Nos Estados Unidos dos anos 50 o programa “I Love Lucy” dominava a audiência. Para se ter uma ideia do tamanho da sitcon, mais ou menos 60 milhões de pessoas acompanhavam, todas às segundas-feiras, os episódios da vida de Lucy Ricardo (Lucille Ball) e Rick Ricardo (Desi Arnaz).
“Apresentando os Ricardos”(Being the Ricardos, 2021), da Amazon Prime, se passa nos bastidores de “I Love Lucy”, especificamente durante a semana em que Lucille Ball (Nicole Kidman) é acusada de ser comunista. Naquela época, rolava o Macarthismo, um movimento liderado pelo senador Joseph McCarthy que incluía em uma lista quem era suspeito de integrar o movimento comunista. Lucille, de fato, tinha a carteirinha do partido, mas nunca fez parte dele. Entrou por uma ingenuidade. Sua grande paixão também não tinha nada de ideológica: o marido, o cubano (que ironia…) Desi Arnaz (Javier Bardem).
“Apresentando os Ricardos” não vai longe pra entender a perseguição que os artistas viveram nessa época, muito menos está preocupado em destrinçar a televisão como parte do “sonho americano”. É um filme sobre uma família que, embora representasse toda a ingenuidade da época, não conseguia viver fora dos holofotes a mágica mostrada pela televisão.
Aaron Sorkin escreve “Apresentando os Ricardos” com a velocidade que lhe é comum. Lucille Ball é articuladíssima, com uma inteligência charmosa, o que só faz crescer o seu profissionalismo e compromisso com a série. Os diálogos são lindos de ouvir. Como roteirista, Aaron Sorkin está focado na frustração de Lucille Ball em não ser uma esposa comum, mas ter de sustentar a persona televisiva em tempo integral, mesmo nos momentos íntimos. A ideia dele é investigar como duas personalidades tão magnéticas, talentosas e bonitas podem ser infelizes porque não conseguem acertar o básico de um casamento.
Este alvo de “Apresentando os Ricardos” faz a pressão baixar dos outros temas envolvidos, como o próprio macarthismo, os bastidores de Hollywood e o estilo de vida americano. Isso distancia o filme de ser mais agressivo nas suas críticas e aproveitar a história para desenvolver o impacto desses temas no casal protagonista.
Se como roteirista Aaron Sorkin é uma metralhadora, como diretor ele ainda erra a mira. O filme carece daquela composição que valoriza a cena quanto ninguém está falando e que o espectador entenda o sentimento dos personagens e seja ferido na carne mesmo. Falta peso às cenas desse casamento.
Apesar disso, o diretor tira interpretações ótimas do elenco todo, aproveitando bem a química entre Nicole Kidman e Javier Bardem, e imagina um final pra acusação contra Lucille que consegue ser surpreendente. Outra tática positiva foi a inclusão dos depoimentos reais de três profissionais daquela época. O misto de documentário com filme de ficção é bom pra conectar a plateia que não faz ideia de quem foi Lucille Ball ou o que ela representou, e cria uma dinâmica interessante.
Mesmo com o drama atenuado, o que vemos nessa apresentação da família Ricardo tem conclusão sóbria: por mais famosa, rica ou elegante que o amor na frente das câmeras pareça, é longe delas que famosos e anônimos se igualam na frustração de não ter um lar.
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Documentário “de mentirinha”, certo? porque são atores que interpretam os depoimentos, não os próprios roteiristas e produtores. :)