Quando se discute uma tecnologia disruptiva (que altera modelos de negócios, formas de consumo e hierarquia de valores), é natural encontrarmos visões utópicas e distópicas, sonhos e pesadelos resultantes da adoção extrema desta nova tecnologia.
Com carros autônomos não é diferente.
Pelo lado utópico, a extrapolação de mobilidade, conectividade e eficiência energética (três elementos chave na sociedade de hoje), em “células de transporte autônomas”, que cruzam os ares em um mundo verde e arborizado:
O distópico, por sua vez, transforma as máquinas em seres sencientes ou facilmente controláveis à mercê de uma grande força do mal que visa acabar com a humanidade (ó!).
(Velozes e Furiosos é ficção, e longe até de ser científica)
A realidade, porém, é sempre menos poética e um pouco mais dura.
Os carros autônomos ainda enfrentarão uma série de questões técnico-funcionais, jurídicas e econômicas antes de estarem disponíveis a grande parte da população (as estimativas dos pesquisadores variam entre os anos de 2025 e 2070).
Antes de discutir os impactos inevitáveis em diversas indústrias, é necessário compreender que quase a totalidade das evoluções (tecnológicas ou biológicas) passam por fases, derivações, níveis. No caso dos carros autônomos, em 2016, a NHTSA (National Highway Traffic Safety Administration), órgão que regula os padrões adotados por meios de transporte nos Estados Unidos, adotou uma escala de 5 níveis para identificar – e, consequentemente, regular – o nível de autonomia em veículos.
Estes níveis levam em consideração o papel do condutor (motorista) e da máquina (veículo) na realização de tarefas ligadas à condução e o grau de autonomia dos ADAS (Advanced driver-assistance systems), sistemas/ferramentas que auxiliam o motorista na condução.
Nível 0
Não-automação
Aqui tratamos de veículos onde o motorista tem o total e único controle sobre o ato de dirigir em 100% do tempo, não contando com nenhuma ferramenta automática de auxílio.
Nível 1
Automação específica ou Direção Assistida
Envolve uma ou mais funções específicas de controle que auxiliam na condução do veículo considerando que o motorista tem a condição de re-obter o controle daquela função tão rapidamente quanto se ela não estivesse sendo utilizada.
Como exemplo: controle de estabilidade, controle de velocidade e ABS.
Nível 2
Automação combinada de funções ou Direção autônoma ocasional
Considera a automação de pelo menos 2 funções de controle primárias, trabalhando de forma combinada como, por exemplo, o controle de cruzeiro adaptativo (que mantém automaticamente certa distância do veículo à frente) e centralização de faixas (que controla o veículo longitudinalmente na faixa de rolamento, evitando que ele avance sobre outra faixa).
Neste modelo, o motorista pode – temporariamente – abster-se de suas funções como condutor, devendo, porém, retomar o controle quando o veículo for sair do espaço (rodovia, estrada, etc) requerido para que as funções autônomas sejam executadas.
Isto quer dizer que ele pode “até dormir” enquanto seu carro vai te levando durante o congestionamento (embora, claro, isto não seja nem recomendado, nem legalmente permitido):
Os modelos Tesla S estão atualmente neste nível, o que já é uma grande ajuda em trajetos longos e/ou congestionados:
Nível 3
Direção autônoma limitada
Do nível 2 para o 3 temos um avanço considerável. Neste nível o veículo possui controle total do ato de dirigir e das funções básicas que impactam na segurança de seus ocupantes, como aceleração, movimentação do volante e frenagem. Ele também está apto a seguir por uma rota pré-determinada de forma autônoma. Contudo, espera-se que o motorista (ou passageiro, depende do ponto de vista) assuma o controle após um breve alerta em condições adversas para o sistema autônomo do veículo.
Este modelo é o que vem sendo testado pelo Google, Tesla, Uber e afins em espaços públicos (regulamentados nos EUA e Alemanha) ou ambientes restritos (Singapura e alguns outros países).
Nível 4
Direção autônoma completa
O último nível considera a total capacidade do veículo autônomo se auto-conduzir, até mesmo sem a necessidade da presença de um humano em seu interior.
Este modelo vem sendo testado por algumas empresas em ambientes controlados (não públicos).
Entretanto, todos os níveis com certa autonomia (3 em diante) ainda enfrentam barreiras tecnológicas na condução de veículos em condições climáticas diversas, como chuva forte ou neve, ou ligadas ao ambiente, como estradas de terra ou cascalho.
A SAE – Society of Automotive Engineers -, por isso, possui uma escala onde o nível 4 seria considerado de “alta automação”, com o veículo atuando de forma independente sob certas condições climáticas e de ambiente (por exemplo, apenas em faixas asfaltadas e sinalizadas) e um nível 5 onde o veículo estaria apto a conduzir-se em qualquer ambiente.
Deixando de lado as visões utópicas e distópicas, os sonhos e pesadelos, você pode conhecer um pouco mais sobre o funcionamento dos carros autônomos neste excelente vídeo da revista TIME:
A história mostra que não há limites para a capacidade humana em encontrar soluções para os dilemas tecnológicos que surgem ao longo do tempo.
Assim, logo veremos caixinhas sobre rodas andando pra lá e pra cá, ocupadas com seus afazeres, completamente sozinhas, totalmente autônomas.
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Nível “TRAP” (como fazer uma armadilha pra prender um carro autônomo)
https://www.youtube.com/watch?v=D1RMeZQdseQ
Eu ri… e não foi pouco! =D Physical hacking! Claro que dá pra resolver, mas o fato de alguém ter pensado nisso é genial ;)