Se “sustentabilidade” é a palavra de ordem num mundo de pessoas cada vez mais conscientes em relação ao meio ambiente, a indústria da Moda tem sofrido grande pressão para correr atrás de novos caminhos que solucionem seu maior problema: a interferência nociva na natureza e, em alguns casos, destrutiva!
Conforme mencionado na parte 2 dessa pequena série “Boas novas do universo da Moda”, foi a partir principalmente dos anos 80 que se tornou mais forte e efetivo o despertamento (geral e irreversível) sobre a crueldade a que os animais sempre foram submetidos para que suas peles fossem utilizadas na Moda.
Aí eu fico pensando que num belo dia, do nada, alguém se tocou de que era uma hipocrisia colocar as peles como vilãs absolutas e solitárias num pódio que ainda cabia o couro.
Mas e agora?! A presença do couro na Moda é muito mais maciça e abrangente do que a pele e, portanto, de muito mais difícil solução!
Sem falar na resistência e durabilidade do material, portanto, como superar o couro animal?!
Outras possibilidades foram encontradas e amplamente utilizadas não só no vestuário (também no setor moveleiro e automotivo, por exemplo), como o “couro sintético”, feito a partir de compostos químicos oriundos do petróleo e o “couro ecológico”, feito através de uma técnica de impermeabilização a partir do látex natural extraído das seringueiras.
Mas ainda assim o couro animal continuava a ser produzido em larga escala e parecia não perder espaço, mesmo com essas outras alternativas.
Quem é minimamente atento pode atestar que só agora, coisa de poucos anos pra cá, é que temos visto uma postura mais decidida em relação à diminuição do uso do couro porque, sendo bem realista, o fim total do seu emprego na Moda não soa viável, pelo menos não a curto ou médio prazo.
De tudo o que já foi tentado para, de uma vez por todas, substituir o couro animal, a solução mais bem sucedida e empolgante vem do México: o couro de cacto!
Essa ideia brilhante nasceu do encontro mágico entre Adrián López Velarde e Marte Cázarez, empreendedores mexicanos que, além de conterrâneos, têm em comum a mesmíssima data de nascimento (dia, mês e ano iguais). Com certeza isso quer dizer alguma coisa! rs
Adrián estudou Política e Economia Global na Universidade Tamkang, em Taiwan.
Marte formou-se em Negócios Internacionais no Tecnológico de Monterrey e tinha ido à ilha asiática aprender chinês.
De volta ao México, eles decidiram se juntar para criar algum projeto na Moda, já que os dois tinham experiência nessa área.
Depois de 2 anos incansáveis, de fracasso em fracasso, eles chegaram a uma técnica capaz de transformar cacto em “couro orgânico” e batizaram esse material de “Desserto”, um produto inédito no mundo!
A espécie Nopal (conhecida no Brasil como Figueira da Índia) foi a escolhida por 4 motivos imbatíveis:
-cresce naturalmente no estado de Zacatecas, onde fica a plantação deles;
-possui espinhos pequenos
-é altamente resistente ao frio, o que permite o acesso contínuo à matéria-prima durante todo o ano;
-e não exige irrigação ou adubo, já que é muito bem adaptado a um ambiente árido e ao solo local, rico em minerais.
Nada mais ecológico do que isso, hein?
O 1º passo da produção consiste em selecionar e colher apenas as folhas maduras, sem nenhum dano à “planta-mãe”, que continuará gerando novas folhas a cada 6 ou 8 meses.
Colhidas as folhas maduras, elas são trituradas e secas ao sol por 3 dias e então são congeladas para que uma proteína presente na planta seja extraída. A seguir, o pó retirado dessa etapa é misturado a outras substâncias químicas não-tóxicas (dentre elas, uma fórmula secreta já patenteada) e agregada ao algodão ou poliéster reciclado para, enfim, serem transformadas em longas folhas de “couro”, que podem receber a cor, forma e textura que o cliente desejar.
O tecido resultante desse processo tem a consistência e a aparência do couro convencional, com a diferença óbvia de que nenhum animal foi sacrificado.
E por ser orgânico, o tecido permite a passagem de ar, o que é um problema nos materiais sintéticos.
Quanto à durabilidade, a previsão dos empresários é que o “couro vegano” tenha uma vida útil de pelo menos 10 anos, bem acima da vida do “couro sintético”, que é de 4 anos.
Outra grande vantagem é que esse material é parcialmente biodegradável, o que o torna ainda mais valioso. Os empresários ainda estão ajudando a replantar os cactos nativos da região, contribuindo assim com a biodiversidade da área.
Eles criaram uma empresa, a Adriano di Marti, para produzir o Desserto, que será comercializado como matéria-prima para a indústria, já que ele atende às especificações técnicas e mecânicas dos setores que trabalham com couro.
O material já foi apresentado em eventos de moda em Milão e Sidney, onde foi recebido com entusiasmo e o preço, segundo eles, é quase o mesmo do couro animal.
Essa micro série sobre Moda, contendo 3 capítulos (por enquanto) demonstrou que em tudo nessa vida vale a máxima “update or die”!
:)
Fica a nossa torcida pra que o Desserto prospere e conquiste o mundo!
E pra quem quiser acompanhar sua evolução, vai aí os endereços úteis: o site e o instragam da marca