Cena de beijo gay na novela, discurso de veículos em favor da diversidade (mas cadê os atores/atrizes feios que existiam na minha infância porque eram talentosos?), reportagens sobre atos terroristas com linguagem e edição de cinema, reporter que pergunta “isso é muito sofrimento para você?”
Sua causa, seus valores, suas crenças, sua luta… tudo isso tem se transformado em uma única coisa: entretenimento.
E por que? Porque “entertainment is where the money is”, como bem sabe qualquer empreendedor.
Claro, sempre existiu essa hipocrisia. Mas tenho a sensação de que hoje a coisa saiu do controle. De um lado, um monte de gente querendo fazer mais e mais e mais dinheiro. E de outro, toda uma geração (geração no sentido de todos nós que estamos vivos agora) com um grau de ingenuidade absurda e que acredita mesmo que basta alguém se dizer “pela causa” para ser, de fato, por ela.
Não. A única causa, não se iluda, é a própria. Zero de altruísmo. Mil de vontade de projetar uma imagem pegando carona na causa vigente.
Ou será que esses temas todos “entraram na moda de repente, ao mesmo tempo” e todas as marcas, veículos e engajados de plantão tiveram uma iluminação divina e simultânea, para esse despertar coletivo?
Não me entenda mal. Acho realmente louvável a vontade de se criar um mundo melhor e mais justo. E é justamente por isso que me irrito tanto quando percebo marcas, veículos e pessoas usando a sua causa… em causa própria. Para aparecer.
Pegar carona na tragédia alheia para ficar bem na foto é uma das coisas mais baixas que um ser humano pode fazer.
Diversidade, gênero, racismo, assédio. Tudo isso é sério demais para se usar em causa própria.
Quer ser engajado de verdade? Então FAÇA alguma coisa que vá além desse verniz raso do “eu também tô nessa!”.
Se eu fizesse parte de alguma dessas minorias eu ficaria PUTO se alguma marca ou amigo começasse a usar, o que para mim é sofrimento e dificuldade, só para passar por moderninho.
Bom, chega. Vamos ao comercial da Pepsi com a modelo Kendall Jenner. Você já deve estar ouvindo um monte sofre ele por aí.
https://www.youtube.com/watch?v=dA5Yq1DLSmQ
Fora que é um roteiro requentadíssimo.
E tantos outros.
Já acumulo mais de 3 décadas como publicitário e não sou hipócrita. Sei exatamente a ilusão que sempre fez parte desse ofício. Mas tá demais.
Li hoje de manhã uma expressão ótima: “Don’t commodify the Struggle”.
“Don’t commodify the Struggle”.
Detectou uma hipocrisia? Boicote. Seja marca, veículo ou amigo.
PS: confira essa divertida análise “cena por cena” do comercial.
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Muito bom, fico feliz que alguém tenha exteriorizado esse sentimento que eu tinha medo de expressar por pressão do discurso politicamente correto.
Poucas coisas nessa vida causam tanta raiva, nojo e vergonha alheia AO MESMO TEMPO como isso aí!
“Mercantilizar a luta” e torná-la a “modinha do momento”, com esse ferrenho “ativistmo de sofá” que vemos ultimamente é das coisas mais pôdres que as redes sociais legaram ao mundo.
Preguiça abissal!
Senhor Wagner, me explique por favor: o que está acontecendo? Sério, não é possível esse comercial existir. O problema desse case não é o engajamento. Ele é ruim por si só mesmo. E careta! O pessoal da Pepsi andou conversando com o pessoal da Amazon?. É tendência na propaganda hoje incompetência coletiva? Faça por favor um post sobre isso: me explique como um bando de gente dita “profissionais do ramo” aprova tal coisa. Cria tal coisa ( e insisto: careta!). São empresas gigantescas, “trilhardárias”, deveriam ter a melhor equipe publicitária, certo? Mas o filme todo é muito amador. E falando sobre diversidade, alguém viu algum gordo no filme? Deficiente físico? Como foi dito, comercial tem sempre um pouco de ilusão ( mentiras sinceras me interessam), mas se o tema é social então tem que ter um pouquinho de realidade também. Nem que seja com um modelo plus size representando a categoria. Por isso, Pedro, que existe sim um limite para a ilusão, porque quando passa desse limite o público não acredita na mensagem. E no produto por consequência. E mais uma vez: quanta caretice! Saudades da época do Staroup…
Hahaha pois é, além de tudo, é ruim pacas. Dá uma lida nesses 2 textos ó:
http://www.adteachings.com/post/159211789955/if-a-random-selection-of-tweets-is-any-indication
http://www.adteachings.com/post/159223779335/im-almost-done-ranting-about-that-pepsi-spot
Valeu! Ótimos textos, entendi: muito cacique pra pouco índio. E tem um pessoal por aí ganhando uma grana por palestras sobre modelos de gestão, liderança, “design thinking!!” Isso é “design thinking” equivocado na veia! Hahaha! Por isso o comercial é uma colcha de retalhos, um patchwork de idéias “geniais”. Não tem um cabeça ( vulgo chefe) pra dar limites, uma linha de raciocínio, o traço …. Enfim, a melhor piada do twitter é : “O comercial foi feito pela Coca.”
Na real, existem algumas tendências (ver trendwatching.com) e pesquisas que mostram que as pessoas estão cada vez mais desacreditadas em seus governos (principalmente na America Latina) e que as marcas deveriam resolver problemas sociais e culturais, terem responsabilidades além do vender e fazer dinheiro. É isso o que elas estão fazendo: assumindo causas, propósitos e que bom que alguém está. Muito bom ver marcas trazendo à tona as minorias, a diversidade. Tolerância, empoderamento e diversidade são as palavras-chave dos próximos anos. E que bom que são!
Fonte:
8 a cada 10 consumidores preferem comprar um produto de uma empresa que apoia boas causas do que outra que simplesmente oferece descontos. Purpose, Edelman, janeiro de 2013.
●Quase 85% dos consumidores no mundo inteiro esperam que as empresas se envolvam ativamente no avanço do bem-estar coletivo, um aumento de 15% comparado com 2010 (Fonte: Havas Media, novembro de 2015).
●Porém, somente 28% das pessoas acham que as empresas estão trabalhando bastante para resolver os grandes desafios sociais e ambientais (Fonte: Havas Media, novembro de 2015).
Ver também:
http://trendwatching.com/quarterly/2017-03/leo-burnett-talk-tolerance-diversity/
http://trendwatching.com/quarterly/2017-03/truthful-consumerism/empowerment/
Oi Juliana. Toda marca tem responsabilidade social desde que o Kotler ainda usava fralda. E assim deve ser. Mas o post é sobre oportunismo.
Eu tive uma outra interpretação desse vídeo. Acredito que a Pepsi errou em mostrar demais a marca, poderia ser um vídeo unbranding, Pepsi nem precisaria aparecer. Mas gosto sim que as marcas ao menos tentem jogar luz sobre minorias ou assuntos polêmicos. E conforme vão fazendo cagadas e as pessoas vão reclamando, elas vão ajustando para as próximas tentativas serem melhores. Marcas erram também, consertam, e tentam de novo até acertar (human brands). Se for olhar pelo viés do oportunismo, até a matéria cai nessa malha.
Caramba. Estava escrevendo um textão sobre esse vídeo (gentrificação de protesto da Pepsi) e, pisquei o olho, você foi mais rápido. Te odeio (mentirinha).
Ah, mas cabem muitos textos nisso. Manda pau.