Existe um Brasil fervilhando de boas ideias e pulsando de vontade de aprender coisas novas e de fazer um futuro transformador. Uma galera de todas as idades e sotaques, que se encontrou no início do mês, em Santa Rita do Sapucaí, pequena cidade com cerca de 44 mil habitantes, que fica a 420 km de Belo Horizonte. Após dois anos de intervalo, em função da pandemia, a cidade voltou a sediar presencialmente o Festival HackTown, com mais de 800 atividades entre palestras, workshops e shows, ingressos esgotados e público estimado em mais de 30 mil pessoas.
Essa foi nossa primeira ida ao HackTown e resolvemos embarcar no clima de inovação e tecnologia desde o momento de pegar a estrada rumo ao sul de Minas. Fizemos a viagem de cerca de 230 km a partir de São Paulo em um carro elétrico, sem saber ao certo como iríamos recarregar o veículo para a volta. A primeira grata surpresa ao chegar foi descobrir que não apenas havia um eletroposto em uma das faculdades onde rolariam as palestras, como conhecemos a sede da Incharge, pioneira da fabricação de carregadores para carros elétricos no país.
O evento transforma a cidade, com pessoas do país inteiro e alguns estrangeiros caminhando de um lado para o outro entre as cerca de 40 sedes onde aconteciam as atividades. A maior parte delas se dividia entre o INATEL (Instituto Nacional de Telecomunicações) e a ETE (Escola Técnica de Eletrônica), não por acaso, as instituições responsáveis pela vasta formação de mão de obra na cidade, que ficou conhecida como o “Vale do Silício Brasileiro”.
Nos dividimos para acompanhar o máximo possível de atividades e conseguimos participar de cerca de 50 painéis no total. Como somos uma dupla criativa em uma agência de PR, os temas escolhidos navegavam entre tecnologia, pessoas e o que a gente pudesse encontrar de mais inusitado pelo caminho.
5 coisas muito legais que vimos em Santa Rita do Sapucaí
01. O futuro é descentralizado
4ª Revolução, Web 3.0, DAOs, DApps, infoxicação, lentes de contato com realidade aumentada e até o nascimento do primeiro ser humano potencialmente imortal (será em 2045). Parece um roteiro de ficção científica, mas é só um pouco do que Marcelo Pivovar, CTO na Oracle Brasil, apresentou em sua palestra Transformação (Pós) Digital. As DAOs (organizações descentralizadas) e os DApps (aplicativos descentralizados) já são uma realidade e consistem na distribuição do poder de decisão entre os membros de uma comunidade, por meio de contratos inteligentes validados por tecnologia blockchain e criptoativos. Pivovar mostrou até cases de empresas que são inteiramente administradas por inteligência artificial. Parece ou não coisa de filme?
02. Há metaverso por todos os lados
Se tem uma palavra que apareceu no bingo de qualquer palestra é o tal do Metaverso. E não é só hype, não. Agências, clientes, produtoras, empresas de tecnologia, todo mundo está atrás de criar experiências relevantes na rede de mundos virtuais 3D focadas em interações sociais, como definiu Paulo Melo, do Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia. Melo ainda acrescenta: “o Metaverso não é para todos, mas já tem muita gente lá e cada vez mais pessoas estão aderindo. É um caminho sem volta”, em sua palestra Metaverso – nós estamos lá, só falta você.
Já Edu Paraske, da Deboo Web 3.0, propôs a provocação “O Metaverso precisa cair na real”, em que aponta que o Metaverso ainda é complicado de entender e complexo para acessar. Apesar disso, afirmou que é possível impactar o dia a dia das pessoas, principalmente a partir de comunidades que gerem valor para si. “Tem muita gente boa trabalhando para tornar o metaverso mais fácil, legal e interessante, resolvendo dores ou potencializando paixões”.
03. Podem vir, Jetsons!
Conhecemos o Takashi Kawasaki, Head de Industrial Design do projeto do primeiro carro voador brasileiro. Que ele odeia que seja chamado assim, por sinal. O nome real-oficial é péssimo: eVTOL, sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem verticais. Mas o projeto da EVE Air Mobilitiy, uma empresa da Embraer, é fantástico e promete invadir os céus das cidades como uma espécie de Uber aéreo até 2026. E com custos por trajeto urbano pouco mais caros que um Uber X (será?).
O mais legal foi descobrir que um grupo com apenas oito pessoas participou do início do projeto, que nasceu praticamente de uma folha em branco. Como designer, Takashi chegou a ficar um dia inteiro desenhando carros voadores imaginados por pessoas comuns, em uma cafeteria em Austin, durante o SXSW. E o melhor, algumas ideias surgidas durante o experimento inspiraram soluções reais para o projeto final!
04. Ela vai pro espaço!
Temos uma nova estrela brasileira, Layse Peixoto. Nossa futura astronauta, estudante de física na UFMG inspirou uma grande plateia de cerca de 1000 pessoas no Teatro Sinhá Moreira, com sua jornada desde a infância, quando assistiu à série Cosmos, de Carl Sagan. Em agosto de 2021 ela descobriu um asteroide, que batizou de LPS 003, mas que pretende rebatizar em homenagem a sua avó. Ela contou a sua experiência do curso que fez na NASA e os novos desafios para o futuro. Além de se tornar astronauta, Layse quer inspirar mais meninas a seguirem carreira na ciência e para isso está liderando um projeto científico de transcrição de documentos da astrônoma Annie Jump Cannon (1863-1941), a pessoa que mais catalogou estrelas na história.
05. Diversidade e inovação devem andar de mãos dadas
Inclusão e Diversidade foram temas centrais de muitas palestras e painéis do HackTown. Uma que nos chamou muita atenção foi a do Pedro Cruz, LinkedIn Top Voice Orgulho e publicitário com passagem em grandes agências. Pedro convida a uma reflexão das empresas sobre o papel da inovação como catalisador não apenas de prosperidade para os negócios, como também de geração de bem-estar e desenvolvimento social. E que isso passa pela equidade e representatividade de grupos como mulheres, negros e LGBTQIA+ nas corporações, além de mostrar, com dados, que a Diversidade também ajuda a melhorar o resultado das empresas.
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Houve também muita coisa legal que nem conseguimos ver, já que em alguns momentos mais de 25 atividades rolavam simultaneamente. Da neurociência à startups do agronegócio, passando por biotechs, guerra cibernética, sextechs (é isso mesmo que você está pensando) e ferrovias do futuro, aprende-se de tudo um bocado em Santa Rita do Sapucaí. E tudo embalado por muita música, com cerca de 100 apresentações em dez palcos espalhados pela cidade.
Voltamos para casa recarregados de energia criativa e com muito mais perguntas do que respostas, porque afinal um evento como esse é capaz de expandir a sua mente para infinitas possibilidades. E com uma certeza: teremos que voltar no ano que vem, para vivenciar de novo essa conexão com um futuro de encher os olhos.
Ah, e quando for ao HackTown, se conseguir fazer uma pausa em meio a tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, dê um pulo no Linguiça Atropelada. O pão com linguiça de lá é de descentralizar as suas ideias sobre gastronomia!
Por Alexander Lopes e Pedro Henrique Gozzo, Diretores de Criação na InPress Porter Novelli