São incontáveis os exemplos de empresas que adotaram uma postura solidária nos primeiros meses da pandemia. Mas, a boa intenção das marcas brasileiras foi inversamente proporcional ao agravamento da crise: o que era abundante em 2020 se tornou escasso em 2021 – momento em que se faz ainda mais necessário.
A conta da crise econômica, adiada pelo auxílio emergencial do governo, chegou para ser paga com juros em 2021: 125 milhões de brasileiros estão em insegurança alimentar. 716 mil empresas fecharam as portas de vez e o desemprego superou 14%. Enquanto isso, as entidades beneficentes afirmam que o volume de doações caiu mais de 91% e se tornou insuficiente para ajudar quem precisa.
Há bastante tempo se discutia sobre a importância das empresas abraçarem seu papel social e demonstrar sensibilidade às necessidades das pessoas. Com a pandemia esta narrativa ganhou ainda mais força (inclusive, a Cordão fez um report inteiro sobre isso que pode ser baixado aqui). Mas, muitas marcas, entenderam que bastava uma doação ou ação pontual para fazer parte deste movimento.
Os exemplos de marcas oportunistas são muitos. Pare para pensar e lembre-se de todos os comerciais afirmando a quantidade de doações feitas que passaram na TV em abril de 2020. Quantas dessas empresas continuam mobilizadas um ano depois?
É claro que também tivemos algumas surpresas positivas. Um exemplo disto é a Ambev, que afirma ser motivada pelo propósito de “unir as pessoas por um mundo melhor”. Enquanto consumidora, antes da pandemia eu nunca pude identificar este propósito em suas ações. Com a pandemia, a empresa teve a oportunidade de comprovar suas intenções em larga escala. Com a série de ações “Além dos Rótulos” mantiveram-se ativos, adaptando-se para suprir as maiores necessidades dos brasileiros a cada momento da pandemia: desde apoio aos pequenos negócios, produção de álcool em gel, máscaras e, mais recentemente, a produção de oxigênio.
Ações motivadas por oportunismo passam rápido. Ações motivadas por propósito permanecem. Uma marca não está sendo solidária quando seu único objetivo é ganhar holofotes em um período em que a imprensa está buscando bons exemplos. Propósito pressupõe consistência, continuidade e adaptação às reais necessidades das pessoas. O oportunismo denuncia segundas intenções e ego inflado. E – não se engane – os consumidores conseguem reconhecer a diferença de longe.
Se você (pessoa física ou jurídica) chegou até o final deste texto e se motivou para manifestar sua solidariedade, aqui vão algumas entidades que precisam: Brasil sem Fome, Banco de Alimentos, CUFA, Dá de Comer, G10, Segura a Curva das Mães, WimBelemDom.
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Oportunismo puro!
Ótimo o post, Daniele.
Fico de queixo caído com o volume de marcas se apropriando de causas que não tem ABSOLUTAMENTE NADA A VER com a marca.
Quando é uma iniciativa solidária, tipo pedir doações, pelo menos acabam ajudando de fato a sociedade e tá valendo, indepentemente de adequação. Mas quando se trata de se aproveitar de causas ideológicas para dar uma turbinada na imagem de marca… acho um desrespeito sem tamanho porque acabam banalizando e comercializando questões que são realmente importantes e que merecem mais respeito.
Discriminação de gênero, racismo, desigualdades em geral… isso tudo precisa ser tratado de forma prática e na raiz do problema, no propósito e na atuação efetiva da marca e não apenas como uma bandeira na comunicação.
Como diria o Elvis, “a little less conversation and a little more action please”.
Belo post, assunto que merece mais discussão.