A primeira obra literária oficialmente catalogada como cyberpunk é o conto de Bruce Bethke intitulado “Cyberpunk-1983”. No conto, adolescentes punks entediados resolvem hackear uns sistemas de computadores. Em meados dos anos 80 e este tipo de conhecimento era raro e, até mesmo, anárquico. Depois o vieram o Cyberpunk e seus subgêneros.
Infelizmente, a publicação da obra passou por vários problemas legais entre Bruce e seu editor e, atualmente, está disponível para ser lido online aqui (em inglês). Algumas obras desse estilo se tornaram muito populares, como “Neuromancer-1984” de William Gibson e “Ghost in the Shell-1989” de Masamune Shirow.
Lawrence Person, outro notório autor de ficção científica, definiu a persona da figura cyberpunk como: “…Personagens cyberpunk clássicos são marginalizados, solitários alienados que vivem no limite da sociedade em um futuro geralmente distópico, onde a vida diária é afetada por rápidas mudanças tecnológicas, onipresente esfera que abrange dados de informações computadorizadas e modificações invasivas do corpo humano…”, meio familiar, né?
Cyberpunk
Inegavelmente, o cyberpunk é considerado um dos gêneros mais conhecidos e de grande sucesso, pois conquistou muitos leitores nas últimas décadas e proporcionou o tipo de movimento que os críticos literários pós-modernos acharam atraente. Além disso, a estética cyberpunk tornou a ficção científica mais atraente e lucrativa para as mídias e as artes visuais em geral.
A medida que mais escritores começaram a trabalhar com os conceitos do cyber, novos subgêneros surgiram, jogando fora o rótulo cyberpunk e focando na tecnologia e seus efeitos sociais de maneiras diferentes. Vários derivados do cyberpunk são retro futuristas, baseados tanto nas visões futurísticas de eras passadas, especialmente na época da primeira e da segunda revolução industrial.
Cyberpunk e seus subgêneros
STEAMPUNK – remete a 1860-1910
O Steampunk incorpora tecnologia e estilo de vida do século XIX, criando um cenário a partir da era pré-industrial e extrapolando o uso da tecnologia a vapor. As obras são ambientadas no passado, e não no futuro como no cyberpunk, mas este passado é reimaginado com o uso avançado da tecnologia disponível naquela época. Como exemplo, computadores feitos de madeira, aviões movidos a vapor, couro desgastado, armas ricas em detalhes, adereços e assim por diante. O primeiro trabalho steampunk mais conhecido foi “The Difference Engine-1990” de Bruce Sterling e William Gibson, mas “Morlock Night-1979” de KW Jeter é considerado o primeiro romance steampunk porque foi ele quem inventou o termo.
RAYPUNK – remete a 1910-1930
Esse gênero aponta para o infinito com sua arquitetura gótica. E não é à toa, já que ele é bem focado no espaço sideral, nas tecnologias e nos alienígenas. Aqui, viver em outro planeta ou fazer viagens pelo espaço é bem comum, tanto que as pessoas vivem com jetpacks e roupas de astronauta (têm que ter uma bubblehead). Seus personagens estão sempre acompanhados de armas a laser, apesar de que a tecnologia por trás delas e das naves quase nunca é explicada, deixando no ar o clima de “aceita que dói menos”. E quando o conto ou película nos leva para outro planeta, pelo menos na ficção, é comum encontrar alienígenas diferentões, não é à toa que muitas vezes, os humanos criam civilizações em conjunto com eles, ou quem sabe uma guerra seja desencadeada, tudo pode acontecer. Nesse universo é comum encontrar aventureiros, que vivem explorando outros planetas em busca de novas aventuras. “Flash Gordon-1934”, “Star Wars-1977”, “The Ballad of Halo Jones-1991” de Alan Moore são alguns clássicos.
DIESELPUNK – remete a 1930-1950
O subgênero foi mencionado pela primeira vez em 2001 pelo designer de games, Lewis Pollak e se baseia na estética popular entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Combina a influência cultural e tecnologia retro futurista daquela época. Em um sentido histórico, pode-se dizer que o dieselpunk fica entre o cyber e o steampunk. As tecnologias desse período são coisas da primeira metade do século XX, como motores a gás ou diesel, metais arredondados, arranha-céus e paleta de cores envelhecida. O Dieselpunk faz uma combinação de manifestações culturais do mesmo período como a própria art déco, filmes noir, revistas pulp, tecnologia pós-moderna e as wartime pin-ups, que eram as musas desenhadas ou fotografadas com roupas de guerra ou sobre bombas nucleares. Alguns exemplos: “Rockteer-1991”, “Eternamente Jovem-1992”, “Capitão América: O primeiro Vingador-2011” e games como “Bioshock-2007” e “Iron Harvest-2020”.
ATOMPUNK – remete a 1950-1970
O atompunk é inspirado especificamente no período entre 1945 e 1975, na vibe da guerra fria, das aeronaves com propulsão a jato e do “american way of life (50’s)“. Isso nos proporciona uma ficção científica baseada na energia nuclear e na propaganda anticomunista e a paranoia americana conhecida lá, como “Red Scare“. Paradoxalmente o estilo predominante do subgênero é o neossoviético de Le Corbusier (estilo do início de sua carreira) e do arquiteto alemão Ernst May. Essa época também é conhecida pela corrida espacial, que influência diretamente o gênero atompunk. Vemos aqui muitos detalhes brancos, cores vibrantes e claras, cenários limpos e bem organizados. É aqui que os carros voadores explodem e começam a virar febre nas visões futuristas, junto com armas de laser e outras coisas do gênero. Existe também um clima de tensão, já que se vive constantemente em guerra. As bombas nucleares e bunkers são bem abordadas, principalmente quando o cenário se passa em um ambiente atompunk pós-apocalíptico, onde a grande razão para catástrofe geralmente, (pra não dizer sempre), foi uma guerra nuclear. Na visão norte americana da guerra fria, é comum ver a instituição da família ser muito valorizada. Referências: Asimov (autor), “Os Jetsons-1962”, “Jonny Quest-1964”, “Dr. Fantástico-1964”, “Os Eleitos-2020”, “HQ Watchman-1986”, “X-men: Primeira classe-2011”, “Chernobyl-2019” e games como a série “Fallout-1997”.
CASSETE FUTURISM – remete a 1970-1990
Basicamente é o futuro na visão dos anos 80/90 quando os eletrodomésticos começaram a entrar na vida das pessoas. Este momento revolucionou o campo do entretenimento pessoal. Todos os objetos tecnológicos são quadrados, triangulares ou circulares. O que importa é que eles têm formas bem definida e são bem profundos. Este período abrange histórias que usam uma estética tecnológica popularizada pelo IBM Personal Computer em contextos da ficção científica. Como o nome indica, uma boa maneira de contemplar este subgênero está na apresentação das fitas cassetes ou fitas magnéticas, que foram usadas nessas décadas para armazenar dados. Outras tecnologias a serem observadas são os cartuchos de games da geração 8 e 16 bits, disquetes e muitas tecnologias analógicas. A Internet ou disquetes analógicos podem coexistir, mas se a primeira for usada com mais frequência para trocar arquivos grandes, maiores do que a mídia física, é provável que o conceito cassete futurism não esteja sendo bem empregado. Referências: Walkman, desktops beges com telas monocromáticas, videocassetes com displays vagamente luminosos, internet discada, fitas cassete e VHS, Nes-8bits, Mega Drive-16 bits, filmes como “Tron-1982”, “De Volta para o Futuro-1985”, a nave Nostromo do filme “Alien, o oitavo passageiro-1979”, o anime “Akira-1991”, games como “Flashback-1992” e o survivor, “Alien Isolation-2014” que homenageia o subgênero deliberadamente com sua câmera Canon Zeerust , reproduzindo com maestria a “visão do futuro” nos filmes dos anos 70/80.
CYBERPUNK – remete a 2020-2100
O futuro retratado no Cyberpunk é cercado por uma tecnologia avançada, megalópoles com céus escuros e dominadas por megacorporações que têm pouca consideração pelas vidas humanas que destroem e destratam em sua busca incessante pelo poder. Os protagonistas dessas histórias geralmente são pessoas que vivem às margens dessa sociedade corrompida e que, em certo ponto, após provavelmente terem contribuído com ele por um tempo, decidem se rebelar contra esse sistema desumano usando o que têm a dispor: a própria tecnologia. O cyberpunk também explora temas filosóficos mais modernos como a relação entre o homem e a máquina e onde é definido o limite entre eles. High tech, low life é a principal descrição do subgênero cyberpunk. Algumas referências: “Blade Runner-1982”, “Metropolis-1927”, “Ghost in the Shell-1987”, “Matrix-1999”, “O Vingador do Futuro-1990”, a série “Altered Carbon-2018”, publicações, como: “Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? -1968” e “Sonhos elétricos-2017”, ambos do autor Philip K. Dick, “Mona Lisa Overdrive-1988” de William Gibson, games como: “Snatcher-1994” para Sega CD, “Last Resort-1992” para Neo Geo, “Shadowrun: Hong Kong-2015” PC e “Cyberpunk 2077-2020” para várias plataformas.
No Brasil, o movimento da ficção científica surgiu oficialmente na metade do século XX, por iniciativa do autor Jerônymo Monteiro. Seu trabalho abriu caminhos para que a primeira geração de escritores do gênero surgisse na década de 1960. Anos depois, os fãs dessa literatura organizaram o Clube de Leitores de Ficção Científica (CLFC), que existe até hoje e, além de produzirem a revista Somnium, um fanzine original do grupo, desenvolvem também uma premiação específica para o gênero, conhecida como Prêmio Argos.
Alguns autores brasileiros publicam histórias da cultura cyberpunk, como o escritor Lauro Kociuba e sua HQ Ecos, publicada pela Editora Guará. A história aborda o esforço de uma comunidade par sair de um ponto decadente e alcançar um melhor status. A Torre, onde mora o protagonista, é uma estrutura decadente na qual pessoas vivem empilhadas. Os mais pobres, nos lugares mais altos e perigosos, sobrevivem de restos dos ricos que moram nos salões subterrâneos. Lauro revela que essa é uma analogia ao apego às riquezas e bens, ao materialismo que inverte os valores da sociedade.
Thanks for the inspiration @lauro_montana
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Cade a bio punk? ;-;
Minha favorita
Antes eu achava estranha essa junção entre o cibernético e o punk, mas hoje em dia é um dos gêneros que mais gosto, um vasto material por aí, em diversas frentes, um melhor que o outro. Bom o post, Caio, obrigado!
Marcelo, eu digo o mesmo. Eu não sabia porque eu gostava tanto de alguns filmes, como Alien ou videogames antigos, como aqueles da geração 16 bits, sendo o “cassete futurism” o meu subgênero favorito!