Você já continuou lendo um livro chato só porque já tinha lido muitos capítulos dele pra desistir?
Ou se recusou a sair do cinema naquele filme insuportável só porque tinha pago o ingresso?
Então você sabe o que é a “Falácia dos Custos Irrecuperáveis” (também chamados de custos afundados ou incorridos – sunk costs, em inglês)
É algo que pode acontecer quando uma empresa ou um indivíduo continua um projeto ou estratégia principalmente porque já “investiu muito nisso” (como tempo, dinheiro ou esforço), ao invés de basear a decisão no cenário atual ou futuro. A falácia está no raciocínio de que se deve continuar para “não perder os recursos já despendidos”, mesmo que continuar não seja a melhor decisão daqui para frente.
É uma das armadilhas mais comuns entre líderes e gestores – e que pode levar a decisões subótimas e prejudicar o crescimento sustentável de uma empresa.
O Que é a Falácia dos Custos Irrecuperáveis?
A falácia dos custos irrecuperáveis ocorre quando uma empresa continua a investir em um projeto ou estratégia, não por causa de seu potencial de retorno futuro, mas simplesmente porque já investiu recursos significativos nele. Este comportamento é motivado pelo desejo de não “desperdiçar” os recursos já alocados, mesmo que estes não possam ser recuperados.
Um exemplo clássico foi o projeto do avião “Concorde”, em que os governos francês e inglês continuaram a financiar o desenvolvimento do projeto, mesmo depois do modelo ter perdido o potencial econômico como aeronave. O projeto foi mantido pelo governo inglês como um desastre comercial, que “nunca deveria ter sido iniciado”, tendo sido quase cancelado. Contudo questões políticas e legais tornaram impossível para ambos os governos saírem do projeto antes de outubro de 2003.
“O custo de estar errado não é uma perda do custo original, mas sim o preço de não aproveitar a melhor oportunidade alternativa.”
Warren Buffett
Por Que Isso Acontece?
Associamos desistência com fracasso. Por mais que a gente saiba que errar é humano. Mas insistir no erro, como diria o famoso ditado, é burrice.
A raiz desse fenômeno muitas vezes reside na psicologia humana. O comprometimento emocional com o projeto, o medo de admitir o fracasso, e a relutância em mudar de direção mesmo diante de evidências contrárias, são fatores que contribuem para a persistência nessa falácia. Adicionalmente, em muitas culturas corporativas, há uma resistência em reconhecer erros, o que reforça essa tendência.
Os Riscos da Falácia dos Custos Irrecuperáveis
Persistir em um projeto falho devido aos custos irrecuperáveis pode levar a mais perdas. Essa abordagem não só consome recursos financeiros, mas também tempo e energia que poderiam ser melhor empregados em outras iniciativas mais promissoras. Além disso, pode impedir a empresa de se adaptar a mudanças no mercado e de explorar novas oportunidades.
Como Evitar a Armadilha
- Reconhecimento e Aceitação: O primeiro passo é reconhecer que a falácia dos custos irrecuperáveis é um erro comum e que está tudo bem em mudar de curso quando necessário.
- Avaliação Baseada em Dados Atuais: As decisões devem ser baseadas no potencial atual e futuro, e não no passado. Avaliar objetivamente os projetos com base em dados atuais e projeções realistas é crucial.
- Cultura de Aprendizado e Adaptação: Fomentar uma cultura organizacional que valorize a aprendizagem e a adaptação rápida, em vez de punir erros, pode ajudar a mitigar a falácia.
- Consultoria Externa: Às vezes, uma perspectiva externa pode ajudar a identificar e corrigir o curso quando a visão interna está turva.
A falácia dos custos irrecuperáveis é um desafio psicológico e estratégico que requer atenção e conscientização. Ao adotar uma abordagem mais flexível e baseada em dados, as empresas podem evitar as armadilhas dessa falácia, tomando decisões mais inteligentes que favoreçam o crescimento e a inovação sustentáveis.