Eu adoro jogo triple A. Achei Baldur’s Gate 3 uma obra de arte. Jogo cada lançamento da From Software com empolgação genuína (sempre dando preferência para o querido Bloodborne, obviamente). Perdi a conta das vezes que peguei The Last of Us para matar saudade e acabei jogando umas quatro horas sem perceber. Os últimos God of War foram muito marcantes, sobretudo, por me conectarem com o Vince que jogou o primeiro game da série há muitos anos. Enfim, vibro com essas megaproduções. No entanto, lá no meu íntimo, eu gosto mesmo é um indie game experimental.
Não quer dizer que qualquer tranqueira independente me seduz. Pelo contrário, vou buscando – dentro das minhas preferências sombrias – aqueles títulos que trazem experiências que causam a mais pura estranheza ou a saudável infamiliaridade freudiana. Quase como experienciar um filme do David Lynch, mas de maneira interativa.
Partindo disso, e fazendo uma reflexão, elaborei uma listinha com algumas esquisitices lúdicas que me deram bons momentos de diversão. Os games a seguir não estão em uma ordem de preferência, mas estão organizados conforme eu fui me lembrando deles. IMPORTANTE: são altas as chances de você detestar esses games, então, assista aos trailers com calma antes de comprar (não quero ninguém me xingando depois, hein?).
Vamos pra lista!
Os 10 jogos esquisitos
1. PARATOPIC
Bom, esse aqui é para começar com chave de ouro. Paratopic é uma história não-linear sobre um crime que trabalha a ideia de “paratopia” que, basicamente, é como a narrativas podem (potencialmente) criar mundos paralelos e questionar os limites do real. Em Paratopic você nunca sabe quem é você, a razão pela qual você está investigando um mistério ou se está fazendo escolhas certas ou não. A comunidade indie fala que é um game bem ao estilo dos filmes do David Lynch e que merece ser jogado, discutido, analisado e pensado sob os preceitos da ideia de paratopia. Com um adendo extra que é o visual bizarríssimo.
2. FELVIDEK
Bom, hibridizações culturais são sempre pitorescas. Felvidek é um game estilo JRPG (RPG japonês) situado na Eslováquia do século 15; sim, é isso mesmo: um game estilo RPG japonês só que com toques eslovacos. A personagem principal é Pavol, um cavaleiro alcoólatra que vai juntando outros andarilhos decadentes para combater monstros. A parte de combate é bem divertida e versátil. Felvidek tem aquele visual de jogo de PC dos anos 1980, só que com a sofisticação de ser moldado em engine 3D. No site do game no itch.io você consegue apoiar o projeto.
3. WORLD OF HORROR
Este game se intitula como uma mistura de horrores cósmicos da literatura de H.P. Lovecraft com o sobrenatural dos quadrinhos do Junji Ito. World of Horror recria esteticamente e mecanimente um point and click dos anos 1980. A interface do game, no entanto, é confusa. Eu joguei no Nintendo Switch pra completar e, confesso, penei para entender como operar as múltiplas funções – o combate, sobretudo, é bem complicado. Mas, no geral, tem uma trama narrativa ultra esquisita e mistura fantasmas assassinas com tesouras assombrando colégios japoneses com investigadores paranormais realizando rituais de cultistas esquecidos.
4. NORTH
Eu já falei do North em um post aqui do UoD em 2018. Recentemente eu peguei para jogar novamente e dá pra matar em meia horinha de gameplay. North é a narrativa metafórica sobre um imigrante indo morar em outro local. O cenário é de uma cidade estéril e abandonada. A residência que você habita possui seres sem rosto que fitam o nada e produzem sons estranhos. É bem psicodélico, sobretudo no cenário do templo.
5. WHO’S LILA
A melhor parte de dar aula em faculdade de Jogos Digitais é que toda aula eu recebo indicações de games dos meus estudantes. Sabendo que eu curto as famigeradas estranhezas lúdicas, este aqui me foi indicado por um aluno da PUC. Who’s Lila é um game de mistério que em vez de escolher opções de diálogo, você tem controle total sobre a expressão facial do personagem – e é assim que você precisa interagir com os NPCs e tentar esboçar reações para dar continuidade para a história. É bizarro e tem uma IA matreira por trás para fazer a parada funcionar. Outro ponto legal do game: ele tem uns desdobramentos transmidiáticos bem divertidos para você sair do game e acessar redes sociais (de verdade).
6. ISOLOMUS
Bom, preciso ser honesto: Isolomus não é um game lá muito divertido. No entanto, ele é uma experiência estética interessantíssima por ser todo feito em clay motion (aquele tipo de animação stop motion com massinha). Ele é todo produzido por um russo chamado Michael Rfdshir e tem um gameplay de uns 15 minutos. É grotesco e sombrio, mas não é óbvio na narrativa. Se for jogar, taca um fone de ouvido, aumenta o volume e abra sua mente para uma doideira forte.
7. FATUM BETULA
Horror oriental, estilo de arte de Play 1 em plataformas atuais e um design de criaturas extremamente doentio. Fatum Betula foi uma bela surpresa que peguei numa promoção dessas que colocam jogos por um dólar. Baixei esperando nada, mas fui me envolvendo com os puzzles e com a maluquice em primeira pessoa de ir encontrando seres abissais em um cenário idílico. Gameplay rápido e sound design de dar um suave medinho.
8. THE IMMORTAL
Acho que, até agora, os títulos mencionados são de uns seis ou sete anos pra cá. Mas essa lista não estaria completa se eu não colocasse um dos games que mais mexeu com a minha cabeça no distante ano de 1990: The Immortal do saudoso Mega Drive da Sega. O game, assinado pela Eletronic Arts, hoje é um passeio no parque comparado com a violência de jogos atuais. Porém, na época, mexeu demais comigo. Primeiro porque eu estava mergulhando no universo do RPG Dungeons & Dragons e segundo porque ele oferecia uma opção de combate que você, literalmente, trucidava e eviscerava goblins e trolls em animações (para a época) bem realistas. O game era famoso por ser difícil e precisar de uns guias de gameplay de revistas (de papel) para terminar. Até hoje eu acho ele de uma profundidade de estranheza brutal.
9. TAMASHII
Opa! Não pode faltar game brazuca nessa lista também. O nono item da nossa lista de estranhezas vem com o plataforma-puzzle Tamashii – criado e desenvolvido pelo game designer Vikintor. Não se iluda com o fato do game ser plataforma, ele é ultra estranho e com cenários que homenageiam o trabalho de H.R.Giger em pixels. A narrativa é sobre religião, niilismo e predestinação. Tem como base jogos japoneses das antigas, mas com uma pegada atual muito legal em relação às mecânicas de resolução de puzzle. Vamos prestigiar a indústria de horror lúdico nacional, galera.
10. DIE EXORZISTEN
Pra fechar, vamos trazer um card game para nossa lista de estranhezas lúdicas. Obviamente não poderia faltar um joguinho analógico para compor este primoroso material. Die Exorzisten, como você deve ter percebido pelo nome, é um card game sobre exorcismo. Acho que é um dos jogos mais estranhos da minha coleção. Comprei em uma viagem que fiz para a Alemanha em 2011. Ele tem uma arte bem tosca, mas que – ao mesmo tempo – tem uma cara de aterrorizante. É um jogo de cartas feito em baixíssima quantidade, inclusive. Sempre que eu joguei, me imaginei conjurando alguma coisa ruim com o game – tipo naqueles filmes de terror vagabundos. Mas é mais uma pérola do estranhamento lúdico.