“Instalivro” é o nome de um novo formato de livro criado para o Instagram. Ilustrado pela artista Tuia e escrito por três jornalistas de São Paulo e do ABC paulista, o instalivro “Noturno” narra histórias que acontecem nos ônibus que circulam durante a madrugada na capital paulista. O formato instalivro é parte de um movimento para subverter a lógica do papel, baratear custos e ter alcance maior para autores, em uma época de influenciadores e criação massiva de conteúdo digital.
Ao longo de três meses, os jornalistas Lucas Alves, Marcos Candido e Rafael Moura produziram uma série de crônicas sobre os personagens da madrugada paulistana: engraçadas e também dramáticas, as histórias mostram pessoas como um motorista que largou a faculdade para dirigir ônibus, uma prostituta que reclama da crise econômica, a única mulher motorista da madrugada e até uma fuga policial feita por um passageiro na tentativa de se livrar de um crime. Todas as histórias são reais.
A artista Tuia, designer visual na consultoria de inovação Questtonó, criou templates com as histórias que podem ser lidas diretamente nos Stories do Instagram e desenvolveu artes para ilustrar cada uma das crônicas. A ideia é que o livro possa ser lido por qualquer um, a qualquer momento, de graça e na plataforma onde as pessoas mais passam tempo. Tuia também é autora do fotolivro “Diários de uma porteira”, sobre a massiva rotina de cuidar de uma portaria em São Paulo. Foi parceira da Cérebro Surdo Produções, onde desenvolveu capas de discos e identidades para festas de funk, rap e reggaeton e elaborou todos os painéis de “Noturno”. As imagens também ficam disponíveis no Feed do Insta.
Em anexo, a gente deixa algumas imagens de como são as artes e os layouts :)
Instalivro: Tendência de conteúdo troca o papel pelo digital
O instalivro usa a função stories do Instagram para trazer as crônicas de maneira interativa. Basta acessar a conta @cronicasnoturno e ler, como se faz para ver as fotos e publicações de amigos. Já no feed, as chamadas para as histórias são acompanhadas por ilustrações criadas pela designer Tuia, prontas para serem compartilhadas, curtidas e comentadas pelos leitores. A ideia é que o conteúdo seja mais acessível e garanta praticidade ao leitor, que pode inclusive ler enquanto passa o tempo no transporte coletivo.
O formato instalivro (do inglês: insta novel) é inspirado em um projeto de adaptação de livros da Biblioteca Pública de Nova York, nos EUA. O trabalho foi premiado por adaptar obras com “A metamorfose”, de Franz Kafka, e “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Caroll.
Não é a primeira obra que busca leitores nas redes sociais. Em 2016, a poeta canadense Rupi Kaur ficou conhecida mundialmente a ponto de iniciar o movimento instapoetry, ou poesia criada, pensada e adaptada para as redes sociais. Além de sucesso de vendas na versão impressa, hoje Kaur tem 4 milhões de seguidores somente no Instagram.
“Procuramos editais da Prefeitura para viabilizar o livro na versão impressa, mas além de escassos durante a pandemia do novo coronavírus, vimos que o formato já não fazia tanto sentido. Os leitores estão nas redes sociais, que são usadas de graça, democratizam a leitura e ainda aumentam o alcance da nossa obra”, explica Rafael Moura, um dos autores.
As histórias do Noturno, o ônibus da madrugada de São Paulo
O ônibus da madrugada retratado em “Noturno” opera hoje em toda a cidade de São Paulo, da meia-noite às 4h da manhã. São 151 linhas que oferecem um cenário completamente diferente daquele enfrentado durante o dia – onde há assentos lotados e pressa para chegar em casa.
Entre as histórias contadas nas crônicas, estão a de um chapeiro de padaria que sofria com homofobia dos colegas e tinha o sonho de viajar para o Canadá, onde imaginava que poderia ser aceito. Também há personagens como um grupo de garçons que apostava tudo o que ganhava no baralho; um passageiro que usou o ônibus para fugir do cerco da polícia; uma mulher que lutou contra uma tentativa de feminicídio; e a de um segurança orgulhoso por ter trabalhado em campo durante uma partida da Copa do Mundo no Brasil, embora não tenha visto o jogo, pois ficava de costas para o gramado.
“Aquele ambiente vazio e solitário de ônibus da noite se transformava quando a gente sentava para conversar com as pessoas, que se mostraram muito mais abertas do que costumam ser durante o dia. O espaço se tornava um lugar acolhedor e íntimo, o que foi uma das nossas principais descobertas e fez com que pudéssemos coletar relatos bem mais ricos. Tinha muita vida ali’”, diz Lucas Alves, também autor de Noturno.
O instalivro “Noturno” está disponível e aberto a qualquer leitor no Instagram: @cronicasnoturno. Basta seguir e acompanhar pelos stories e no feed. Até o fim de abril de 2021, o projeto vai publicar uma crônica a cada terça-feira.
SOBRE O NOTURNO
Noturno é um instalivro de crônicas com histórias sobre o ônibus da madrugada da cidade de São Paulo.
O livro adaptado para o Instagram traz uma série de relatos que só acontecem no transporte da madrugada e conta a história de diversas pessoas que utilizam o coletivo, como trabalhadores noturnos e jovens rolezeiros. Criada em 2016, a rede de ônibus funciona da meia-noite às 4h da manhã e conta com 150 linhas que conectam todas as zonas da cidade, que fica bem mais vazia e solitária do que durante o dia.
O livro foi publicado em 2020 e pode ser acessado pelo Instagram: @cronicasnoturno. Ele é escrito pelos jornalistas Lucas Alves, Marcos Candido e Rafael Moura. O projeto gráfico e as ilustrações são da designer Tuia.
SOBRE OS AUTORES
Lucas Alves é jornalista. Foi repórter nas revistas Brasileiros e Fluir e também no portal iG. Colaborou para veículos como VICE, Revista Trip e HuffPost Brasil. Participou de coletivos ligados a temas como educação e juventude e hoje é estrategista de conteúdo da consultoria de inovação Questtonó.
Marcos Candido é jornalista e repórter do UOL. Já foi repórter das revistas Trip e Tpm, com textos publicados nas revistas Piauí e Superinteressante, e também na Folha de S. Paulo. Escreve para a internet desde os 11 anos de idade. Aos 15, era colaborador do caderno Folhateen, da Folha de S. Paulo.
Rafael Moura é jornalista por formação e publicitário por profissão, com trabalhos de texto, ensaios fotográficos e vídeo documental publicados em UOL Tab, revista Piauí e Vice Brasil, com passagem pelo Jornal da Band e rádio Band News. Hoje é planejador estratégico na agência Talent Marcel, antes na F/Nazca S&S.
SOBRE A ARTISTA
Tuia é artista visual, designer e fotógrafa. Publicou o fotolivro “Diários de uma porteira”, com a autora Priscila S., sobre a massiva rotina de cuidar de uma portaria em São Paulo. Foi parceira da Cérebro Surdo Produções, onde desenvolveu capas de discos e identidades para festas de funk, rap e reggaeton. Hoje é designer visual na consultoria de inovação Questtonó.