Nesses últimos dias fomos bombardeados pelos anúncios de empresas que implementarão e estenderão o regime de Home Office para grande parte de seus empregados. Entre elas estão gigantes como Google, Facebook, Microsoft, Twitter, TIM e muitas outras.
Mas uma grande pergunta precisa ser colocada:
Do ponto de vista de quem está trabalhando em casa, essa modalidade é mais produtiva?
Por que sim?
Por que não?
Foi isso que propusemos através desta pesquisa colaborativa e que, agora, mostra seus resultados.
Abaixo faço uma explanação dos dados mais relevantes que a pesquisa me mostrou. Mas como prometemos, disponibilizamos os dados abertos para você. Basta clicar no botão abaixo para receber os dados originais, tabulados pelo Google Planilhas.
E vamos aos principais insights :)
Sobre o público pesquisado.
A pesquisa foi aberta amplamente para empresários, empregados, autônomos e concursados. Com isso pudemos ter uma boa variedade de respostas que, na planilha, você pode inclusive filtrar e tirar os seus insights.
A maioria dos respondentes (67,8%) foram empresários e empregados.
Entre eles também abrimos um leque amplo de áreas de atuação.
Como a pesquisa foi muito divulgada entre canais de comunicação e marketing, a maioria dos respondentes foram pessoas das áreas correlatas (marketing, publicidade, design e social media, com 39% das respostas. Mas tivemos uma boa dispersão de outras áreas de atuação.
Mas é agora que chegamos no “ouro” da pesquisa.
A pergunta principal:
Para fins de análise, uma divisão importante aqui é:
– Quantos acham ótimo e bom: 58,4%
– Quantos estão “neutros”: 23,5%
– Quantos acham ruim e péssimo: 18,1%
Você pode fazer suas próprias leituras a partir deste gráfico.
Pode colocar num só bolo os que acham ótimo, bom e médio para “puxar um pouco para cima” a interpretação de que Home Office é produtivo.
Mas sendo bem criterioso, eu diria que pouco mais que a maioria (quase 60%) acha realmente produtivo o trabalho home office. Esse argumento reforça a ideia de uma implementação híbrida do modelo. Mas isso eu falo melhor mais lá pra baixo.
Para aplicar Home Office na sua realidade é preciso mais informações, uma pesquisa mais focada nas peculiaridades de seu negócio. Mas acredito que – em linhas gerais – o Home Office é uma modalidade bem aceita. E os motivos pelo qual ele não seja bem aceito, precisam ser evoluídos e tratados, caso você queira implementar em seu negócio.
Então vamos aos motivos?
Motivos para ser MENOS PRODUTIVO:
Esses acima são todos os motivos pelos quais as pessoas acham que o Home Office NÃO É PRODUTIVO.
Quando você vê esse gráfico, o que logo percebe?
O que eu vejo logo de cara é que os motivos pelos quais as pessoas não acham o Home Office produtivo é muito DISPERSO. Em estatística, quanto maior a dispersão, menos você encontra aquele “fator central” que possa corrigir. Isso dificulta a vida do gestor que pensa em implementar o regime para sua galera.
Por estratégia estatística e de gestão, fiz questão de dividir em 2 blocos, onde o primeiro contém 66% dos motivos que fazem do Home Office menos produtivo. Se eu fosse você eu atuaria neles primeiro. Dica de estrategista :)
Aqui é muito importante a presença do RH da empresa para fazer levantamentos, conscientizar, capacitar, montar cartilhas e propor um programa efetivo de Home Office com o envolvimento da diretoria da empresa (no que tange aos investimentos em estrutura) e do funcionário (no que tem a ver com aspectos comportamentais e de disciplina para trabalhar em casa).
Um bom projeto employee branding pode ser abraçado para manter a produtividade, satisfação, motivação, propósito, cultura e engajamento.
Motivos para ser MAIS PRODUTIVO
Esses acima são todos os motivos pelos quais as pessoas acham que o Home Office É PRODUTIVO.
Aqui já percebemos uma dispersão menor.
Agrupando em 3 tópicos cobrimos 72% dos motivos pelos quais as pessoas acham regime Home Office produtivo.
Os dois principais são não ter que se locomover (essa coisa louca de perdermos de 2 a 4 horas por dia apenas no trajeto casa / trabalho / casa, e às vezes até mais!), e a melhoria da qualidade de vida (fala sério, acordar mais tarde e “chegar em casa” mais cedo – para quem tem disciplina de trabalho – é outra coisa, não é não!?)
Para os gestores eu aconselho apostar nestes dois pontos fortes. Os ganhos em produtividade e motivação são gigantes! Mas claro que para conseguir esses ganhos é necessário trabalhar os pontos fracos do gráfico anterior como eu já mencionei. O papel do RH aqui é fundamental!
O modelo híbrido. Um caminho possível.
Para aqueles que ainda se sentem inseguros por trocar o regime de uma vez por todas, uma boa estratégia é implementar o modelo híbrido. Antes da Pandemia era um tabu o funcionário propor isso ao seu gestor. Hoje nos vemos mais abertos a essa possibilidade, onde o funcionário pode atuar por 1, 2 ou até 3 dias em casa, indo para o trabalho para uma atuação presencial, que a galera mais moderna e antenada não quer reconhecer, mas no fundo sabe que faz diferença.
Acho que essa pesquisa foi bem rica para nos mostrar tudo isso.
Até porque ela foi aberta, compartilhada e sem rabos presos.
Termino por aqui relembrando que você pode pegar os dados da pesquisa para “brincar” um pouco mais e tirar seus próprios insights. Aplicar filtros, ler comentários específicos, etc.
Agora compartilho outros insights que tive, fazendo comparações através da planilha.
Caso queira, fique à vontade para ler e se inspirar.
Outros insights
Eu avaliei por áreas de atuação aquelas que acham o Home Office mais produtivo às que acham menos produtivo. Fiz isso agrupando cada área (as que tinham um bom volume de respostas) e tirei a média das “notas” de 1 a 5. Com isso tive 5 insights muito legais:
- A galera de Web / Programação / Sistemas, foi quase unânime nas notas 4 e 5 com uma média final de 4,45. Um dos respondentes comentou que em 2 semanas trabalhando de casa conseguiu entregar mais que em 4 semanas presenciais. Essa é uma natureza de trabalho muito focada na execução individual, com menor necessidade de interação humana. Mas para metodologias ágeis, como o SCRUM seria bem produtivo ter uma reunião presencial para detalhar o início do SPRINT e outra para avaliar os resultados.
- A segunda maior pontuação foi entre os que trabalham em Banco ou Instituição Financeira, com média de 4,4. Não ter que se locomover para o trabalho, melhor organização do tempo e melhor qualidade de vida ficaram entre os pontos mais destacados. Também aqui não há muita necessidade do presencial. Muita coisa é resolvida na base de bons diálogos online.
- Ensino, Aulas e Cursos, tiveram uma nota média de 3,1. Isso pode indicar que, apesar das aulas online terem dado um boom nesse período de pandemia, os professores ainda preferem o ambiente físico, a estrutura e interação presencial com alunos. Como foi o exemplo de um respondente que comentou: “aulas presenciais com teorias e práticas são mais produtivas que em regime de Home Office”.
- Vendas, Representação e Comercial, tiveram uma nota média de 3,08, quase cai para a casa do 2. Conforme a maioria dos respondentes apenas o fato de não ter que se locomover ao trabalho em si é que é um ponto positivo. Mas uma das respostas pode nos dar um bom indício: “A questão do convencimento virtual é mais difícil que pessoalmente.”
- Medicina, Psicologia, Nutrição e afins, foram os que pior qualificaram o regime Home Office, com uma média de 2,6. Não é de se espantar que para eles a dificuldade seja maior. A falta de estrutura física e tecnológica estão entre as maiores queixas. Aqui vale o modelo híbrido também. Diagnóstico e consulta que tenham a ver com um bom diálogo, podem ser feitos online, mas muito do atendimento médico exije tocar, medir, olhar e analisar através de equipamentos. Para isso ainda não existe tecnologia tão efetiva como a presença física.
Pra fechar
Particularmente não acho que tudo se virtualizará no mercado de trabalho.
Acredito que estamos mais abertos a propor e aceitar reuniões online, perdendo menos tempo, utilizando ferramentas de interação para alcançar maior produtividade. E em casos mais específicos, o presencial suprirá outras necessidades, deixando encontros mais ricos, divertidos e pofundos.
É bom abrir o computador, entrar numa reunião online, anotar os tópicos e sair com a pauta cheia, sem ter que encarar o trânsito na volta. Mas também é muito bom aqueles encontros menos “objetivos”, com propósito de aproximar mais as equipes, os gestores.
Muito do mundo dos negócios tem a ver com a razão e produtividade – o aspecto pragmático. Nós brasileiros precisamos ficar mais atentos a isso, porque nossa cultura do “jeitinho brasileiro” nos deixa com a guarda baixa para o desleixo e desorganização. Porém muito dos negócios tem a ver com relações mais próximas, interações presenciais, aquele papo despretensioso na hora do café – o aspecto mais emocional, inusitado. Com certeza isso não será substituído por completo.
A tecnologia emula bem as interações. Mas ela serve como uma opção muito bem vinda. Assim como a TV não matou o rádio, meu pedido é que venha o Home Office. Que venha a abertura às novas ferramentas. Que venha a busca por qualidade de vida e por perder menos tempo. Com poderemos focar nas interações presenciais essenciais: o toque, o abraço, o tempo despretensioso que curtimos verdadeiramente com as pessoas dentro e fora do trabalho.
E você? O que acha disso tudo?
Home Office é produtivo para você?
Você acha que ele veio para ficar?
Precisa ponderar: grande parte iniciou o home office emergencialmente, o que em tempos normais certamente mexeria em vários atributos da pesquisa, por exemplo, estrutura física (uma vez planejado o home office, um espaço seria organizado para tal finalidade); fim do isolamento; escolas abertas; assistentes do lar atuando nas tarefas domésticas junto com outros membros da casa; e outros que tem onerado deixando a rotina menos produtiva. Sugiro repetir a pesquisa daqui um ano em outro contexto, quando oficialmente não tiver cenário de restrição e muitas empresas tiverem oficialmente adotado o home office como uma prática. Por isso, acho que para essa onde o correto é ler como: “Respostas: Home Office é mais produtivo em tempos de pandemia?”