A maioria de nós acredita não ter talento criativo. Sim, a maior parte das pessoas acha que nasceu sem a capacidade de inventar alguma coisa. Agarram-se com uma força tão incontrolável a essa certeza que parece ser verdade.
Fernando Pessoa disse que a maioria das pessoas pensa com a sensibilidade. Segundo ele, “para o homem comum, sentir é viver e pensar é saber viver”. No entanto, Pessoa afirma que “pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar”.
A ciência já provou que 98% das crianças têm potencial criativo, até os cinco anos de idade. O que vai diminuindo com o passar dos anos, chegando a apenas 2% perto dos 30 anos. O que acontece com a gente, se quase todos nascem com um gênio criativo interno, o que mata essa capacidade imaginativa?
A criatividade está intensamente ligada à curiosidade. E acredito que, se você já viu uma criança, com certeza percebeu o quanto esses pequenos seres são curiosos, exploradores e questionadores. Agora, quantos adultos você conhece quem têm a mesma postura?
Crianças usam todos os sentidos para explorar o mundo ao seu redor. Elas estão o tempo todo escaneando o ambiente, testando cheiros, sabores, formas, texturas, sons, das mais variadas formas, e sem a menor vergonha ou pudor. Elas ainda estão com seus sentidos livres para perceber o mundo, e seus cérebros imploram para receber o máximo de informação possível, a fim de sobreviver nesse novo espaço, onde tudo é surpresa e nada é desprezível.
A criança cresce ouvindo todo tipo de “sins” e “nãos”, o que pode incentivar o desenvolvimento de seu gênio interno ou matá-lo definitivamente. As escolhas que pais, professores e a sociedade em geral fazem determinam o futuro de mentes brilhantes. Elas acabam sendo cerceadas, alinhadas, formatadas e, assim, acabam perdendo o interesse por explorar o mundo, abrindo mão de suas melhores perguntas e, assim, acreditando que dar asas à imaginação é “coisa de criança”, ou seja, algo do que se envergonhar.
É preciso parar com a destruição do ecossistema mais importante para a humanidade: a nossa sensibilidade.
Pessoas sensíveis não são frágeis.
Aguçar os sentidos nos ajuda a perceber o mundo ao nosso redor. Sensibilidade não é sobre ser frágil, mas ter a capacidade de sentir detalhes mais ricos sobre a vida.
Gente sensível é curiosa, e a sua curiosidade é pura rebeldia, pois nessas pessoas há o desejo de mudar as coisas e recriar o mundo ao seu redor. Criativas, são rebeldes por natureza, pois sempre desejam aprender algo novo, do seu próprio modo e no seu tempo, a fim de contribuir de alguma maneira.
O ato criativo depende de como enfrentamos a realidade.
Não há criação sem que as normas sejam revistas. As viagens, a literatura, a música, as artes, os esportes e muitas outras coisas são invenções de seres humanos rebeldes, pessoas que não se conformam com as regras de seu tempo.
Educação é feita assim: quando permitimos que crianças e adultos sejam capazes de criar suas próprias perguntas e rever as coisas para torná-las melhores, reinventado o mundo e revendo as fórmulas. Estamos atrasados talvez porque obriguemos todos a seguir padrões, impedindo que contribuam e ampliem as possibilidades com o que têm de melhor.
Somos todos criativos, por essência, mas há uma força que nos rouba a sensibilidade necessária para sermos mais curiosos, rebeldes e, assim, desenvolver nossa criatividade.
O ato criativo também está repleto de erros.
E são eles que nos preparam para a vida. É impossível criar sem aprender a errar. É impossível evoluir sem ser capaz de aprender com nossas falhas. O erro é o melhor professor do universo.
Educação precisa ser algo orgânico, que flui naturalmente. Se as pessoas desenvolvem automotivação, o aprendizado é inevitável. O prazer da descoberta, mesmo que seja o motivo de ter errado, é tão poderoso quanto a resposta certa. A Educação precisa ser divertida.
Para revolucionar a Educação, não é preciso apenas dinheiro e sofisticadas estruturas. A resposta é simples: precisamos de liberdade para aprender, do nosso jeito e no nosso tempo, com todos os sentidos aguçados para descobrir novas formas de experimentar a vida. Isso, sim, seria revolucionário.
Ser sensível não é “frescura”. A sensibilidade pode salvar esse mundo porque “pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar”.
O “Carpe diem” ensinado em Sociedade dos Poetas Mortos é lindo. “Aproveitem o dia, meninos. Façam de suas vidas uma coisa extraordinária”, diz o professor John Keating, personagem do ator Robin Williams. “Quando você pensa que conhece alguma coisa”, continua Keating, “você tem que olhar de outra forma. Mesmo que pareça bobo ou errado, você deve tentar!”. Para o professor rebelde não importava o que as pessoas dizem sobre você, pois “palavras e ideias podem mudar o mundo”. Ele ainda deu uma aula de verdade quando disse que a medicina, as leis, os negócios e a engenharia são ocupações nobres para manter a vida, “mas poesia, beleza, romance e amor são razões para ficar vivo”. Simplesmente, incrível!
A educação depende de pessoas sensíveis e de menos fórmulas. A revolução que precisamos é muito mais humana do que tecnológica. Quando formos realmente livres para aprender, quase nada mais será impossível para nós.