Caráter não muda por causa de doença

Por mais devastadora que essa doença seja, ela não transformou vilão em mocinho.
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Muitas pessoas estão indignadas com o comportamento daqueles que não estão seguindo as recomendações do governo, prefeitura e órgãos de saúde sobre manter o isolamento social. E com toda a razão. Mas também com muita ingenuidade. Quem faz errado agora é porque já fazia antes. Uma questão de caráter.

Realmente você acreditou que pessoas folgadas ficariam em casa? Que o cidadão que joga a lata de refrigerante no chão da rua ia deixar de fazer festa com os amigos? Que o cliente que destrata o garçom ia usar máscara? Achou que aquele carro que anda pelo acostamento da estrada na volta do litoral ia mesmo ficar estacionado no dia do rodízio ou no megaferiado? Que a pessoa que ignora a placa “Proibido animais na praia” deixaria de passear pra ver o pôr-do-sol?

Por mais devastadora que essa doença seja, ela não transformou vilão em mocinho. Acreditar que ela ainda seja capaz disso pode cegar, a ponto de fazer você ficar doente, pois a indignação causa tremor, gastrite e dores musculares. Caráter não muda; hábito, talvez.

O que essa doença traz é um possível novo comportamento, um novo olhar para as coisas antigas, uma nova maneira de se relacionar com o outro, com o dinheiro, a tecnologia, um novo jeito de trabalhar, de ensinar e aprender, um novo caminho para as viagens e abertura para o inusitado, uma nova forma de lidar com o tempo e com o espaço.

O que está em questão, definitivamente, é o grau de importância que as coisas têm na vida de cada um. O que era importante antes da pandemia, pode subir um pouco ou descer um pouco no “ranking”. Assim como o que não era importante. Mas valores não surgem, não somem.

Essa doença cria o tal “novo normal”, não uma “nova pessoa”. A Covid-19 não faz nenhum babaca virar um cara legal. Se antes o sujeito batia na mulher e ia tomar cerveja no bar, hoje ele bate e toma em casa.

3 comments
  1. Olá, Maria! Isso mesmo, pra ser idiota basta ser gente!

    Não tive intenção em ser sexista, embora o exemplo dado tenha sido o que mais forte expressava minha ideia.

    Um grande abraço!

  2. Adorei o texto, apesar do viés sexista. Babaquice não tem gênero e não é exclusividade masculina. É traço humano. Mas de resto, também tenho dois pés atrás com relação a esse discurso do “jamais seremos os mesmos”

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