Será que a nossa comunicação pessoal não podia aprender um truque ou dois com a comunicação profissional?
Faz mais ou menos uns 50 anos que as marcas procuram usar a melhor comunicação possível para fazer sucesso com gente.
No começo, mais ou menos na época lá do Mad Men, o mais importante era conseguir subir no banquinho mais alto possível, pegar o megafone mais poderoso possível – e gritar o maior número de atributos no menor tempo possível. Nos Estados Unidos esse periodo ficou conhecido como “a era do …ER”. Era um tal de brighter, smoother, cheaper, stronger, thinner, smarter, sem fim.
As marcas se empenhavam na interrupção e usavam a estratégia do “ói eu”, amplamente utilizada por vendedores de rua desde os primórdios da linguagem falada. Imaginavam que pelo simples fato de se auto-promoverem, ficavam de fato, interessantes.
A comunicação acontecia, invariavelmente na primeira pessoa e sobre a primeira pessoa. Já percebeu para onde tá indo esse texto né?
Bom, diante dessa metralhadora de marcas tão extraordinárias, surgiu outra fase, carinhosamente chamada de “me too”. No desespero de ficar para trás, qualquer novo anunciante se contentava com um “me too”. Pertencer já era uma vitória.
Até que depois de uns 20 anos ninguém aguentava mais. E a conclusão, na trave, é que tinha muita gente falando ao mesmo tempo e portanto o importante era achar algo único, ou em bom propagandês, o bem intencionado U.S.P., “unique selling proposition”, o pai-nosso do marketing da época em que eu trabalhei em agências.
Mas foi só depois de muitos anos que aprendemos o conceito de… relevância.
Interromper a pessoa certa, do jeito certo, com o discurso certo e pelo motivo certo. Lindo.
As pessoas não queriam saber das proezas das marcas, mas sim, o que essas proezas poderia fazer por elas.
E assim, surgiram os comercias sem produto, que ao invés de mostrar o carro, mostravam famílias reunidas, roteiros de viagem, sensações de liberdade, etc.
A era, não dos atributos em primeira pessoa, mas sim dos benefícios ATRAVÉS da primeira pessoa.
Usando isso no contexto das Redes
Com a internet aconteceu algo parecido, em um espaço de tempo mais curto. Na primeira fase os sites eram feitos por outros, depois passaram a ser feitos por você e depois ATRAVÉS de você.
E hoje estamos na era “social”.
O planeta se transformou rapidamente no maior salão de cabeleireiro da história. Uma feira-livre de bilhões. Gerações que já nascem com chupeta, o tal banquinho e megafones próprios.
E tudo isso para falar que li um artigo neste final de semana que me colocou para pensar. O artigo fala que, apesar de chamarmos esses brinquedinhos todos de “redes sociais” (twitter, FB, pinterest, etc), na verdade eles têm muito pouco de social.
Estão mais para uma sucessão de monólogos, acompanhados por muitos. Mas não carregam o sentido essêncial do social, que é o fazer algo juntos.
O conteúdo das redes sociais é feito por sujeitos… como sujeitos. Como na época do Mad Men. O restaurante que EU estou, a cerveja que EU estou tomando, a praia onde EU estou, etc.
Sei que nesse momento do texto corro um risco danado de parecer um rabugento, por causa desse frio que provoquei na sua barriga ao fazer você imaginar se não é esse o seu caso. Não foi minha intenção, isso não é uma crítica, mas sim um convite pra gente pensar juntos. Porque obviamente esse é o seu caso. É o meu caso também, é o de todo mundo.
Não é uma crítica, é uma constatação, que acho que vale a pena refletir, principalmente porque muitos aqui trabalham com comunicação.
Mas então, se não é pra usar essas redes para dividir experiências pessoais, vai servir pra quê? (ah, o “pra quê”… sou apaixonado por essa pergunta, troque todos os seus “por ques” por “pra ques” e entenda o que estou falando. Mas tô desviando, vamos voltar).
Quando penso nisso, acabo imaginando se não vamos, um dia, seguir pelo mesmo caminho da propaganda que aprendeu a falar ATRAVÉS das marcas.
Talvez a gente ainda vá aprender a falar ATRAVÉS das nossas experiências. Uma coisa é falar que está trânsito na estrada. Outra coisa é falar isso e sugerir uma rota alternativa. Ou, nem precisa ter essa função de utilidade, mas sei lá, fazer uma piada que sirva para outros motoristas desestressarem um pouco.
É que nem festinha de criança: se veio te prestigiar, tem que sair com uma lembrancinha.
Acho que por força do hábito da profissão, não consigo imaginar interromper alguém sem dar algo em troca. Mesmo que seja algo muito subjetivo como um sorriso, uma lágrima, um pensamento.
Não se trata de fazer tuitadas cabeçudas, ou fazer um post-Lusíadas pelo Facebook. Basta se colocar no lugar de quem vai ler. É a mesma mensagem, mas com um brasilino de presente. É preciso ser relevante para que uma conversa exista.
E você o que acha?
Acha que a nossa comunicação pessoal vai passar pelas mesmas etapas da comunicação profissional?
Será que campanha das suas ideias, aquelas que merecem ser compartilhadas, está mesmo sendo feita do melhor jeito?
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Gosto muito desse raciocínio de dar algo em troca. Isso tem a ver com pensar comunicação (de marca ou sua, qualquer uma) como serviço. Mas, pra mim, serviço não é assistência técnica. Serviço é servir.
Servir no sentido mais nobre the palavra.
E também servir para alguma coisa. :)
Excelente post. Do meu ponto de vista, por mais que diga-se por aí que as mídias são são sociais, eu acredito que são. Elas foram criadas e estruturadas com este objetivo. A grande questão, é a forma que as pessoas usam, principalmente os brasileiros. Realmente, estas mídias tornaram-se uma enorme vitrine onde pessoas fazem seus monólogos para se auto afirmar. Querem parecer mais legais, mais bonitas, mais cultas, mais qualquer coisa, e no fim, esquecem o objetivo principal que é se sociabilizar.
Acredito que as pessoas estnao fazendo um caminho inverso the propaganda, pelo menos eu sentia que antes das midias sociais, as pessoas conversavam na hora do almoço, se ligavam, saiam para trocar novidades, havia a troca. Hoje isso é em menor escala. Já as empresas, começaram no óieu e agira estão aprendendo na marra que tem que ser relevante, tem que ter conteúdo, tem que ser mais pessoal e menos corporation. Temos aí exemplos como Ponto Frio, Bradesco, entre outras.
As pessoas aprenderam que elas possuem uma voz, só que falam mais do que se relacionam, muito menos trabalhoso clicar no like, do que colocar ali sua opinião. Para que estruturar um ponto de vista se existe um botão de like? Acho que tanta facilidade, corre o risco de trazer uma geração de preguiçosos. Torço para que essa evolução de ser gentil não para compartilhar no facebook, mas porque se sentiria mal se o não fizesse, um dia aconteça.
Muito boa a reflexão…há muito para se pensar em "sociais".
Como sempre, obrigado, Wagnão!
Valeu Alê!
Outro dia, a minha filha, a Juju, me perguntou porque eu estava postando uma foto. Eu disse que era uma foto bacana, de um momento legal e que eu queria mostrar pra algumas pessoas… Resposta adequada pra ela e confortável pra mim. Lógico que, como a maioria das perguntas que ela me faz, fiquei pensando na minha resposta. Será? Pra que mesmo? Depois que recebi, sei lá, uns 6 likes, me senti melhor… Por quê mesmo? As redes sociais como reflexo das nossas relações sociais… Acho que ainda não passamos pelo estágio the gentileza sincera nas redes sociais. Aquele estágio em que você, por aqui na rua, sinceramente faz algo, como dar passagem para uma pessoa mais idosa na escada rolante ou mostrar pra a pessoa que está ao seu lado uma cena interessante. Mas por aqui, você não sai por aí dizendo que fez isso e fica esperando uns tapinhas nas costas dos seus amigos. "Olha isso que bacana que Eu vi aqui, que Eu fiz, olha e me dá um tapinha se vocês gostaram…" Isso é um game. Friends demais, likes demais. Por quê mesmo? No final, acho que a resposta pra Juju seria a mesma, mas na verdade, a mudança deveria ser na minha atitude. Aquela foto, aquele momento não deveria ser para todos os meus friends, mas só para alguns amigos.
eu curti o seu texto! E concordo que tem coisas que a gente só compartilha com os verdadeiros friends, os mais reais, menos virtuais!!
Estou estudando comunicação e as vezes aquela dúvida, que como você mesmo disse, dá aquele friozinho na barriga vem assombrar as certezas que tenho.
Acredito que essa discussão que você propõe, é a mais produtiva que podemos ter no momento. Ainda assim é justamente a que está faltando nos cursos e faculdades por aí.
Se ensina, e não se pergunta os "por ques" e nem os "pra ques".
Ótimo texto!
Ôpa, parabéns pelo texto e visão bem crítica da realidade. Vou botar um pouco de farofa nesse ventilador. Espalhar sem consequência, apenas pelo prazer de fazer. Seguinte, imagine o dia que uma peça de comunicação despertar tesão de verdade. Não apenas o ver um viral porque preciso estar up to date. Imagine que as pessoas vejam e vejam e vejam determinada peça com vontade e recomendem. A marca por trás disso não vai ter preço. Um dia me peguei dizendo que propaganda não era arte, apenas usava da arte. E me achei esperto e inteligente. Hoje, penso que a saída é fazer arte, de verdade, honesta em seu íntimo, que seja usada para vender. Acho que em alguns momentos a comunicação atingiu esse ponto, mas são muito poucas ocasiões. Quando a propaganda atinge o status de arte, alguém ganhou o dia.
Belíssimo post.
Eu concordo 100%.
Li tb um artigo na Wired, há alguns meses, falando que quem via "social media" como social tinha uma perspectiva ingênua. É muito mais "media" do que social, afinal.
Mas essa sua reflexão, que é ainda mais profunda, me parece mais oportuna do que nunca. A gentileza, a troca.
Isso que vc disse "não consigo interromper alguém sem dar algo em troca" é mais do que uma lição de elegância e convivência. è uma inspiração para conversas verdadeiras, dessas que não são apenas dois monólogos juntos.
Que a gente aprenda a escutar. E a falar na hora certa. Ter sabedoria pra saber quando falar e quando calar é coisa raríssima e tão difícil de alcançar. Mas, nem por isso, a gente precisa desistir de tentar.
Você é um exemplo nesse sentido pra mim, Wagner. E essa é uma das razões pelas quais eu me sinto tão motivada, e tão honrada, em fazer parte do UoD. :)
Beijos, Fabi
Obrigado Fabi. Sua linha tb é essa que eu sei ;)
Rede sociais que não são nada "sociais". Leia esse post e reflita sobre o que anda escrevendo por aí e por aqui:
Acho que já está passando. Parece ter acontecido o efeito reverso. Quando apareceram as redes sociais todo mundo queria criar, discutir, fazer coisas juntos. Aí parece ter saturado e com o advento de ferramentas que facilitaram esse compartilhamento (Twitter / Facebook), o clique do botão virou a onda do momento. É mais fácil clicar que parar, pensar, estruturar um raciocínio e compartilhar seu pensamento para que outros venham e façam o mesmo processo. Tudo leva a crer que o jogo vai virar de novo. Está saturando essa quantidade absurda de conteúdos bons ao mesmo tempo agora. Se realmente as redes sociais voltarem a ser mais sociais, a pergunta vai ser: por quanto tempo?
Sim. Pode ser que a gente precise desenvolver um "consuma com moderação" também para conteúdos. Volume é um problema. Mas tom também é. Acho que se segurarmos um pouco as emissões "por impulso" (like vicia), e juntarmos um pouco de experiiencia de vida + experiiencia profissional e fazer esse compartilhamento com visões, talvez naturalmente irão surgir novamente os filtors. Talvez a gente vea passar de uma fase de curadores para outra de contextualizadores. Ou não!
Eu acredito muito que quanto mais a cultura do like "a rodo" for disseminada, maior a possibilidade de saturação e volta às origens. Ao menos está sendo assim comigo. Estou desacelerando, sendo mais seletivo, tentando (não sei se conseguindo) consumir com mais reflexão sobre o que estou observando. O próximo passo é voltar a compartilhar essas reflexões. Talvez alguns nunca encham o saco desse bombardeio de conteúdo. Talvez demore uns demorem mais que os outros. A gente não vai ter uma resposta final, mas parece a tendência no meio de toda essa avalanche é essa. (ou não hahahaha)
Eu acredito muito que quanto mais a cultura do like "a rodo" for disseminada, maior a possibilidade de saturação e volta às origens. Ao menos está sendo assim comigo. Estou desacelerando, sendo mais seletivo, tentando (não sei se conseguindo) consumir com mais reflexão o que tenho visto. O próximo passo é voltar a compartilhar essas reflexões.
Talvez alguns nunca encham o saco desse bombardeio de conteúdo. Talvez uns demorem mais que os outros. A gente não vai ter uma resposta final, mas parece a tendência no meio de toda essa avalanche é essa. (ou não hahahaha)
clap clap clap rs…
Coitado de vc, já ouviu essa minha ladainha quantas vezes? Hehehe, tks.
Wagner Brenner toda vez q vc me interrompe é para me ensinar algo… :)