De guerra a casamento: as técnicas para resolver conflitos, por William Ury – no SXSW 2024

Maior especialista em negociações, William Ury dividiu com a audiência algumas dicas infalíveis para resolver problemas globais – e também do seu dia a dia
Man presenting at SXSW 2024 event with audience member capturing photo on smartphone. Man presenting at SXSW 2024 event with audience member capturing photo on smartphone.

Dos gritos de Hugo Chavez em uma sala fechada, diante de manifestações que tomaram as ruas de Caracas, a discussões nucleares entre Trump e Kim Jong-un, passando ainda pela disputa de Abílio Diniz com o grupo Cassino ou o Apartheid, na África do Sul.

William Ury, o maior currículo em mediação de conflitos

Porém, se engana quem acha que resolver esse tipo de questão demanda técnicas muito diferentes das que temos no nosso dia a dia.

Com o recém-lançado “Possible: how to survive (and thrive) in a age of conflict”, fotografado outro dia nas mãos de Joe Biden, o cofundador do programa de negociação de Harvard veio ao SXSW 2024 para dividir com a audiência um pouco das lições que aplica no seu trabalho – e que podemos tentar replicar no nosso dia a dia. Uma das principais é não ver o conflito como algo negativo, mas como um processo inteligente – e, muitas vezes, criativo.

“Costumamos pensar que o conflito é algo negativo, mas ele é parte da nossa natureza. E a saída central costuma ter três caminhos: entendê-lo, abraçá-lo e transformá-lo, especialmente por meio da criatividade e da colaboração”

William Ury

William Ury relembrou que estamos vivendo em uma era onde as estruturas estão mais horizontais no quesito tomada de decisão – ou seja, com mais gente envolvida. Por isso, passamos tanto tempo da nossa vida pessoal e profissional negociando. “Estamos vivendo na era do conflito”, como ele define.

Segundo o especialista, o centro da questão está em entendermos que o maior obstáculo para conseguir o que queremos não é a dificuldade que encontramos no outro, mas em nós mesmos. “Nossa tendência natural é reagir antes de pensar.  Se você quer influenciar o outro, precisa primeiro acertar as coisas com você. A negociação é um jogo que começa internamente”, enfatizou.

De forma prática, William Ury apresentou uma espécie de organograma de solução de conflitos, que basicamente traz três pilares fundamentais. O primeiro é o “lugar seguro”: estar em um ambiente (ou situação) em que você consiga respirar e olhar, com cautela, tanto o cenário completo quanto os detalhes.

O segundo são as pontes: entender o outro lado e usar esse território como ponto de partida para construir o caminho para onde você quer levar seu interlocutor; e o terceiro é exatamente ter uma terceira visão, contar com alguém que possa receber o conflito, entender melhor ambos os lados e tentar chegar ao meio termo – ou ao melhor termo.

Mais do que gerar novos especialistas em gerenciamento de conflitos, o objetivo de William Ury é mostrar como podemos fazer não só nossa vida mais fácil, mas também a de quem está do outro lado do conflito – que, olhando friamente, raramente é um “inimigo”.

Além disso, solucionar disputas de forma clara, positiva e amistosa pode ter um impacto muito maior que só resolver um problema pontual. “Um dos maiores poderes de uma negociação é que, por ela, podemos mudar o jogo. Usem essa capacidade para resolver os conflitos. Não há problemas que a gente não consiga resolver e, se conseguirmos transformarmos nossos conflitos em algo positivo, vamos acabar transformando nós mesmos e, assim, o mundo”, concluiu.

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