Lembro-me de várias vezes na minha vida onde fiquei pensando: qual será o melhor jeito de resolver esse problema? Como uso minhas experiências e talentos para contribuir em uma situação profissional, educacional e pessoal? Tinha muito esse dilema, especialmente quando frequentava o Pueri Domus, escola em São Paulo em que estudei por quase 16 anos. Em projetos e lições onde trabalhava em grupo com outros colegas, sempre me questionava: tomaria eu o espaço de um grande inventor, jogando ideias para o brainstorming, de um líder astuto capaz de discernir as melhores opções? Ou ficaria nas operações, resolvendo problemas com eficiência e foco, melhorando assim os resultados do sistema como um todo?
Creio eu que em algum desses, eu me encaixaria. Mas o primeiro desafio foi descobrir onde exatamente moravam meus talentos e funções dentro de um suposto conjunto maior. E alguns anos depois, quando comecei minha carreira em Branding, tudo isso ficou muito claro. Aliás, não só ficou claro, como foi uma motivação para entender mais sobre os “working geniuses” que eu e meus colegas de trabalho carregavam dentro de si. Working geniuses ou gênios trabalhadores que, volta e meia, dizem tanto sobre a natureza do Branding quanto sobre a capacidade única de cada um. Lógico, cada um tem sim sua capacidade e forma mais produtiva de operar que serve, de fato, para o crescimento de uma empresa. Mas é o conjunto desses ‘posicionamentos comportamentais e profissionais’ que ajudam a criar um trabalho, uma organização de Branding ou de qualquer setor, saudável e insubstituível na nossa sociedade.
Bom, tudo isso para falar da minha inspiração para esse artigo, que veio quando a Cecília Troiano, Diretora Geral da TroianoBranding, apresentou a nós um livro recente publicado chamado “The 6 types of working genius: a better way to understand your gifts, your frustrations, and your team”, de Patrick Lencioni.
De acordo com Lencioni, existem 6 tipos principais de working geniuses, ou gênios trabalhadores: Wonder, Invention, Discernment, Galvanizing, Enablement, e Tenacity (Encantamento, Invenção, Discernimento, Galvanização, Capacitação e Tenacidade). Vale notar que o autor usa o termo gênio não sua acepção literal mas sim como estilos distintos de operar no campo profissional. Cada um destes gênios tem suas próprias características e territórios de valor. Os que se encaixam com Enablement (Capacitação), por exemplo, são aqueles que têm um dom natural para encorajar e dar assistência, para que ideias e projetos sigam indo para frente. Já os que se identificam mais com Invention (Invenção), gostam de criar novas ideias e soluções, gostam de ser inovadores neste sentido. Agora parem e pensem: qual deles você acha que se encaixaria melhor com seus próprios talentos e comportamentos?
Para tirar o suspense (mais meu do que seu, caro leitor), sempre me identifiquei muito com o tipo Wonder (Encantamento). Gosto de viver no mundo das nuvens. Sou um tipo de cloud sucker, aquele que já se sente confortável em uma altitude elevada e não depende tanto do oxigênio para sobreviver ou para descer a montanha e chegar a níveis mais terrenos. Compartilho esse sentimento com algumas pessoas, que são grandes xerpas, como os povos que habitam as regiões montanhosas do Himalaia, adaptado às mais altas altitudes teóricas e ideológicas.
Fizemos um teste semana passada em um dos debates da TroianoBranding para calcular a quantidade de pessoas em cada categoria de geniuses. O resultado foi interessante: muitas pessoas na categoria de criatividade (Encantamento e Invenção), uma boa quantidade de pessoas mais ‘hands on’ que se identificam ou com Enablement ou com Tenacity (Capacitação e Tenacidade), e só algumas pessoas no meio, que escolheram Discernment e Galvanizing (Discernimento e Galvanização). Ou seja, não adianta ter só um Anton Chekhov ou Arquimedes sem um Elon Musk ou um Jeff Bezos. Empresas e organizações precisam dessa dualidade, dessa multiplicidade, para a realização de projetos e resultados que realmente causam um impacto. A junção da genialidade mesosférica de Arquimedes com o savoir-faire troposférico de Bezos é o embrião para um fruto incrivelmente único e necessário nesse nosso mundo cada vez mais líquido, escasso de insights.
O que falo aqui é algo para ser pensado com cuidado. Teriam as grandes pirâmides de Guizé sido feitas exclusivamente por acólitos tenazes, capazes de se motivarem para alcançar resultados surpreendentes, ou será que foram movidas por inspirações de pessoas, entidades encantadas, que se apaixonaram por uma ideia ou possibilidade? E as pedras de Stonehenge, na Inglaterra, é possível que tenham sido fruto do trabalho coletivo de capacitadores que se motivaram uns aos outros para construir algo igualmente misterioso e fascinante?
Posso lhe dizer que, em qualquer projeto, seja este de uma natureza comercial ou puramente analítica, precisamos das forças e capacidades de cada gênio. E não só isso, cada gênio precisa usar seus skills específicos para trabalhar em conjunto, para facilitar um teamwork proativo dentro de uma empresa, como Lencioni bem diz.
“Certifique-se de que as pessoas no topo estejam trabalhando juntas e que não haja divisões de trabalho. Não tenha pessoas trabalhando em silos; tenha os trabalhando em toda a equipe.”
Além disso, as ideias de Lencioni servem para nos acalmar, mais do que para ditar uma direção certeira no caminho que deveríamos seguir. Falo isso por duas razões: a primeira, porque, se pensarmos com calma, a possibilidade de aceitar a realidade de que existem diferentes tipos de geniuses é confortante e induz confiança no indivíduo. Todos nós somos diferentes e não há um ‘tipo’ predisposto para se tornar um gênio. Ainda mais, nenhum tipo é melhor ou superior do que outros. Ainda bem que nem todos nós temos um QI acima de 150. Podemos ser gênios únicos, cada um diferente do outro, com seus próprios talentos e vocações, cada um pronto para contribuir em projetos de uma forma produtiva e importante.
A segunda razão, que já mencionei anteriormente, mas que merece ser dita novamente, é que, em Branding e em outras áreas, não se pode contar só com um tipo de profissional, de habilidade. Sem o encantamento, não há inspiração e direção, e sem os pés no chão, não há progresso e resultados. Negócios precisam dessa diversidade para alcançar novas metas e se transformar, crescer, beneficiar clientes e colaboradores. Só disso podem nascer soluções criativas e marcantes, que fogem de trabalhos indistintos.
Gosto muito do filósofo Hegel, figura importante no movimento Idealista e na filosofia do século 19. Sua teoria de dialética da tese/antítese/síntese permeia esse sentimento dos working geniuses. A tese/antítese/síntese é a possibilidade de criar novas soluções a partir de uma dissonância de ideias e argumentos que irão, em um certo ponto, se encaixar e fluir em conjunto para chegar a uma síntese, uma resolução mais completa e evoluída. E não é assim também entre diferentes working geniuses? O que acontece quando um encantado se encontra com um tenaz? Existe movimento, sim, mas também tensão e discussões! Mas só assim nasce uma ideia nova, que passou pelo filtro desses dois indivíduos e pegou o melhor de seus talentos e experiências. É essa diversidade de gênios e intelectos que acaba criando soluções a partir de conflitos de interesse, mas interesses que nunca são desperdiçados e rejeitados! Em outras palavras, a beleza dos working geniuses, que Lencioni nos ensina, também é uma maneira de produzir sínteses (e trabalhos profissionais) que cobrem territórios inteligentes e completos.
Bom, pessoal, o recado é este: não se afobem, porque de geniuses, não tem falta! O que precisamos levar, quando trabalhamos sozinhos, com outros é que a diversidade de pensamentos e perspectivas tem a capacidade de tornar uma simples ideia em um grande insight. Eu sou um gênio, e tenho certeza de que você é um também. Então, bora trabalhar!