No final da Segunda Guerra Mundial, o general Franz von Waldheim (vivido pelo lendário ator Paul Scofield) precisa transportar um enorme número de obras de arte da França para Berlin. Submisso ao Reich, Waldheim é também um apaixonado pelas pinturas de Cezanne, Monet, Gauguin, Picasso e Renoir. O nazista cria uma operação para fazer o translado, mas o chefe da estação, Paul Labiche (Burt Lancaster) está empenhado em impedi-lo. “O Orgulho da França” vai ficar na França.
A inteligência de “O Trem” (1964), dirigido por John Frankenheimer, é muito maior do que a sinopse sugere. Temas como a importância da arte na formação e história de uma civilização, coragem e patriotismo são apenas algumas das camadas encarrilhadas ao longo do filme.
John Frankenheimer manobra esses elementos sem que eles sejam maniqueístas ou exagerados. É tudo muito bem amarrado por roteiro que se aproveita dessa história simples para trabalhar temas universais de maneira muito humana, próxima a qualquer espectador.
Tido como um ícone dos filmes de ação, “O Trem” tem uma produção espetacular. São várias as cenas de cair o queixo pela complexidade de execução. E tudo feito fora do estúdio, com Burt Lancaster dispensando o dublê. A perseguição não perde fôlego em nenhum momento. E mesmo nas cenas distantes do confronto entre homem e máquina, o ritmo se mantém vertiginoso.
Mesmo se encontrando poucas vezes durante o filme, Burt Lancaster e Paul Scofield duelam o tempo inteiro, destrinchando as características de cada personagem, como no momento em que é descoberta a sabotagem do maquinista Papa Boule (Michel Simon) ou no último ato, onde finalmente sabemos quem vence essa guerra.
Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original, “O Trem” certamente merecia mais destaque nas outras categorias da premiação.
A cena final é magistral. Provavelmente, outro diretor não teria a mesma precisão para entender como tirar o máximo de dramaticidade de uma locação. Essa é uma das características mais notáveis do filme, o modo como o trem se transforma em um personagem histórico desse período, em um elemento de crítica social. Outro filme que também faz isso bem é “O Expresso do Amanhã”, filme do mesmo diretor do mega sucesso, “Parasita”.
John Frankenheimer ainda dirigiu outros filmes notáveis como “Sob o domínio do mal”, protagonizado por Frank Sinatra, “Sete dias em maio”, “Segundo Rosto” e o ótimo “Ronin”, com Robert de Niro. Também fez um filme pra televisão sobre o brasileiro Chico Mendes, com o atualíssimo título de “Amazônia em chamas”. Raul Júlia viveu o ativista.
Frankenheimer é um diretor que botava ação externa para mover as ações internas; que entendia que a interação dos personagens com o ambiente é um elemento dramático importante para contar uma boa história. E “O Trem” é um exemplo genial disso.
Onde ver: Apple TV, Stremio.
! Um clássico! Vi esse filme há muito tempo. Depois dessa resenha, vou assistir novamente, mas com outro olhar!!