Filmes para assistir: “Meu eu do futuro”

Uma “sessão da tarde” divertida, o filme conta com Aubrey Plaza no elenco.
Duas mulheres deitadas conversando em uma cama. Duas mulheres deitadas conversando em uma cama.

Não dá pra contar quantos filmes já colocaram um personagem conversando com sua versão mais jovem ou mais velha. Mas “Meu eu do futuro” (My Old Ass, 2024), que estreou no Prime Video, refresca alguns cálculos dessa fórmula. Aos 18 anos, Elliott Labrant (Maisy Stella) só pensa em se mudar da fazenda onde mora com os pais, no Canadá. Prestes a ir para faculdade, ela e suas melhores amigas tomam um chá de cogumelo. A brisa é muito boa. E a versão de 39 anos de Elliott, interpretada por Aubrey Plaza, surge para a garota. 

A falta de semelhança física entre as duas atrizes não é um problema. Faz parte do jogo. A primeira qualidade que a diretora e roteirista do filme, Megan Park, extrai da história é uma inversão dos clichês. Quando o espectador está comprando os rumos para onde a história vai, Park vira o leme para o outro lado. E mesmo as lições morais tão inevitáveis, iluminam outro ponto de vista. 

Um exemplo ótimo está, inclusive, no modo como a sexualidade de Elliot é abordada. Dá pra reconhecer na garota um pedantismo, um tipo de discurso super presente nas redes sociais, mas que ao ser confrontado com a vida fora das telas, leva um choque. Nada é muito certo mesmo. E aos 39 anos, 98% das pessoas viverão longe do roteiro idealizado. Ao que parece, Megan Park entende a ansiedade da geração Z e usa Elliot como um filtro. 

Amigas conversando ao redor da fogueira ao ar livre.

Depois da brisa, o laço entre as duas versões é mantido por meios fantasiosos e ainda assim, verossímeis. Aos 18, Elliot quer todo tipo de conselho sobre o que não fazer, e recebe apenas um: “fique longe de um cara chamado Chad”. O filme usa esse enigma para brincar com a fantasia do próprio público já que o tal garoto (Percy Hynes-White) é como o mistério que o envolve: magnético, meio bobo e carismático. 

Se o romance entre os dois não desvia de muita coisa que outros filmes já abordaram, parte do sucesso está na interação entre os dois atores, perfeitamente reconhecíveis como jovens saídos da adolescência, encantados com tudo que a vida possibilita. Mas é Aubrey Plaza, uma atriz cada vez mais interessante, quem tira “Meu eu do futuro” de qualquer terreno clichê. Em uma única mensagem de voz, Plaza junta frustração e coragem, arrependimento e uma dose de ironia, balançando a mensagem de que “a vida é agora”. É bom ver o quanto ela se divertiu em cena, aproveitando o absurdo da proposta para baixar o tom nonsense e encontrar algo que se conectaria com qualquer espectador. 

A comédia deixa alguns fios pelo caminho. Não tem importância. Ao longo daquela 1h e meia, sem inovação ou revolução,  “Meu eu do futuro” cria um lugar reconfortante e aconchegante, capaz de restaurar – pelo menos um pouquinho – a fé em si mesmo. Às vezes, só se precisa disso.