O Último Filme da Pixar


“Nos primeiros dias na Pixar, antes de entender o invisível funcionamento de uma boa história, éramos só um grupo de caras seguindo nossos instintos.” – Andrew Stanton

Em uma tarde intensa na Pixar, Andrew Stanton lê uma cena de “Procurando Nemo” onde Marlin encontra Dory pela primeira vez.

A sala está tensa; John Lasseter sente que falta algo crucial.

“Isso não está funcionando”, diz Lasseter, com uma preocupação palpável na voz.

Pete Docter, com seu olhar introspectivo, sugere que a perda de memória de Dory não seja apenas cômica, mas um reflexo de sua luta interna e sua resiliência.

Brad Bird, sempre incisivo, propõe uma cena onde Dory, em um raro momento de clareza, revela um fragmento de seu passado, criando um laço emocional inesperado com Marlin.

A equipe está em suspenso, suas ideias colidindo e se mesclando em uma dança criativa de antecipação e incerteza.

Enquanto debatem, risadas nervosas e silêncios pesados se alternam, com cada sugestão adicionando novas camadas de profundidade à história.

No ápice da discussão, Stanton percebe a chave para a autenticidade da relação entre Marlin e Dory: a fragilidade de suas memórias e a força de sua amizade.

Essa cena fictícia revela a essência do Brain Trust da Pixar, uma coalizão de pessoas onde o feedback honesto e a colaboração aberta transformam boas ideias em narrativas poderosas.

A estratégia não apenas aperfeiçoa os aspectos técnicos dos filmes, mas infunde uma humanidade tangível, criando histórias que ressoam profundamente com o público.

O Brain Trust é a alma dos filmes da Pixar, garantindo que cada história toque em temas universais de perda, amizade e coragem, conectando-se de maneira poderosa e duradoura com as experiências humanas.

“Se Divertida Mente 2 não for bem-sucedido, teremos que repensar ‘radicalmente’ nossos negócios” – Pete Docter

Apesar de seu histórico de sucessos, a Pixar enfrenta desafios significativos, incluindo a saturação do mercado de animação, mudanças nas preferências do público e a pressão para inovar continuamente.

A Pixar está tentando se adaptar a este cenário dinâmico e incerto, equilibrando a preservação de sua identidade criativa com a necessidade de se reinventar para continuar relevante na indústria cinematográfica.

Pete Docter está ciente da alta expectativa em torno de Divertida-Mente 2.

Ingressando na Pixar aos 21 anos, Docter rapidamente ascendeu na empresa, contribuindo para clássicos como Toy Story e dirigindo sucessos como Up Altas Aventuras, Monstros SA, e o original Divertida Mente, que se tornou o filme não-sequencial mais lucrativo da Pixar.

Em 2018, ele foi nomeado Diretor Criativo da Pixar, acumulando nove indicações ao Oscar e três vitórias.

Nos últimos anos, no entanto, a Pixar tem enfrentado uma fase de dificuldades comerciais e críticas.

Filmes como Turning Red e Luca, baseados em grande parte nas infâncias de seus criadores, não conseguiram ressoar com o público da mesma forma que histórias mais universais como Toy Story, Os Incríveis, Vida de Inseto e Procurando Nemo.

Docter destaca que é cada vez mais desafiador criar ideias originais que atraiam um amplo público, após duas décadas de existência do estúdio.

Muitas pessoas dizem:

– Eu realmente achava que os brinquedos ganhavam vida quando eu não estava no quarto.

– Eu realmente acreditava que havia monstros no meu armário.

Para Docter está cada vez mais difícil encontrar boas ideias para a criação de narrativas realmente cativantes.

Será que os dias da Pixar estão contados?

Será que esgotamos todas as possibilidades criativas no universo do storytelling?

Eu acho que não!

Amigo estou aqui!

Toy Story não é sobre brinquedos falantes, mas sobre a jornada de relacionamentos improváveis e como a combinação de talentos e habilidades, aparentemente simples, podem forjar equipes incríveis.

Isso se repete em Vida de Inseto, Monstros SA, Procurando Nemo, Os Incríveis, Ratatouille, Wall-E, UP Altas aventuras, Divertidamente, etc.

Nunca é apenas sobre o herói, mas sobre quem escolhe ir junto.

Começam de forma atrapalhada, mas, com o tempo, aprendem a conviver e tirar vantagem da combinação de suas forças, a despeito de suas fragilidades, e, às vezes, por causa delas.

Para mim, o segredo dos filmes da Pixar vem do reflexo do processo criativo empenhado para criá-los.

Sim, eu sei, é redundante! Mas, vamos pensar juntos.

Teoria do Espelho

Os filmes mais emblemáticos e cativantes da Pixar tiram sua força da combinação das habilidades de cada personagem para formar uma aliança improvável contra os perigos que enfrentam, refletindo a própria essência da estratégia do Brain Trust que a Pixar usa para criá-los.

Essa dinâmica não é apenas um elemento de trama, mas um espelho das práticas colaborativas da própria Pixar.

No Brain Trust, os criadores unem suas diversas perspectivas e talentos para moldar histórias complexas e emocionantes, garantindo que cada filme ressoe com autenticidade e profundidade.

Diversidade de Personagens e Habilidades

Nos filmes da Pixar, personagens com habilidades e personalidades distintas são forçados a trabalhar juntos para superar desafios.

Essa diversidade é crucial, pois cada personagem traz algo único para a equipe.

Já reparou na quantidade de interações colaborativas existem em Procurando Nemo, e como o processo de confiança de Marlin precisou evoluir?

Da mesma forma, o Brain Trust da Pixar é composto por indivíduos de diferentes disciplinas e experiências, garantindo uma rica troca de ideias e soluções inovadoras.

Alianças Improváveis

Muitas vezes, os protagonistas formam alianças com personagens que inicialmente parecem incompatíveis ou improváveis.

Em “Os Incríveis”, a família Pêra deve superar suas diferenças internas e também unir suas forças com o Frozone para conseguir derrotar o vilão Síndrome.

Essas alianças refletem a realidade do Brain Trust, onde colaborações inesperadas podem gerar soluções criativas.

Colaboração que Transforma

A jornada do herói nos filmes da Pixar é, em grande parte, uma transformação que ocorre através da colaboração e do aprendizado mútuo.

Em “Up Altas Aventuras”, Carl Fredricksen se transforma através de sua amizade com Russell, o cão Dug e o pássaro exótico Kevin.

Essa transformação é um reflexo do processo do Brain Trust, onde ideias são constantemente refinadas e aprimoradas através do feedback honesto e construtivo.

Humanidade e Conexão Emocional

A combinação das habilidades e experiências dos personagens leva a momentos de grande conexão emocional.

Esses momentos são o que torna os filmes da Pixar tão memoráveis e ressonantes.

No Brain Trust, a troca de ideias e a colaboração profunda garantem que os filmes não sejam apenas tecnicamente brilhantes, mas também emocionalmente autênticos.

Resiliência e Inovação

A resiliência dos personagens em face do perigo espelha a perseverança do Brain Trust em buscar a melhor versão possível de uma história.

A inovação surge dessa resiliência, tanto nas tramas dos filmes quanto nos processos criativos da Pixar.

Em “Ratatouille”, a improvável parceria entre Remy e Linguini leva não só à inovação culinária mas cria uma revolução na forma de se perceber o talento das pessoas, a despeito de suas origens.

Qualquer um pode cozinhar, mas só os destemidos conhecem a grandeza.

O Reflexo da Realidade Humana

Os desafios e triunfos dos personagens da Pixar são microcosmos das experiências humanas.

Eles refletem a realidade de que, na vida, enfrentamos obstáculos que só podem ser superados através da colaboração e da união de forças diversas.

O Brain Trust encapsula essa realidade, demonstrando que o verdadeiro sucesso criativo é uma construção coletiva.

De acordo com a Teoria do Espelho, podemos afirmar que os filmes da Pixar são um reflexo direto das práticas do seu Brain Trust.

Através da combinação de habilidades diversas, alianças improváveis e uma jornada colaborativa, os filmes alcançam uma profundidade e ressonância emocional que conecta com o público.

Esta sinergia entre narrativa e processo criativo é a essência do sucesso da Pixar, mostrando que o poder da colaboração não só molda histórias inesquecíveis, mas também espelha as experiências e desafios da própria vida.

Se agora, a empresa enfrenta dificuldades talvez seja porque tenha mudado a forma de tirar proveito do Brain Trust.

Pete Docter, eu não sei o que está acontecendo, mas acredito que histórias cativantes revelam pessoas comuns (ou brinquedos que falam), em jornadas ao lado de seus amigos, enquanto evoluem combinando suas habilidades para vencer desafios.

Eu não sou religioso, mas, há 2 mil anos, um cara na palestina e seus 12 amigos fizeram isso e parece que, até hoje, tem dado certo.

Outro cara, há muito tempo e numa galáxia distante, fez a mesma coisa.

Shrek.

Kung Fu Panda.

“E.T.c”

Sobre o espelho não se trata do que se vê, mas o que sentimos.

O reflexo é só uma mensagem; o que conta é o sentimento.

O Brain Trust da Pixar, de muitas formas, sempre esteve presente, direta e indiretamente, em cada produto final da empresa.

Se os resultados atuais não refletem mais o sucesso do passado, talvez seja porque, de alguma forma, o reflexo esteja embaçado.

Quem sou eu para dizer o que a Pixar deve fazer.

Sou apenas um fã que ama profundamente as histórias que ela conta.

E gostaria muito de continuar a ver o Luxo Jr. quicando na tela, me dando aquele friozinho na barriga, na expectativa de me ver, de alguma forma, refletido no filme que estou prestes a assistir.

Não apenas gostamos de histórias, mas amamos aquelas que nos fazem sonhar depois de experimentá-las.

A Teoria do Espelho faz sentido para você?

Você se viu refletido nela de alguma forma?

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