De uma maneira ou outra, é fácil perceber que o ser humano nasceu pra ser artista. Tanto que, na infância, todo mundo já ouviu algum adulto dizer: “tá fazendo arte, né?”. Ou “esse menino pinta o 7 comigo!” (rs)
Já na fase adulta, vemos profissionais de qualquer segmento sendo chamados de artistas, quando se destacam pela competência e/ou criatividade acima da média, no desempenho de suas funções.
No futebol, quando jogadores jogam bonito, com fluência, dando dribles ou fazendo piruetas de movimentos incomuns, locutores e comentaristas costumam exaltar o feito chamando de “futebol-arte”.
Nos primeiros anos escolares, as crianças têm um contato enorme com a Arte, mas é tão lamentável ver que, com o passar dos anos, esse contato vai rareando até se tornar uma matéria secundária, quase irrelevante na grade curricular, quando deveria se manter forte e cada vez mais presente na vida das pessoas, visto que, além da sensibilidade que proporciona, a Arte é uma das experiências que mais nos humanizam!
Foi designado à Arte certos papéis como provocar, criticar, levantar reflexões e mesmo alguns outros mais controversos, como polemizar, gerar espanto, dúvida, questionamentos e até mesmo chocar e agredir, quando é usada como instrumento de protesto; mas eu acredito que sua função primária é ter um compromisso com a beleza e, por isso mesmo, nos remeter ao assombro (no melhor sentido da palavra) e ao encantamento, experiências que trazem tanta leveza à alma!
Claro que o conceito de belo é muito subjetivo e individual, já que isso passa totalmente pelo campo dos gostos pessoais, mas pra quem é minimamente sensível, não é difícil perceber quando uma obra é esteticamente harmoniosa, seja ela em que campo artístico for.
Só que a Arte também tem o seu lado B, aquelas “obras” que são pura bizarrice ou que simplesmente se pretendem ser “intelectualizadas” demais, levando o espectador a achar que sua mente tacanha não alcança a “superioridade” da mente do artista.
Esse tipo de arte nunca alcançará o coração de pessoas mais criteriosas, com senso crítico aguçado porque, no fim das contas, de tão gratuitas e vazias, parecem apenas querer zombar da inteligência das pessoas, naquele velho e maroto esquema “vai que cola”.
Prova disso foi aquele episódio acontecido no Museu de Arte Moderna de San Francisco, nos EUA, quando um jovem de 17 anos (e com espírito bem zuêro!), incomodado por ver um ursinho de pelúcia enrolado no cobertor e exposto como arte, deixou um par de óculos no chão só pra ver a reação do público. Não deu outra: alguns minutos depois, muita gente parou para “apreciar” a “obra”! (ARGH!)
Outro episódio com o mesmo princípio – testar o grau de sem-noçãozice humana frente ao que um grupo determina como “arte” – aconteceu numa galeria dentro de uma universidade na Escócia, quando um alguns estudantes colocou um abacaxi em cima de um suporte da exposição e dias depois, quando voltaram ao local, encontraram o abacaxi oficialmente exposto e protegido dentro de uma vitrine!
Tsc, tsc, tsc, que vexame!
Essa tal “arte conceitual”, também chamada de vanguardista, surgida no final do século 19, se tornou mesmo um abacaxi à sociedade, pois tende a querer empurrar goela abaixo, todo tipo de delírio auto-classificado como Arte.
Mas preciosidades diversas, produzidas com extrema beleza e bom gosto, que despertam prazer nos 5 sentidos e são encontradas na música, na pintura, na escultura, no cinema, na fotografia, na moda, na culinária, no design, etc, são verdadeiros patrimônios da humanidade, capazes, inclusive, de nos levar às lágrimas!
Na minha humilde opinião (e ninguém é obrigado a concordar com ela), a verdadeira Arte é aquela que, mesmo não gostando do tema, dos elementos usados ou do estilo do artista, somos capazes de reconhecer o talento, a inventividade, a proposta muitas vezes inovadora de se fazer algo e toda uma técnica apurada empregados naquela obra.
Portanto, a Arte cumpre o seu principal papel – do arrebatamento, do estado de graça – quando ela nos leva a um patamar onde só temos uma opção: a entrega à contemplação.
Para corroborar tudo isso, recomendo fortemente o video “Porque a Beleza Importa” (abaixo), um documentário de 2009 idealizado e apresentado por Roger Scruton (1944 – 2020), considerado um dos maiores filósofos ingleses, autor de mais de 50 livros, compositor de óperas, crítico cultural, por longos anos professor na Universidade de Londres e Universidade de Buckingham e cavaleiro da Ordem do Império Britânico.
Esse material é um convite à reflexão e uma excelente oportunidade de despertar em nós a capacidade de avaliar, por nós mesmos, o que deve ou não deve ser considerado e consumido como Arte.