturação de oxigênio e diluições. Esse é o protocolo oficial utilizado pela Cetesb para averiguar quanto os micro-organismos consomem de oxigênio para a degradação da matéria orgânica contida na amostra.
Ação
Idealizador do Volta Pinheiros, o publicitário Marcelo Reis lembra da importância de cuidar da água para trazer a real transformação para a cidade: “Estamos transformando o entorno, convidando as pessoas a ocupar aquele espaço que na verdade está à beira de um enorme esgoto”, explica Reis. A ativação é um protesto à promessa feita pelo Projeto Novo Pinheiros, que garantiu que até o fim de 2022 o Rio Pinheiros teria DBO abaixo de 30 mg/l.
Para provocar a população sobre a condição da água do Rio Pinheiros e conscientizá-la do papel de cada um e suas atitudes, o movimento realizou uma instalação artística com uma capivara inflável de 4×4 metros que nadou nas águas poluídas do rio nesta terça-feira, 16. Com três olhos e um pouco desfigurada, a capivara chamou a atenção para a qualidade da água de um rio tão próximo de nós e com grande potencial de ser um lugar melhor.
Após a ação, o inflável foi recolhido pela equipe responsável pela instalação, e o material será reutilizado para outros fins após severa limpeza e desinfecção.
Resultados da DBO
De acordo com os resultados, a média da DBO está entre 70 mg/l e 90 mg/l, bem longe do estabelecido pela Resolução Conama 357/2005, que indica que um rio saudável deve ter DBO máxima de 10mg/l para abrigar vida aquática. Para a bióloga e pesquisadora Profª Drª Marta Marcondes, que lidera o estudo, as ações de cuidado e a revitalização no entorno do rio não estão refletidas na água. O IPH tem estudos desde 2019 que trazem números muito semelhantes aos de 2022.
Confira os dados da DBO obtidos de cada ponto do rio no estudo em 2022 e o comparativo com os anos de 2018, 2019, 2020, 2021 e 2022:
Localização | DBO |
P1 – Ponte Jaguaré | 87 mg/l |
P2 – Ponte Cidade Universitária | 79 mg/l |
P3 – Ponte Eusébio Matoso (Rebouças) | 70 mg/l |
P4 – Ponte Cidade Jardim | 82 mg/l |
P5 – Ponte do Morumbi | 87 mg/l |
P6 – Ponte João Dias | 73 mg/l |
P7 – Ponte Laguna | 68 mg/l |
P8 – Ponte do Socorro | 70 mg/l |
Fonte: Volta Pinheiros e IPH (maio-junho de 2022).
Fonte: Volta Pinheiros e IPH (comparativo entre os anos de 2018, 2019, 2020, 2021 e 2022).
Além da DBO, foram aferidos outros parâmetros, como oxigênio dissolvido, pH, temperatura, condutividade, fósforo, turbidez, sólidos totais e suspensos e análise dos sedimentos (carbono orgânico total, nitrogênio amoniacal e fósforo total). Segundo o estudo, todos os parâmetros aferidos estão em desconformidade com a legislação.
O que é a DBO
A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) resulta da quantidade de oxigênio necessária para a decomposição da matéria orgânica e é o parâmetro mais utilizado para medir a poluição nos rios. Grandes quantidades de matéria orgânica utilizam grandes quantidades de oxigênio. Assim, quanto maior o grau de poluição, maior será a DBO.
Logo, se há pouco oxigênio na água, não é possível fazer a decomposição total dessa matéria orgânica, e é esse processo descompensado (muita matéria orgânica para pouco oxigênio) que leva à produção de metano, que traz consigo o cheiro característico de ovo podre.
“O monitoramento é muito importante para sabermos como está verdadeiramente o rio, pois é sabendo da real situação que conseguimos melhorar e evoluir nos estudos e nas propostas. Nós do Projeto IPH nos juntamos ao Volta Pinheiros para lutar pela limpeza do Rio Pinheiros porque acreditamos que é possível vê-lo e utilizá-lo de outra forma, acreditamos na possibilidade de águas melhores, de vida aquática real, de devolver um rio vivo para São Paulo, que possa abrigar vida dentro do rio e nos entornos”, conta a Profª Drª Marta Marcondes.
SOBRE O VOLTA PINHEIROS
O #Volta Pinheiros é um movimento organizado por publicitários que busca o engajamento da população e o despertar dos atores políticos para tirar o Rio Pinheiros (localizado na cidade de São Paulo) do esquecimento, colocá-lo de volta à pauta de discussão da cidade e convidar a sociedade civil, as empresas, as organizações não governamentais e os órgãos responsáveis a criar projetos que devolvam um rio saudável à cidade e a seus cidadãos. Criado em setembro de 2017, o movimento preconiza a conscientização e a mobilização da população com ações pedagógicas em parceria com escolas públicas e privadas e em comunidades carentes, valendo-se de diferentes meios de mobilização e estratégias de marketing de guerrilha.