Doce, Jane

Doce, Jane Doce, Jane

Sabe quando bate aquela vontade de não fazer nada? Então, ontem, eu e ela tiramos um tempo, mais ou menos de uma hora, para observá-la. Batizamos-a de Jane, uma formiga de aproximadamente um centímetro, de cor avermelhada e uma bunda fora dos padrões de beleza das formigas. Quase o triplo de sua cabeça.

Ela aparentava ser jovem, o jeito de andar não enganava. Ía de lá para cá sem ter noção de onde estava indo. Às vezes parava, o que por um tempo gerou dúvidas se estávamos falando de uma moça na flor da idade ou de uma mulher mais experiente. Quando parada, gastava um certo tempo, como se refletisse sobre algo ou sentisse um tipo de nostalgia do passado. Chegamos a conclusão de que se tratava de uma menina mesmo. Se mostrou ousada demais ao tentar subir um galho grosso rodeado de espinhos.

Os minutos foram passando, o sol baixando e a maré subindo. Éramos nós, ela, e um espaço de areia que encurtava a cada tique-taque do relógio. Nós realmente estávamos interessados nela. Queríamos saber para onde iria, mas ao mesmo tempo, não queríamos parecer invasivos, muito menos influenciar em seu caminho.

No fundo, sabíamos que existiam apenas dois: o primeiro que a levaria para a água, e outro um pouco adiante, que a colocaria de volta em terra firme. Não queríamos nos meter, mas nossa vontade era de que ela tomasse o rumo certo, o caminho que a livraria do fim. Jane não sabia, mas seu destino dependia de uma decisão. Era basicamente 50/50.

“Ufa, olha lá! Ela tomou o caminho certo! Porra, Jane! É isso!”

Não deu dois minutos, e quem estava de volta?

A água estava quase batendo nos pés, estávamos pensando até em ir embora. Mas ela estava lá. Não podíamos abandoná-la assim de repente.

Foi aí que decidimos “brincar” de fazer milagre. Íamos mudar o destino daquela jovem. Começamos a colocar pequenas migalhas de bolacha no caminho inverso à água. Ela precisava sobreviver, era jovem demais, muitas histórias ainda a esperavam.

Não deu outra, ingênua e tarada por doces, começou a perseguir os grãos açucarados de uma Oreo, se livrando assim, do trágico fim que estava por vir.

Porém, quando tudo parecia encaminhado, a árvore que estava logo acima, decidiu balançar forte, fazendo com que um galho gigante despencasse. Sim, foi certeiro. Tentamos reanimá-la, mas não havia mais nada que pudesse ser feito. Pobre, Jane.

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