Alerta de Spoiler.
Todo ano, na época do Oscar, é a mesma coisa: a cada nova sessão de cinema eu juro amor eterno e garanto que aquele ali é o melhor filme de todos os tempos. Esse ano já tinha me apaixonado várias vezes e achei que já estivesse tudo decidido.
Primeiro foi Roma, depois foi Green Book e por último fechei com A Favorita, mas como ainda não tinha visto nenhum dos indicados estrangeiros, fui precipitada, eles sempre mudam tudo.
Cafarnaum, concorrente libânes escrito e dirigido por Nadine Labaki começa com um menino de onze anos, refugiado sírio, que cometeu um crime e está nos tribunais processando seus pais por ter nascido.
“O que você quer deles?” O juiz pergunta.
“Quero que eles parem de ter filhos”, responde Zain.
Só por essa cena fica até fácil imaginar porque o longa foi aplaudido por 15 minutos durante sua exibição no festival de Cannes 2018.
Quinze minutos de aplausos, e uma bela Palma de Ouro.
Muito pouco por todas as sensações que essas duas horas e meia de cinema causam.
Muito pouco pela forma certeira com que Nadine consegue nos passar uma dor tão violenta de forma leve e poética.
Muito pouco pela grandiosidade da atuação de Al Rafeea, menino sírio de 12 anos que, na época da filmagem, já vivia por oito anos como refugiado em Beirut.
Tirando a parte do processo contra os pais, todo material do filme é baseado em pesquisas e entrevistas que Nadine fez com crianças refugiadas e marginalizadas durante três anos.
No fim de cada entrevista a diretora perguntava se a criança estava feliz por estar viva. “Não” foi a maioria das respostas.
É um filme que faz a gente sair atordoado do cinema, e até mastigar uma pipoca parece um ato leviano diante do que estamos vendo na tela. Quase como um ato de respeito, talvez fosse melhor nem comer.
Zain dá voz a todas as crianças jogadas a própria sorte por aí.
Uma fábula política disfarçada de filme estrangeiro favorito ao Oscar.
Quinze minutos de aplauso pode ser muito para festival.
Mas não muda nada na vida real.
O filme grita por ação.
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Processar por ter nascido? Mas nem todo país permite o aborto de forma legal…