Quando derrubamos os muros da nossa prisão e corremos para a liberdade, estamos na verdade correndo para o pátio de uma prisão maior.
Quando li o trecho acima, no livro Sapiens de Yuval Noah Harari, levei um coice como se estivesse em um Slap Fighting, e meu oponente fosse 10 vezes maior que eu.
A Internet é maravilhosa, você não acha?
As coisas ficam tão mais fáceis quando usamos recursos digitais. É até estranho tentar imaginar a vida sem Internet.
O que você sente quando o sinal da operadora ou do Wi-Fi caem? Parece que falta até ar…
O mundo digital é um verdadeiro universo. Trabalho, entretenimento, sexo, saúde, educação, finanças, espionagem, alimentação, amor, crimes, enfim, são infinitas as possibilidades. Tudo pode acontecer.
Alternamos de um lado para o outro, entre cada possibilidade, como se a vida pudesse acontecer apenas dentro de nossos smartphones. Buscamos respostas nesse mundo eletrônico para todos os nossos desejos, por mais obscuros que sejam.
Estamos presos no planeta terra. Estamos presos dentro de nossos corpos. Estamos presos também em nossas ideias.
Criamos máquinas industriais, carros, aviões e foguetes para agilizar a vida. Criamos sistemas de comunicação para eliminar a ideia de distância. Criamos ideologias e ficções para dar algum sentido às nossas vidas. Algo que justifique a simples saga de nascer, crescer, se reproduzir e morrer.
A Internet nos faz acreditar que podemos estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Ela cria um simulacro, uma imitação torta de um universo quântico.
Parece ser possível alterar nosso tamanho para se encaixar em qualquer situação. Cada aplicativo pode, a seu modo, nos configurar para sermos qualquer coisa. Nossos smartphones funcionam como portais.
Sempre usamos máscaras para sobreviver em sociedade. Com ou sem Internet, sempre fomos obrigados a nos disfarçar a fim de garantir uma convivência social.
Não sei se sempre fomos assim ou se nos manipularam para gostar disso.
A Internet conecta a todos, mas parece que não nossas verdadeiras versões.
Estamos presos a ela, em uma grande aldeia global, com um tipo de poder na palma das mãos, mas não entendemos o significado disso tudo.
Parece uma prisão, onde conseguimos fugir o tempo todo, mas sem sair do lugar, como no desenho Caverna do Dragão. Sempre há alguma coisa que nos impede de sair de lá.
A Internet é um lugar maravilhoso.
Algumas marcas, entendendo o seu valor e potencial, criaram ferramentas de manipulação em massa que nos fazem apertar botões o dia inteiro em busca do pote de ouro no fim do arco-íris.
Ficamos lá, minuto a minuto, hora após hora, entra dia sai dia, em uma maratona infinita, à espera de um milagre.
Quando parece que encontramos a saída da tal prisão, percebemos que existe algo maior nos rodeando, mantendo a nossa pequenez ainda mais evidente.
Uns se deprimem, outros se perdem. Uns tentam outra vez, enquanto outros sentam à beira do caminho sem saber o que fazer.
Nada diferente da tradicional na saga humana, que se estende por milhares de anos.
A Internet é só uma ferramenta, um meio para algo maior. Como uma faca que usamos para preparar o almoço ou para ferir alguém. A Internet não é boa ou ruim, depende de quem a usa e com qual propósito.
Temos a mania de menosprezar o potencial humano, transferindo para as nossas invenções o verdadeiro poder de transformação social que tanto desejamos.
Essa mania diminui as possibilidades de revolução criativa, entregando nas mãos de algoritmos a responsabilidade de corrigir nossos problemas.
Pessoas e máquinas, algoritmos e ideias humanas, códigos e emoções reais, juntos, têm a chance de desenhar uma chave que nos liberte da grande prisão que é a nossa mente.
É nela que são construídos todos os conceitos sobre agregar e separar, bem e mal, bom e ruim, grande e pequeno, amor e ódio.
Somos máquinas biológicas que podem ser configuradas para entender o mundo de acordo com as ideias que nossos “criadores”.
Pais, mães, escolas e governos são as verdadeiras entidades responsáveis por nutrir essa frágil e poderosa massa gelatinosa, com pouco mais de 1 quilo, chamada de cérebro.
É lá que estamos todos presos, buscando incessantemente por uma ideia que nos liberte.
A histórica mania humana é por ficar junto dos seus semelhantes, cooperando para sobreviver.
E, em um mundo de tanta conveniência, parece que nos tornamos antissociais, pois acreditamos que não precisamos mais uns dos outros, pois temos aparelhos que atendem a todos os nossos desejos.
Só esquecemos de que por trás de cada linha de código escrita, de cada aparelho construído e de cada facilidade inventada tem um ser humano de carne e osso, cheio de suas próprias dúvidas, desejos e inspirações.
É preciso não esquecer isso: sem cooperação a humanidade não seria possível.
Estamos em rota de colisão com o desconhecido. O futuro está aí, bem diante de nossos olhos, mas estamos com a cabeça curvada na direção de uma luz que não pode nos salvar.
Somos criaturas minúsculas em um universo infinito. No passado, a imaginação humana já nos salvou da extinção, e o fará novamente. Ela é a única arma contra a nossa própria estupidez.
Quando encaramos nossos maiores desafios é a oportunidade para revelar um tipo de criatividade impossível de ser reproduzido pelas máquinas mais sofisticadas.
Uma hora essa ficha vai cair ou não teremos futuro.
E você, acredita que a criatividade pode salvar o mundo?