Você já ouviu falar no Pascal?
Blaise Pascal foi um francês genial, que viveu apenas 39 anos, no século XVII. Aos 16 anos, ele já havia desenvolvido um teorema geométrico. Aos 19, inventou uma calculadora mecânica. Suas contribuições para a física, matemática e probabilidade foram revolucionárias.
Mas o que torna Pascal verdadeiramente fascinante é como suas ideias transcenderam as ciências naturais.
Apesar dele ter vivido pouco (talvez uma alma velha) filosofava e redigia pensamentos sobre a natureza humana, compilados postumamente na obra “Pensées”, que antecipou muitos conceitos da psicologia moderna.
Entre suas reflexões mais provocativas, uma se destaca:
“Todos os problemas da humanidade derivam da incapacidade do homem de ficar quieto, sozinho, em um quarto.”
Esta afirmação pode parecer simplória, mas carrega uma profunda verdade sobre nossa relação com a solidão e o tédio.
Pascal argumentava que tememos o silêncio da existência. E, para evitá-lo, buscamos constantemente as distrações. Hoje, mais do que nunca, essa observação ressoa. Vivemos em uma era de conectividade sem precedentes. A tecnologia nos permite estar em contato constante com o mundo.
De acordo com um estudo da GlobalWebIndex, o usuário médio de internet passa cerca de 6 horas e 43 minutos online diariamente. Mas essa conectividade tem um preço. Pesquisas recentes mostram que, apesar de estarmos mais “conectados” do que nunca, os níveis de solidão estão aumentando.
Outro estudo, da Cigna, revelou que 61% dos americanos se sentem sozinhos, um aumento significativo em relação a anos anteriores.
Por que isso acontece?
Acho que Pascal talvez sugeriria que perdemos a intimidade com a solidão.
Estamos tão acostumados a preencher cada momento com estímulos externos que ficamos desconfortáveis com nossos próprios pensamentos. Nos falta intimidade com nós mesmos, olha que coisa interessante de reparar. O tédio, que muitos de nós tentamos evitar a todo custo, pode na verdade ser uma porta para o autoconhecimento e a criatividade.
A própria neurociência mostra que, quando não estamos focados em tarefas externas, nosso cérebro ativa o “modo padrão”, crucial para a consolidação de memórias, reflexões e planejamentos.
Então, como podemos aplicar a sabedoria de Pascal em nossas vidas modernas?
A resposta é simples, mas desafiadora.
Precisamos reaprender a ficar sozinhos com nossos pensamentos. Fácil falar. Difícil colocar em prática.
Experimente dedicar alguns minutos por dia à solidão intencional. Desligue o celular, feche o laptop e simplesmente sente-se em silêncio. No início, pode ser desconfortável. Você pode sentir uma urgência de checar as redes sociais ou ligar a TV (exemplo de velho, ninguém mais assite TV!). Enfim, você pode ficar com aquela vontade de ver um videozinho no YouTube ou no TikTok.
Resista a esse impulso. Aaaaarrrghhh… dureza!!! Aproveite pra perceber como essas coisas mandam em você – e como deveria ser o contrário.
Porém, com o tempo, você pode descobrir que esses momentos de solidão se tornam preciosos. Você vai ganhar maois oportunidades de reflexão além da hora do banho e dos minutos que antecedem seu sono. Que por sinal, você já deve ter percbido como são preciosos e produtivos. Eles oferecem uma oportunidade de processar suas experiências, refletir sobre seus valores e objetivos, e reconectar-se consigo mesmo.
Lembre-se, a solidão não é o mesmo que ser solitário. É um estado de conexão interna que pode, paradoxalmente, nos ajudar a nos conectar melhor com os outros e com o mundo ao nosso redor.
Como Pascal sabiamente observou séculos atrás, aprender a estar confortável na solidão pode ser a chave para resolver muitos dos problemas que enfrentamos, tanto individualmente quanto como sociedade. Como costumo dizer, o problema do mundo atual é que tem muito microfone disponível por aí. Muita gente emitindo.
Tá na hora de fazer um SHHHHÍU!!! pra essa turma toda e mostrar que o seu cérebro ainda é seu e que a sua habilidade de raciocinar sobre o mundo e sobre a vida ainda é prerrogativa sua.
Pare.
Silencie.
Pense.
Desfrute.