Um assunto que vem sendo discutido bastante na academia e nas comunidades que desenvolvem inteligência artificial é o que dá nome ao título deste texto. Tenho participado dessas discussões desde 2017 e algo que me incomoda bastante é não ter visto a expansão deste debate na sociedade brasileira. Não sei explicar o motivo, talvez tenhamos outras prioridades. De qualquer forma, um dos vetores da sociedade baseada no conhecimento, a quarta revolução industrial, tem tido seus 15 minutos de fama aqui e ali. Bom, para começar as apresentações é preciso dizer que a nomenclatura (e o assunto) não é nova. Um dos livros com mais citações é de 2001 [1] (mais info aqui e aqui).
O termo sociedade baseada no conhecimento refere-se a sociedades bem educadas e que, portanto, contam com o conhecimento de seus cidadãos para impulsionar a inovação, o empreendedorismo e o dinamismo da economia. Esta é a definição mais aceita, reproduzida em entradas explicativas do termo, como a do dicionário da IGI Global e da Organização dos Estados Americanos. A base teórica começa com o trabalho de Edith Penrose sobre o crescimento das empresas, cuja produtividade e capacidade de crescimento eram determinadas pelos seus recursos (econômicos e intelectuais) [2] e passa pelo de Robert M. Grant, que conceptualiza as empresas como instituições que integram conhecimento [3]. Inicialmente focando na aplicação e posteriormente na criação, para desenvolvimento de inovação.
A questão principal é que a mudança tecnológica impulsiona a demanda por mão de obra qualificada e estimula uma atualização de habilidades nas economias ao redor do globo. O capital intelectual (por exemplo, novas ideias), mais do que o tamanho atual das economias ou investimentos financeiros externos, são as novas chaves para a prosperidade e a riqueza das nações [4]. Kefela argumenta que “para se tornar uma economia baseada no conhecimento de sucesso, os países devem atuar simultaneamente em sua educação base, seus sistemas de inovação e suas informações e infraestrutura de tecnologia e de comunicação, enquanto também constroem um regime econômico e institucional de alta qualidade”. Confesso que não é o que vejo por aqui quando assisto aos telejornais noturnos ou leio as manchetes de jornais.
Gosto muito da imagem abaixo (pode ser acessada aqui), que se baseia em dados de entidades como FMI, Banco Mundial e OCDE e que consta no trabalho de Konak e Kendirli [5]. Ali, é possível ver o investimento em pesquisa e desenvolvimento (o tamanho dos círculos), com o número de cientistas e engenheiros (eixo y) e a percentagem de crescimento do PIB (eixo x). Os países analisados com mais crescimento, são os que mais investem em desenvolvimento de propriedade intelectual.
Para se ter uma economia baseada no conhecimento e gerar inovação, é preciso que se estimule a educação, o conhecimento aplicado à propriedade intelectual e o multiculturalismo. As pessoas são o recurso principal e deveriam receber a maior ênfase possível para desenvolver habilidades, atualizar seus conhecimentos, competências, atitudes de trabalho e motivação. Em termos mais amplos, é estratégico defender a educação e o conhecimento como modo de empoderar as pessoas e estimulá-las a quererem se tornar mais inteligentes e cultas. A lógica é que pessoas melhor preparadas dispõem de mais possibilidades para inovar. Projeta-se que, por meio de uma sociedade baseada em conhecimento, o nível do PIB do país pode aumentar 4 vezes em 20 ou 25 anos [5]. Por que será que não estamos a caminho disto?
[1] LEYDESDORFF, L. A sociological theory of communication. The self-organization of the knowledge-based society. Parkland, FL: Universal, 2001.
[2] PENROSE, E. The Theory of the Growth of the Firm. Oxford University Press. 4th edition, 2009.
[3] GRANT, R.M. Toward a knowledge‐based theory of the firm. Strat. Mgmt. J., 17: 109-122. 1996. https://doi.org/10.1002/smj.4250171110
[4] KEFELA, G. Knowledge-based economy and society has become a vital commodity to countries. International NGO Journal. 5. 160-166. 2010.
[5] KONAK, F.; KENDIRLI, S. 2014. Impact of R&D Expenses on Firm Performance: Empirical Evidence from the BIST Information Technology Index. International Conference on Economic Sciences and Business Administration, Spiru Haret University, vol. 1(1), pages 192-197, December.
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Faltou citar referência de Pierre Lev e Manuel Castells percursores das teorias aqui abordadas e com citações anteriores a data de 2001
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Olá, gostei desse post. O que quero falar a seguir não é uma crítica nem nada disso, afinal nunca cheguei a estudar sobre isso. Mas, assim como toda sociedade, sempre vai existir alguém “superior”, nesse caso o superior seria a pessoa que estudou bastante. E como seria a outra parte? Afinal as pessoas nunca serão iguais, sempre existirá alguém que não estudou muito. E também, se a sociedade em uns 80% com ensino superior teria pessoas suficientes para trabalhos manuais q as maq não dão conta?