A década à frente

Contexto para visitantes do futuro: Estamos em 2020, em plena pandemia do COVID19, a beira de um colapso na saúde e de uma crise econômica sem precedentes.

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Empreendo desde 1996, criei 8 startups na minha carreira e 3 delas viraram empresas de fato.

Nessa jornada, tive a experiência de comandar minhas empresas através de três crises relevantes dos últimos 30 anos: bolha dotcom em 2000, subprime em 2008 e, ainda em andamento, COVID19 em 2020. Essa experiência me fornece subsídios para dar aos empreendedores uma visão acompanhada de uma dica.

É importante dizer que a visão que apresento aqui é reflexo das percepções que tive após analisar, à época e de forma retrospectiva, as crises em si e, principalmente, os 10 anos que as antecederam.

Retrospectiva

Em retrospectiva, temos o seguinte:

1990 a 2000: O primeiro boom da internet. Essa foi a década do nascimento comercial da internet e também da “exuberância irracional”, termo cunhado em 1996 por Alan Greenspan, chairman do FED americano, para dizer ao mercado que as empresas de tecnologia poderiam estar com preços excessivamente altos. Muitas empresas incríveis forma foram criadas nesse período. Vamos chamá-las de Multi-million dollar companies (MMDC). Exemplos são Netscape, Yahoo! e Amazon, todas fundada em 1994.

Bolha dotcom em 2000: Em março de 2000 estourou a bolha das empresas de tecnologia. No final de 2001 fechei a minha primeira empresa que teve tração de verdade que havia criado no final de 1999. Entrei tarde demais para criar uma MMDC.

2000–2003: Nesse período ocorreu um marasmo no mercado de tecnologia. Foi um momento de criação e teste. Foi aqui que as próximas MMDCs começaram a ser idealizadas e criadas. Dois exemplos: Facebook e Skype ambas fundadas em 2003. O Google, que havia sido criado em 1998 e sobrevivera à bolha dotcom consumou o fim desse período com o seu IPO em 2004.

2003–2008: Nesse período houve uma pequena época de ouro, prematuramente interrompida pela crise dos subprimes. Foi um momento de crescimento e novos formatos. Aqui nasceu a web 2.0. Surgiram os blogs, o microblogging do Twitter (fundado em 2007), o crowdsourcing, as mídias sociais e o Consumer-Generated Media. Sugiram sites com crescimento exponencial como o Orkut (2004) e Tumblr (2007). O LinkedIn, fundado em 2002, saiu de 1 milhão de usuários em 2004 para 55 milhões em 2009.

Crise de subprime de 2008: A crise dos subprimes destruiu os mercados financeiros mundo a fora. É claro que fundos de investimento tiraram o pé no aporte de capital em startups por algum tempo, só retornando o patamar pré-crise em 2011.

2009–2019: Nessa década, mais reconhecida pelos mais jovens, foi onde a segunda grande onda da internet começou. Foi o boom do mobile. A App Store da Apple (iOS) foi lançada em 2008 com 500 aplicativos e em 2017 tinha 2.2 BILHÕES de apps. Nada mal. A GIG Econony, forjada pelo sucesso do Uber, nasceu nesse período. Também foi a década da consagração dos unicórnios, empresas avaliadas em pelo menos US$1 bilhão.

Crise COVID19 de 2020: A pandemia provocada pelo vírus COVID19 promoveu um isolamento social que fez a economia desacelerar drasticamente. Futuro incerto? Até certo ponto.

A visão

O impacto econômico do COVID19 será enorme. Veremos 1 a 2 anos de marasmo pela frente com uma retomada mais séria acontecendo somente daqui a 1 ano.

Mas, olhando em retrospectiva as crises anteriores, percebemos um padrão: um período de exuberância e crescimento seguida de uma crise marcante e uma fase marasmo para em seguida acontecer uma retomada gradativa e criação de um novo período de exuberância.

Não precisa ser mago para perceber que há grande probabilidade de termos um período de marasmo seguido de uma década (ou quase isso) de prosperidade.

2020–2022: Teremos dois anos de marasmo onde vão começar a surgir as próximas MMDCs. Ideias vão começar a sair do papel, empresas novas vão surgir. Algumas empresas aprenderão a sobreviver com escassez de dinheiro e não com a abundância de capital antes garantida pelos investidores em tempos de vacas gordas. Esse fator talvez seja o fator primordial para a criação de empresas fortes. A história mostra que boas empresas forjadas por crises prosperam.

2022–2032: Teremos a nova década de ouro no mundo. Prosperidade em larga escala somada a um avanço tecnológico sem precedentes. Muitas novas MMDCs surgirão aqui. E elas começam a tomar corpo nos próximos 2 anos.

Dica

A crise do COVID19 vai passar. Toda crise passa. Difícil precisar quanto tempo vai levar para passar. Talvez algo rápido em 6 meses, talvez algo demorado em 2 anos, mas vai passar. Assim que crise passar, teremos a nova década de ouro da mesma forma que aconteceu após a bolha dotcon e o subprime.

É hora de se preparar para isso.

Perceba o seguinte: os próximos 10 a 12 anos serão a oportunidade de realizar sonhos de empreendedorismo, de construir as empresas fantásticas que tanto sonhamos. Teremos o novo Google, o novo Uber, seja lá o que essas novas empresas vão fazer.

E aí? Está preparado?

Estou compartilhando essa visão com vocês pois, em retrospectiva de tantos momentos críticos que vivenciei como empreendedor, não tive a oportunidade de ter alguém ao meu lado me orientando e me dando uma visão do todo, do big picture. Estou humildemente tentando fazer isso através desse texto.

É hora e fazer um reality check do que estão fazendo agora, do que vinham fazendo em 2019. Tentar perceber se visão que tinham se encaixa na oportunidade que a próxima década vai trazer. Pergunte-se se essa construção até aqui vai mesmo se transformar na sua MMDC. Não seria o caso de pegar o que já construiu até aqui, olhar como advogado do diabo e dar porrada nas suas crenças atuais? O que vocês terão construído daqui a 10 anos com o projeto de hoje, as crenças de hoje? Vai ser só um negócios de alguns poucos milhões de dólares? Ou com ajustes, ou mesmo um caminho totalmente novo, se tornará uma MMDC?

Reflitam. Pois eu não tive a visão de parar e fazer isso em outras oportunidades. Só enxerguei isso em retrospectiva.

Coloquem seus negócios à prova. Ainda mais os mais jovens. Imaginem: Se o que eu estou fazendo hoje, for, dentro dos limites do modelo de negócio, extremamente bem sucedido, o que será isso? Um novo Facebook? Uma small giant? Um lifestyle business? Um mero ganha pão? Uma boa aposentadoria? Uma pequena herança para os filhos? Não importa o seu objetivo desde que você fique feliz com ele. Mas se você quer construir algo relevante, enxergue a visão e aja de acordo.

Repito: Olhem estrategicamente para a oportunidade à frente. Temos tempo, mas não todo o tempo do mundo.

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Enfim, a dica que fica é: assimile essa visão, prepare-se o melhor que puder e execute como se essa fosse a oportunidade da sua vida. Eu deixei duas dessas oportunidades escaparem na minha vida por falta de visão. Não vou deixar escapar a terceira.