As nozes do futuro

Em Austin, a Sixth Street, conhecida pelos brasileiros como “A Sexta”, era anteriormente chamada de Rua Pecan, que segundo a convenção da cidade, nomeava as ruas de leste a oeste com nomes de árvores. Pecan, por exemplo, é uma  árvore nativa da América do Norte que produz a noz-pecã. Já as ruas de norte a sul são nomes de rios do Texas e esta última convenção ainda permanece em vigor até hoje. A rua Brazos, por exemplo, é um dos maiores rios do Texas.

E é em Austin que acontece há 37 anos o SXSW, maior festival de inovação e criatividade do mundo. Todos os anos, milhares de pessoas se reúnem para discutir o futuro da humanidade e como as tecnologias vão afetar positiva e negativamente suas vidas. Nesta edição, é possível observar o crescimento acelerado de AI, o que permite que as experiências de XR/VR se tornem cada vez mais reais. Os óculos virtuais da Meta Quest e Apple Vision Pro, apesar de pesados e ainda desconfortáveis, te transportam para outra realidade cada vez mais real.

Na exposição de XR, uma das obras de maior destaque foi Songs for a Passerby. Uma experiência sensorial de tirar o fôlego que sugere a melancólica pergunta: sou eu que estou passando pelos momentos, ou são os momentos que estão passando por mim? 

Outra obra de destaque, que impressiona pela qualidade, é a Astra.  Esta Experiência de Realidade Mista transporta você da Terra para os cantos mais profundos do Cosmos, enquanto embarca em uma busca para descobrir os principais ingredientes da vida no Universo. Astra faz você pisar em planetas e suas luas escuras em busca de mundos futuros e seres distantes.

Para quem acompanha o festival há muitas edições (é minha oitava participação neste ano), chama atenção a qualidade das realidades que estamos criando no mundo virtual. Se você acha que a tela do seu celular tem o poder de te tirar do mundo real, um óculos te teletransporta para outro mundo de forma assustadora. Um mundo onde você, na maioria das vezes, está sozinho, lidando com sua réplica ou com outras pessoas digitais.

Vivências como esta me fazem pensar  profundamente e sentir que estamos perdendo nossas conexões com a natureza. Nós somos filhos da mãe terra, nós somos bichos. Como vamos viver sem o contato com os rios e as árvores? Uma simples troca de nome de rua, que transforma nome de árvore para número, já é capaz de nos fazer esquecer da natureza, agora imagina uma realidade virtual que o presente e o futuro nos reserva? 

Me pergunto ainda por que explorar outros planetas em busca de vida, se estamos destruindo a vida na Terra? Não por acaso, o que se exalta durante o SXSW são os encontros e as conexões de pessoas reais. Que seja eterno enquanto dure. 

*Por Wal Flor, CEO da Flow.Ers, um hub de soluções para regenerar a vida no planeta, de forma mais criativa e inovadora. Há 20 anos inspira organizações a promoverem impacto positivo na sociedade e no meio ambiente em larga escala. Já realizou mais de 200 projetos desde então para marcas como Natura, Uber, Afya, Cogna, Embraer, XP, Vivo, Ambev, entre outros. Em 2024, será mentora do SXSW na track Government & Civic Engagement e mediadora na São Paulo Experience House. Idealizadora do Programa Brazil Flow, desde 2018 leva marcas para o palco do festival e este ano está responsável novamente pela participação da Natura no festival. 

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