UPDATE: esse post está sendo republicado porque serviu de pauta ontem para um dos blocos do programa “Papo de Segunda” do GNT, apresentado por Marcelo Tas, João Vicente, Leo Jaime e Xico Sá – e que tive o prazer de fazer uma pequena participação. É sempre muito legal quando um dos nossos posts acaba virando o ponto de partida para um papo (de qualquer dia), é tudo o que a gente mais quer. Então você também está convidado(a) a participar por aqui, lendo, relendo e dividindo suas opiniões através dos comentários. Vamos lá!
Não sei se isso acontece com você, mas dentro da minha cabeça é toda hora.
“Noooossa, sensacional! Ih… não é.”
“Noooossa, sensacional! Ih… não é.”
“Noooossa, sensacional! Ih… não é.”
POR QUE SERÁ QUE ISSO ACONTECE?
Um visual aid da dinâmica em dois tempos na linha do tempo, típica da Síndrome NESINE
Projetos, videocases, startups, eventos, entrevistas, livros, posts. É sempre a mesma coisa: começo a ler um pouquinho e, “nooossa, mas isso parece ser sensacional!”. Aí, avanço na leitura e, “Ih… não é”.
“Pô, então o problema é você. Você se anima muito fácil”, dirá quiçá um comentário abaixo.
É verdade, me animo mesmo. Mas quem gosta de boas ideias sabe como é. A gente QUER se empolgar o tempo todo porque deve mesmo existir um monte de coisas sensacionais espalhadas pelo mundo e gente QUER achar essas coisas. Esperança de pescador. E a internet é o gigantesco oceano, as chances aumentam a cada dia. Cada fisgada é um motivo para acreditar que o peixe é dos grandes.
“Então você é muito exigente. Muito crítico” dirá outro comentário.
Hmmm… acho que não. Sempre tive esse defeito do “I want to believe”. Não acredito em disco voadores, mas quero muito acreditar. Geralmente começo do neutro e fico tentando acreditar, até que a dura realidade me carregue para baixo.
Vontade de acreditar no extraordinário
Vamos então considerar, já que a coisa acontece com uma certa frequência por aí, a possibilidade que o problema não seja só meu. Vamos imaginar que isso possa estar acontecendo também com você e mais um monte de pessoas. Todos nós, como alvos de promessas das coisas mais geniais de todos os tempos dos últimos 5 minutos.
Por que está acontecendo isso?
Bom, eu tenho um palpite. Acho que estamos no maior cardume de vendedores que já cruzou esses mares. Da foto no Instagram ao novo projeto pessoal, absolutamente tudo precisa ser aceito e, de preferência, apreciado em alto e bom like.
Sabe aquela frase que diz que “tudo tem seu preço”? Hoje a frase tá mais para “tudo tem seu apreço”.
Desenvolvemos essa carência coletiva, coisas do bicho-homem, nem vou entrar muito nessa discussão porque isso é papo para outra hora. Mas é fato. Tudo precisa ser INCRÍVEL, senão é fraco. E com todo mundo preocupado em impressionar ao mesmo tempo, já percebemos que é muito mais fácil falar, maquiar e emperiquitar as coisas – do que FAZER essas coisas propriamente ditas. É bem mais fácil parecer do que ser. Soar do que suar.
Lembrei agora de um exemplo que ilustra bem a situação: o dia da apresentação de campanha para cliente. Não é raro que as pessoas que apresentam as campanhas sejam melhores do que a campanha em sí. E frequentemente as campanhas finalizadas acabam ficando bem piores do que aquela da sala de reunião. É a habilidade do vendedor. E tragicômico perceber como as agências podem ser mais eficientes para vender campanhas para clientes do que para consumidores.
Ou, quando alguma dupla trazia uma ideia para ser avaliada e começava a explicar muito. A pergunta é sempre a mesma: “você vai anexado com um clip no anúncio?”
Enfim, o ponto é:
É muito mais fácil DEIXAR uma ideia sensacional do que TER uma ideia sensacional.
É muito mais fácil deixar uma viagem, pessoa, startup (ou o que você quiser) sensacional do que fazer uma viagem, pessoa, startup (ou o que você quiser) sensacional.
E vem daí nosso fuém, fuém, fuém diário.
OU SEJA
Devaneios finais: não esqueço a frase vinda lá da palestra no SXSW deste ano que dizia:
Pare de querer ser incrível e comece a querer ser útil
Ninguém aguenta mais tanta coisa revolucionária. Não é porque você se auto-intitula alguma coisa que essa coisa vira uma verdade. No saquinho da padaria aqui do bairro tá escrito “a melhor padaria do mundo”, mas dificilmente o estabelecimento em questão poderia ser qualificado como a melhor experiência do universo panificador que um ser humano pode experimentar. Eu sei que funciona. Dá pra arrumar namorada, cliente, dinheiro só na promessa, eu sei. Mas o tombo da frustração vem com intensidade proporcional.
É a maldição do avatar: invariavelmente, uma frustração na vida real.
O tombo é diretamente proporcional à altura da promessa (>t=>h)
O que fazer então? Uma montanha-russa com um pico de entusiasmo não tão íngreme. Menos montanha bicuda européia e mais montanha-calombinho brasileira mesmo. Menos discurso e mais entrega. E sabe por que vale a pena tentar? Porque quando as pessoas começam a concluir as coisas que você gostaria de falar, você está no caminho certo.
Invista na entrega, construa reputação e mantenha o discurso mais realista. Esse é o caminho do Sr (e Sra) Incrível.
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Isso é extremamente real, vender uma ideia que na cabeça é espetacular e na prática ficar meio bleh. Talvez o ideal seja mesmo o que Wagner Brenner falou no post e entregar mais do que se espera e não esperar mais do que se pode entregar
André Nader Schulze
E quando a marca/ pessoa/projeto está tão bem estabelecida, é tão cool , é impregnada de tanta importância e status, ovacionada pela entourage que até o consumidor final não tem coragem de dizer: o Rei está nu!
Famoso hype
Curti. Kadu, combina com a gente no momento. rs
Já esse Post partiu do “Parece interessante…” para “Puxa, é isso mesmo!!”
Hahaha, que bom! Obrigado Adeline!
Esse post é um tapa na cara de quem quer somente parecer/aparecer/transparecer mas não é. Isso é papo de quem busca validação constante dos outros e que no fundo tem uma certa baixa estima. Sempre acreditei no Ser, Fazer e Ter todo o resto é papo furado!
Somos dois Kaizen ;)
Diego Diniz
Phillipe Santos
Gabi Rocha
olha seu boneco ai Egon
Fábio Bernardi olha…
Bruno Salvatori
Leonardo Telles
todo santo dia.
Tudo isso tem a ver com criar, ser um ser criativo e viver a dor e a delícia de viver cm isso , trabalhar com isso, estar a serviço da criação . E aí às vezes somos o máximo, às vezes umas porcarias sem nenhum talento, às vezes ok somente ok … passando por um sem numero de outros sentimentos nesse embate rumo ao supremo momento incrível em que tudo se encaixa e é um sucesso . E por vezes nãem importa o que outros pensam, essa é a realidade que vemos e pronto, o paraíso se faz. Claro que é muito melhor se todos além de nós também acham isso !
Ah , sim , esqueci de dizer, sou arquiteta, mas poderia ser cineasta, escritora, ceramista, designer….
Boa, é isso mesmo.
Leonardo Rios
Menos discurso e mais entrega,né!!!? Boa… Jeferson Thomazelli!!!
É por isso que gosto muito da frase “Fazer é a melhor maneira de dizer.” José Martí… e levo ela comigo amor! Rs…
Ingrid Silva
Guilherme o que a gente conversa sobre discurso x prática
História da minha vida, Wagnão!!!
Nossas! ;)
Ana Lúcia Zalaquett
Patrícia Donban Machado precisamos falar sobre isso!
Ótimo texto! Dá margem a muitas elucubrações internas mesmo.
Texto descreveu bem nossas longas conversas sobre isso Rafael Abe da Cruz!
Mi perro apeñas se murio y aparece como este grafico.
Maira Coppola Auler
André Bertoni
Como não amar UoD?!
” é muito mais fácil DESCREVER E APRESENTAR coisas – do que FAZER as coisas propriamente ditas. Mais fácil parecer, do que ser. Mais fácil soar, do que suar.” Mas o importante é não desistirmos do caminho que acreditamos ser o certo. Valeu, bjs.
Å. Nao é.
Juliana
Diego Rocha Granado
Eu pensei exatamente isso quando li esse texto. Foi desse jeitinho mesmo. “Nossa que interessante, bem escrito” mas não é… Nem consegui terminar.
Que simpatia.
Ravi
Sensacional, não são o único o/ kkk
No meu primeiro emprego, meu chefe falava que eu era louco, tinha várias ideias, muitas delas se mostravam ineficientes, porém algumas delas foram MUITO úteis.
Mas elas só deram errado ou certo, porque eu fui lá e tentei, antes várias ideias ruins e algumas boas, do que nenhuma :D
Nos ultimos anos vejo acontecer MUITO esse lance das pessoas terem as melhores ideias mas nunca colocar em prática, até me incluo nisso.
Preciso me policiar e voltar a colocar em prática minhas ideias, nem que seja Pet Projects para prova de conceito!
Ler esses tipos de posts é muito bom por fazer a gente voltar e entrar no trilho de novo!
Obrigado, ÓTIMO post! :D
Animal o texto. Caberia até um sub-titulo: geração Y a caminho do nada e além.
Umas das coisas mais fascinantes da internet hoje em dia , é o acumulo e explosão de informações. Sejam elas dicas, palestras, ideias, depoimentos, historias ou até mesmo o bom e velho WIKIpédia. O grande mau de tudo isso é que, essa juventude cheia de hormônios, vontades, vaidades e nada de certezas está acumulando tudo isso no papel. Eu também faço parte disso. Eu tb vivo isso. Mas hj com o objetivo diferente. Nas palestras que frequento e depoimentos que vejo (e até mesmo experiência própria), a ideia principal é fazer algo que te de dinheiro, fama e facilidades como ex: “adorei esse presente lindo do @suamarca que chegou aqui em casa”, antes mesmo de ter o TESÃO por algum projeto e ir lá realiza-lo com toda força e determinação.
Menos garagem para criar app, e mais rua pra ganhar o mundo!!! mais uma vez parabéns pelo texto!!
Gostei muito do seu artigo! Com o advento das mídias sociais muitas pessoas têm a oportunidade de se expressar. Porém as vezes elas se esquecem do contexto… A Internet é pública e aberta a todos. Achar um boa idéia é tão difícil quanto achar uma boa música ou um bom vídeo nesse universo de informações. E por falar sobre idéias e vídeos, talvez você goste deste site: ted.com – Ideas worth spreading.
Novamente, parabéns pelo artigo!
Obrigado Andrea! Eu li o livro do Vargas Llosa, vale muito mesmo ;)
Texto maravilhoso!
Aliás, meu primeiro comentário no site que vive constantemente aberto no meu navegador. Parabéns pelo Update or Die, uma das páginas realmente relevantes da internet.
ps: A Civilização do Espetáculo do Vargas Llosa, vale a leitura.